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O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR)
O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR)| Foto:

Talvez você não saiba, mas José Dirceu tem um filho que é deputado. Talvez você não se lembre quem é José Dirceu, então dê um pulo no Google quando não tiver ninguém olhando – para não ser acusado de formação de quadrilha. E agora que você já sabe de tudo, veja a cena: o ministro da Economia, com sua equipe de padrão internacional, liderando a reforma mais esperada do país e sendo interpelado por Dirceu Júnior.

Interpelação não é o termo exato – sugere uma dignidade que a cena não ostentava. Pegadinha seria mais próximo do sentido da coisa, já que molecagem está em desuso. Mostrando que desinibição é genética, o filho do herói sem tornozeleira saltou na ribalta para uma repreensão moral à autoridade econômica – e se você rir agora estragará o final da piada, que é de chorar.

Acaba assim: Dirceuzinho fez malcriação, bagunçou a sala, forçou a interrupção da audiência mais aguardada do ano e obteve, ato contínuo, ampla repercussão nas redes e na imprensa tradicional até sobre a existência de um fã clube para exaltá-lo – com direito a muitas fotografias e sugestões de que se trata de um galã. Haddad já era.

Por mais que tenha sido lançado à Presidência dentro da cadeia, o poste do Lula não tem o mesmo charme. Em seus perfis na internet, o filho do coordenador do maior assalto da história do país aparece dando voltas ao mundo – exibindo a quem quiser ver as maravilhas que uma família bem-sucedida pode desfrutar. O petróleo é nosso (deles).

Pois esse personagem carismático e cativante foi lá botar o dedo na cara do Paulo Guedes. O acusou de ser mau com os pobres e bonzinho com os poderosos. De maldade com o povo ele entende, considerando-se que a simpática gangue do seu pai presenteou os brasileiros com a maior recessão de sua história. De adulação e conchavo com os poderosos o jovem herdeiro do petrolão também pode falar de cátedra – basta ver o clube de empreiteiras que seu pai montou para livrar o país do excesso de dinheiro.

Mesmo com esse festival de virtudes, sendo o Brasil um adorável jardim de infância, o que consagrou Dirceu Jr. foi a sua terminologia pré-escolar: Guedes virou tigrão contra os fracos e tchuchuca com os fortes. O menino sabe o que diz. Poderia até ter ilustrado seu postulado contando como se faz para que a corte máxima do país seja tchuchuca com papai – condenado a mais de 30 anos de prisão e flanando à solta por aí.

Um ponto importante para a decisão do STF de manter José Dirceu fora da cadeia foi uma divergência sobre quantos milhões de reais o condenado terá que devolver aos cofres públicos. Faz todo o sentido – e a lei é claríssima: não se pode privar um ladrão de torrar à vontade o dinheiro roubado só porque ainda não se sabe exatamente quanto da fortuna amealhada com o suor dos outros vai sobrar para os felizes herdeiros.

O Supremo não vai deixar tigrão nenhum tirar o brinquedo do Zequinha.

Já o Brasil, sempre sensível aos guerreiros do povo e ao sagrado direito dos seus filhos de brincar com a cara da população, permanece na trincheira contra o fascismo imaginário. Esse sim é terrível – e deu para ver nos olhos faiscantes de Guedes a ira do tinhoso. Aconteceu a mesmíssima coisa na época de FHC – que hoje está no camarote vip dos democratas de auditório, mas já foi o monstro neoliberal mancomunado com os filhotes da ditadura. O golpe fascista na ocasião se chamava Plano Real – e vinha junto com reformas do estado, inclusive da previdência. Mesmo truque.

Felizmente os brasileiros têm guardiões da democracia como Dirceu, Dirceuzinho, Gleisi, Molon, Freixo, Maria do Rosário e toda a brigada Lula Livre para lutar contra esses fascistas que querem indisfarçavelmente engordar o povo – provavelmente para depois maltratá-lo a golpes de gordofobia.

Não passarão!

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