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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil| Foto:

Leonel Brizola, Moreira Franco, Leonel Brizola novamente, Marcello Alencar e Anthony Garotinho. Benedita da Silva, Rosinha Garotinho; dose dupla de Sérgio Cabral. Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel. Cantada assim, como se fosse a escalação de um time de futebol, a lista dos governadores do Rio desde a reabertura democrática soa inusitada, mas na verdade assusta. E eu entendo quando quem não é do Rio manga das realidades fluminense e carioca.

Entendo porque reconheço: empatia não é o nosso forte — fato esse bem salientado hoje pelo o atual governador deste estado, ao afirmar que não lhe cabia fazer “juízo de valor” sobre a execução de um músico, pai de família, metralhado com 80 tiros de fuzil pelo Exército em plena luz do dia.

E também por tampouco sermos afeitos ao hábito de nos olhar no espelho e perceber que, às vezes, o drama do outro não dista tanto assim do nosso.

Enquanto escrevo estas linhas, chove lá fora. Chove muito. Na verdade, já não me recordo com precisão a última vez que passamos poucas horas a seco. Onde estou, na Tijuca, a intermitente sinfonia provocada por grossos pingos d’água é acrescida por outra ainda mais dramática. São as sirenes nas comunidades, pedindo para que as pessoas se protejam e assim não corram o risco de perder mais do que os seus pertences, mais até que a própria casa. Dez já perderam avida.

José Sarney, substituindo o falecido Tancredo Neves, Fernando Collor de Mello renunciando antes de se ver afastado por meio de um impeachment, e Itamar Franco completando o restante do mandato. Duas vezes Fernando Henrique Cardoso e outras duas Lula. Mesma medida para Dilma Rousseff, que preferiu vestir a fantasia de mártir a renunciar e teve o seu processo de  impeachment consumado. Michel Temer completou o mandato. Hoje temos Jair Bolsonaro.

É provável que para muitos essa lista assuste menos que a anterior, mas, convenhamos, o debate é inglório. E não apenas pelo naipe dos personagens políticos, afinal há um certo Fernando Henrique Cardoso no meio, mas pela fragilidade institucional imposta graças ao frenesi político e ideológico que desde 2013 irrompeu país afora.

Chove e as sirenes nos morros da Formiga e do Borel se fazem ouvir, qual terríveis minaretes a sugerir rezas que nos preparem para o pior. Talvez façam falta na política nacional, ainda que os sinais de alerta emitidos desde a reeleição de Dilma, e pelo atual governo em parcos cem dias, sejam indiscutíveis.

O Rio sofre. E continuará sofrendo, graças às escolhas do seu povo, às prioridades dos seus políticos e à indiferença generalizada face à sua beleza. Como se encantos naturais, puro acaso imposto pela natureza, cobrassem um justo pedágio.

A equivalência não é exata, mas sendo esta a cidade mais brasileira, ao menos no campo dos estereótipos, o resto do país deveria pôr as barbas de molho. No fim das contas, não há quem se salve quando ninguém está salvo. Seja da negligência, seja do desdém, seja ainda dos populistas.

Rio, porque chorar já não é mais preciso. Rio, porque amanhã pode ser você.

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