• Carregando...
Max Weber
Max Weber| Foto:

O sempre general e agora ministro Heleno disse, sem corar, que os valores movimentados e mal (ou não) explicados por Flávio Bolsonaro e grande elenco são irrisórios, perto daqueles do PT.

Procura-se Queiroz, desesperadamente.

Concordo com o ministro que, perto daqueles do PT, esses valores são irrisórios; ainda assim, são o suficiente para derrubar muito ministro coreano ou japonês, noves fora o haraquiri. Tudo depende de onde e o quanto dói o calo da honra, e um clã com três décadas na política não é exatamente uma virgem com três minutos num bordel.

Jair Bolsonaro alicerçou sua campanha em duas colunas: o liberalismo de Paulo Guedes e o moralismo convicto da, aspas, nova política. Se a primeira promessa, aos trancos e barrancos, parece ter chances de ser cumprida, a última já derrapa na realpolitik.

Esse é o efeito colateral indesejável de se fazer campanha ética, como se ética fosse dizer que os outros são bandidos e nós somos mocinhos. FHC é atacado até hoje por ter dito, quando presidente, haver “duas éticas” na vida pública, o que não é nada mais que ecoar a teoria das duas éticas de Max Weber: a “ética da responsabilidade” e a “ética da convicção”.

Na prática política, quase sempre a ética é de certa forma mais esgarçada, menos intransigente, menos preto-no-branco, ou nada acontece; Onyx Lorenzoni que o diga.

Ética de responsabilidade: o governo se esforça por fazer o que precisa ser feito, a despeito de convicções ideológicas profundas, e isso não tem necessariamente a ver com transigências espúrias ou tolerância à corrupção, mas sim com as dificuldades de se governar sem, de alguma maneira, ceder, conceder, negociar, terceirizar culpas.

O problema é que Bolsonaro se elegeu empunhando a bandeira da ética da convicção: ele é assim porque é assim e será sempre assim. Pois o governo nem começou e já temos de lidar com o relaxamento dessas convicções todas, com um providencial é-assim-mas-podia-não-ser, talvez-seja-talvez-não, veja-bem, vamos-devagar-com-o-andor, meu-filho-falou-bobagem, esquece-isso-aí, estatal-estratégica.

Já está na hora da autocrítica, antes que as críticas se avolumem, o Centrão se assanhe, o governo se inviabilize e o fracasso lhe suba à cabeça. O presidente não cairá por isso, nem quero que caia, até porque oposição nenhuma quer ver o general Mourão com a faixa canarinho no peito, mas é bom que desça logo do salto e faça um pouco mais daquilo que tanto cobrou dos outros.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]