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Foto: Daniel Castellano e Antônio More/Gazeta do Povo
Foto: Daniel Castellano e Antônio More/Gazeta do Povo| Foto:

A imprensa e a sociedade estão crucificando políticos que respondem a inquéritos ou viram réus, é preciso ter cuidado sob pena de fragilizarmos toda a classe política.” Em boa medida, o argumento me parece válido, porém surpreende que tenha sido defendido por Janaina Paschoal em pleno Congresso Nacional do MBL.

Não que o cinismo seja novidade na política. Se há tempos não o é em democracias maduras, tampouco haveria de ser diferente por aqui. Entretanto, momentos de explícita desfaçatez como esse protagonizado pela deputada mais votada da nossa história acabam chamando a atenção.

O tom adotado por Paschoal na noite do último sábado reforça uma tendência que promete ganhar força durante os próximos anos: muitos daqueles que passaram quase duas décadas contestando os meios petistas de governar começam agora a fazer concessões para sinais duvidosos emitidos pelo governo em formação.

Da mesma forma, só que no sentido contrário, quem permaneceu em silêncio obsequioso enquanto o PT dava as cartas parece ter subitamente acordado para a importância dos valores democráticos, da nomeação de políticos com histórico impecável, e do perigo que a doutrinação nas escolas representa para a formação dos nossos jovens.

No que diz respeito ao modus operandi dos nossos representantes, insisto, está tudo dentro da normalidade. Não desejo a ninguém a inglória tarefa de citar um só político inexperto na arte de se contradizer quando essa prática lhe favorece. O endosso desse comportamento por parte da sociedade, contudo, somente a leva a trair seus próprios interesses.

Confesso, tanto pelo perfil histórico do militante de esquerda, disposto a abraçar a premissa petista e a negar qualquer responsabilidade do partido em episódios que maculem sua imagem, quanto pelo discurso de Jair Bolsonaro e grande parte dos seus eleitores sobre combater a política tradicional, em especial aquela promovida por Lula, que a minha expectativa maior em relação a um debate crítico ou pelo menos sincero recaía sobre o segundo grupo.

Ledo engano.

Desde já, com a futura administração ainda em seu nascedouro, o argumento predileto de quem afiançou o seu voto a Bolsonaro, quando confrontado com escolhas estranhas, relacionamentos preocupantes ou declarações indefensáveis dos futuros mandatários, é justamente a comparação com o PT.

É como se o bolsonarismo já tivesse uma herança maldita para chamar de sua.

Aliás, é exatamente isso.

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