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Roberto Bolaños, o "Chaves"
Roberto Bolaños, o "Chaves"| Foto:

É verdade que não tenho nem terei paciência com o governo Bolsonaro. Quem pariu Mateus que o embale. Também é verdade que, a depender das abundantes declarações, Bolsonaro não tem paciência conosco. Estamos quites.

Além disso, bobagens sobre torcer contra ou a favor consistem naquele método científico muito praticado por brasileiros: pensamento mágico. Você faz qualquer escolha a torto e a direito e depois torce para que o resultado seja melhor do que a escolha. De minha parte, não costumo jogar búzios e tarô com a política.

Conheço eleitores bastante inteligentes que votaram em Bolsonaro pelos motivos mais tolos e irresponsáveis: ele é politicamente incorreto, fala disparates, critica a imprensa, mostra a canela para a Miriam Leitão. Ele é o meme encarnado e, em vez de causar repulsa, provoca fascínio.

Pouco importa se o meme de hoje contraria tudo o que o político de ontem dizia ou acreditava; pouco importa se a irresponsabilidade do meme contraria a responsabilidade do presidente. Em tempos de mídias sociais, políticos são clowns, eleitores são audiência e a pátria é reality show. É disso que o povo gosta.

A (minha) paciência com o clã que governa o país é pequena ou nenhuma porque, afinal de contas, são figuras há muito conhecidas. O presidente foi parlamentar durante vinte e sete anos; antes, militar. Ou seja, mais de quarenta anos vivendo à custa do erário sem devolver ao povo qualquer coisa de muito relevante.

Também não ajuda que ele e os filhinhas da Dona Armênia chamem a imprensa, a oposição e os críticos de lixo, de podres, de inimigos, de maus brasileiros, como costumam chamar. Essa linguagem é perigosa, iliberal, antidemocrática.

A coisificação do adversário é sinal de autoritarismo ou pior. Dizer que a imprensa que critica é “extrema-imprensa” só serve para uma coisa: confessar o quanto a liberdade de imprensa é instrumental e inoportuna para eles. Imprensa que não elogia não serve. Comunista nenhum discordaria.

E não é de hoje: Bolsonaro tem uma lista bastante longa de frases e discursos assim. Há quem goste. Há quem goste de políticos piadistas porque nosso namoro com o pensamento liberal e com a melhor tradição conservadora é mesmo uma piada. Namoro sem compromisso. Ninguém quer casar e assumir as consequências.

Falamos tanto em liberalismo e em conservadorismo, em Estado limitado e em liberdade de expressão, mas aplaudimos atitudes e falas que destoam de qualquer coisa parecida com liberalismo e conservadorismo, limitação estatal e liberdade de expressão.

Criticamos o governo, mas corremos para os braços do governo quando é o nosso governo que está no governo.

Steve Bannon, estrategista da campanha de Donald Trump, esteve com Olavo de Carvalho dias atrás. Entre outros assuntos, o americano demonstrou preocupação com “o cara de Chicago”: a saber, Paulo Guedes. Para Bannon, Guedes é liberal demais e pode atrapalhar o viés nacionalista que Bolsonaro deveria defender. Isso mesmo: a essa altura do campeonato estamos falando não em sentimento patriótico (louvável), mas em nacionalismo (desprezível). O sangue. O solo.

A única esperança para o governo é que ele se divida de vez em dois grandes blocos, de maneira irreconciliável, e o bloco vencedor e influente seja o do “cara de Chicago”. Aliás, foi o encontro com Paulo Guedes que viabilizou intelectualmente a candidatura de Bolsonaro. Que o presidente evite as consequências de se afastar do economista e se aproximar de ideólogos afeitos a teorias da conspiração, autoritarismo e alucinações nacionalistas. O bom sinal pode ser dado em Davos. A conferir.

Mas e o Lula?

O Lula tá preso, babaca. Não serve mais como argumento.

 

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