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Fachada do STF em Brasília Pedro H. Bernardo/Folhapress
Fachada do STF em Brasília Pedro H. Bernardo/Folhapress | Foto:

Agora poderemos enfrentar o problema do auxílio-moradia”, foi o que Dias Toffoli declarou num evento no STJ, em agradecimento aos congressistas que votaram (e aprovaram) o obsceno aumento para os togados sem-teto.

Todo dia eu me lembro de agradecer a Deus por me dar saúde. Obrigado, Deus, obrigado. Posso me levantar bem cedinho, fazer o café, dar um beijo na mulher, um afago no cachorro e, com disposição de triatleta, sem mais demoras, sem mais adiamentos, partir para o trabalho com afinco, decisão e seriedade: tenho onze ministros para sustentar. Fora os agregados.

16% de transferência de renda da população mais pobre – eu, tu, ele, nós, vós – para o bolso dos magistrados da Corte mais suprema – eles, sempre eles. Num momento tão crítico, esse pequenino reajuste, que custará diretamente ao erário alguns tantos milhões anuais, dinheiro de pinga, soa como bofetada na cara dum país que já agoniza. Eu disse milhões? Bilhões.

Bilhões. No Brasil não se rouba, retifico, não se reajusta nada na ordem de milhões. Isso é coisa para Japão e Suécia. Aqui, nossos escândalos orçamentários são bilionários, porque desgraça pouca é Argentina, e o Brasil não é a Venezuela. O aumento dos salários dos ministros empurra o teto do funcionalismo e, sem muito esforço, lá se vão bilhões a mais. Ajuste fiscal é coisa de pobre.

Como se não bastasse o dinheiro em si mesmo considerado, o que faz arregalar os olhos é o descaramento político da situação: agora, somente agora, com esse fundamental acréscimo, os ministros poderão julgar com mais seriedade o também obsceno auxílio-moradia. Não estão mais em condição famélica, podem raciocinar livremente.

Caberia ao espectral presidente em exercício, Michel Temer, o gesto apoteótico: vetar o aumento e sair bem maior do que entrou. Considerando que ele teve méritos de resgatar a economia brasileira do atoleiro em que Dilma e sua trupe a deixaram e, mal e mal, fazer aprovar uma reforma trabalhista, negar esse escândalo, no apagar das luzes, seria de nobreza sem par.

Jair Bolsonaro criticou a medida e afirmou que “não é o momento” para mais gastos. E agora, como explicar para a população que a reforma da Previdência é imprescindível para que o Estado não venha a falir, de vez? Ninguém explica. A percepção pública é esta: se há dinheiro para aumento salarial de quem já ganha mais do que todo mundo, por que diabos todos os outros, que ganham menos, precisam reajustar suas expectativas futuras?

O custo-Brasil é uma espécie de Black Friday que já dura mais de quinhentos anos: tudo sai pela metade do dobro. Ou do triplo.

 

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