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Operação anistia-ladrão
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O filho do vice-presidente da República foi promovido à assessoria da presidência do Banco do Brasil. Lá vamos nós de novo, disseram os brasileiros.

Vamos pra onde?

Vamos, em primeiro lugar, a um esclarecimento básico: o debate político no Brasil acabou. O que existe é uma feira de narcisismos mal resolvidos, uma ânsia generalizada por vaticínios fulminantes e – principalmente – uma neurose patrulheira que produz um justiceiro de butique a cada segundo.

Dito isso, o caso do filho do general Mourão ensejou uma formidável feira retórica onde se viu de tudo, menos o problema em si.

Quando o vice-presidente tomou posse discursando quase aos gritos, teve gente confundindo isso com demonstração de força. Ok, cada um usa o tom de voz que lhe apetece. Mas certos arroubos podem ser sintomáticos – e ali estava, ao menos como símbolo, uma caricatura de prepotência (que não tem nada a ver com força).

No momento em que a chegada de Mourão ao poder coincide com a promoção de seu filho numa instituição pública, significando um salto de mais de 100% na remuneração, a hipótese de prepotência – e exorbitância das prerrogativas públicas – se reforça. Não é nada disso? Quis só discursar com energia e o filho merecia a promoção que veio exatamente quando o pai assumiu o poder?

Ok, excelência, mas ninguém vai acreditar nisso. E só há uma forma de rechaçar a suspeição geral: contrição e severidade. Ou seja, abrir mão da promoção.

O caso Mourão é isso. A importância dele é essa. Mas é claro que a fanfarra nacional transformou-o em outra coisa.

O texto corrente é o seguinte: se elegeram contra o aparelhamento do PT e fazem a mesma coisa.

Não é uma maravilha? É aquela história: quem é você para criticar o Lula se já avançou um sinal vermelho?

Até os que querem acusar Mourão de nepotismo são engolfados pela mistificação oportunista dominante, ansiosa por sentenciar que “todo mundo que chega lá mete a mão” – a bravata dos sonhos de todo petista que sonha com a anistia dos maiores ladrões da galáxia.

O que será o governo Bolsonaro não se sabe, porque ele tem duas semanas. O que se sabe, com 100% de certeza, é que a montagem da equipe trouxe técnicos respeitados para postos essenciais – como Banco Central, Tesouro Nacional, BNDES, Petrobras e vários outros loteados pelo PT para perpetrar sua calamidade sem precedentes. Mas o caso do filho do vice mostra que o filme se repete? E que lá vamos nós outra vez?

Bem, então só falta entregar a Petrobras ao crime, prostituir as agências reguladoras (chamem a Erenice e a Rosemary), sequestrar os fundos de pensão, fraudar as contas do Tesouro, transformar o BNDES em michê de açougueiro e anabolizante de ditadura amiga, transformar o presidente em despachante de empreiteira, botar uma coleira no STF e mais um punhado de façanhas cívicas que, se a memória falhar, você encontra no Manual do Covarde.

Ma você está proibido de dizer que não há, até o momento, nenhum sinal no horizonte de que essa odisseia pornográfica esteja se repetindo – ou será acusado de “passar pano”, a expressão mais em voga e mais idiota da atualidade. O linchador de Facebook dirá que você defende o nepotismo.

Como diria o poeta, chega uma hora que não faz a menor diferença burrice ou má-fé.

O debate político acabou, e o país pode passar dias discutindo se o azul é rosa ou se o rosa é azul, dependendo da quantidade de carteiradas politicamente corretas no playground digital. Ninguém ali se importa, verdadeiramente, com nada. É um ambiente tão ameno que a companheira Gleisi Carabina voa numa boa para a posse do facínora que anteontem o PT fingiu não apoiar para tentar eleger o suplente de presidiário.

Então, chega de conversa fiada. Fiquem aí passando panos rosa choque azulados na sua resistência democrática imaginária enquanto quem é de trabalhar, trabalha. Aliás, estão prometendo abrir a caixa preta do BNDES. Aí aqueles 13 anos de panos imundos ficarão cheirando a talco.

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