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Durante as quase três décadas em que foi deputado, Jair Bolsonaro atuou como um autêntico sindicalista. Combateu o liberalismo econômico ao lado do PT, votou em Lula e Ciro Gomes, foi simpático à ideia de uma Defesa comandada por Aldo Rebelo; capaz de argumentar que Hugo Chávez representava esperança e de torcer pela chegada da sua “filosofia” ao Brasil. Entretanto, conseguiu se eleger presidente da República adotando um discurso em favor das reformas econômicas, pautado pela rejeição ao sistema político e, acima de tudo, por um forte sentimento antiesquerda.

Ainda assim, mesmo com um indício tão claro de que a sociedade está farta do Partido dos Trabalhadores e de suas legendas satélites, a esquerda brasileira não aprendeu nada. A população chegou ao ponto de sublimar uma retórica moralmente incompatível com princípios democráticos básicos e de ignorar as evidências de um novo estelionato eleitoral quando percebeu o risco do seu retorno ao poder, mas os ditos progressistas mantiveram a pose.

Noves fora as recentes manifestações que atestam essa afirmação — calúnias a respeito da reforma da Previdência e apoio formal ao ditador Nicolás Maduro —, além da costumeira recusa em assumir a culpa por crimes cometidos enquanto ocupou a cadeira e a insistência na narrativa persecutória, talvez não exista maior prova desta derrocada do que essa pantomima envolvendo a autoproclamação de José de Abreu como presidente.

Não se trata aqui de demonizar o humor, a sátira. Não é de hoje que ambos fazem parte da nossa cena política. Trata-se apenas de jogar luz sobre o que de fato está acontecendo: uma nação vizinha, outrora próspera, vive sob o jugo de uma ditadura. Há tempos seus cidadãos não sabem o que é liberdade, mas hoje em dia sofrem inclusive com a falta de alimentos. Uma situação que contou com o apoio fundamental dos governos Lula e Dilma — parceiros econômicos e ideológicos do chavismo — para chegar a esse estágio.

Não, não cabe brincar nesse caso, senão por culpa na consciência, pelo menos por uma questão de empatia.

Como se tudo isso não bastasse, ainda há o preocupante significado embutido nesse comportamento. Para além da constatação óbvia, a de que não podemos contar com uma oposição madura, honestamente intelectual e disposta a participar do debate público sem descambar para o histrionismo, há a indicação no sentido extremo oposto.

Ou seja, se antes o pêndulo da disputa político-ideológica alçou ao poder um governo disposto a atropelar quaisquer mecanismos de equilíbrio previstos em lei para se perpetuar sua dinastia, gerando daí uma reação tão irracional como a que vemos agora, a impressão é de que tão cedo o tom moderado terá vez nas conversas que de fato interessam.

Ou, ainda pior, tais conversas ainda estão longe de acontecer.

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