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Foto: Tereze Neuberger/Jornal de Brasília
Foto: Tereze Neuberger/Jornal de Brasília| Foto:

“A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo único é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante.”

A frase acima já assustaria pura e simplesmente por sua natureza psicodélica, mas acaba deprimindo pelo fato de ser apenas uma dentre tantas outras em tom parecido contidas em um ensaio escrito pelo futuro ministro das Relações Exteriores, o diplomata Ernesto Araújo.

Trocando em miúdos, o presidente eleito pinçou para o comando da diplomacia brasileira justamente alguém que segue uma linha fanático-ideológica no mesmo estilo da que tiranizou o Itamaraty sob o jugo do petismo. Ainda que no sentido contrário.

À diferença de Ernesto Araújo, pelo que os seus comentários fazem imaginar, não sou uma pessoa religiosa. Contudo, na hipótese de que haja mesmo uma força maior no comando e algum tipo de existência após a morte, suspeito que o Barão de Rio Branco deva estar se debulhando em lágrimas.

E quem haveria de culpá-lo?

Não bastassem anos de uma diplomacia enviesada, manipulada em favor de governos à esquerda independentemente dos seus posicionamentos autoritários, com ênfase para um silêncio inadmissível em relação à ditadura e ao desastre humanitário venezuelanos, agora temos um chanceler enamorado de Donald Trump.

Há quem diga que a escolha foi boa. Há quem elogie a atuação de Ernesto Araújo durante os seus 29 anos na carreira diplomática, ignorando ser ele um quadro de terceiro escalão e a reação negativa nos bastidores do Itamaraty por uma possível quebra de hierarquia com a sua nomeação.

De minha parte, jamais me atreveria a fazer acusações levianas de qualquer sorte. Ernesto Araújo pode se transformar no melhor chanceler em nossa história? Pode. Por que não? Pode fazer um trabalho ótimo, reconstruir a nossa imagem no exterior e abrir caminhos para novos negócios? Sem dúvida que pode.

Contudo, as evidências apontam no sentido contrário.

Apontam no sentido contrário, para começo de conversa, pela sua falta de experiência. E apontam no sentido contrário, para encerrar o papo, dada a sua visão de mundo atrasada, pequena e rasa.

É uma pena que uma notícia tão alarmante para o Brasil — mais do que para o futuro governo — tenha surgido logo após importantes e positivos indícios vindos da equipe econômica.

Entretanto, Bolsonaro parece ter preferido queimar logo um dos seus cartuchos no arsenal de muletas capazes de fazer a população se esquecer dos problemas que realmente interessam.

Talvez cedo demais.

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