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Foto: kb/rix/KAREN BLEIER
Foto: kb/rix/KAREN BLEIER| Foto:

Que o posto de embaixador em Washington é prestigioso não se discute e o motivo dispensa grandes explicações. Sendo os Estados Unidos a maior potência econômica e bélica, aliado histórico e regional, a posição na capital americana só poderia mesmo extrapolar o significado do termo estratégico. Algo que independe, portanto, da afinidade ideológica entre o governo Bolsonaro e a administração Trump. Contudo, desta vez a conjuntura torna a indicação ainda mais especial.

O pano de fundo para isso nunca foi tão explícito, ainda que o presidente brasileiro e a sua corte tentem negá-lo: existe uma disputa interna entre o grupo encabeçado pelo ministro Ernesto Araújo e aqueles mais pragmáticos, representados por Paulo Guedes e a ala militar. Um confronto inevitável, acima de tudo, porque a agenda antiglobalização e de costumes vai de encontro àquela pró-investimentos.

O que a nomeação para a Embaixada brasileira em D.C. tem a ver com isso? Tudo.

A escolha de Bolsonaro, que hoje em dia vacila entre indicações de ambos os lados do pátio  — a saber, o diplomata Nestor Forster Júnior, apadrinhado de Araújo e responsável por ter apresentado o ministro ao filósofo Olavo de Carvalho, e o cientista político Murillo de Aragão, preferido de Paulo Guedes —, pode indicar o viés do governo brasileiro durante os próximos 4 anos. Com o consequente enfraquecimento da ala preterida nessa escolha.

E isso será verdade especialmente aos olhos dos americanos.

Por exemplo, estando o Brasil interessado em se juntar à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) — missão já tomada como fundamental no encontro entre os dois presidentes no próximo dia 19, em Washington —, ter um embaixador mais voltado para o “business” sinalizaria o real interesse do país em seguir políticas públicas adotadas por democracias liberais.

Já no caso de se optar por alguém preso ao discurso ideológico, que demonize a globalização e, portanto, em princípio seja avesso ao liberalismo econômico defendido por Paulo Guedes, talvez o Brasil receba um tostão de gracejos por parte de Donald Trump, mas certamente não será visto como uma nação interessada em entrar no clube das nações prósperas.

A escolha parece óbvia, mas, em se tratando deste governo frequentemente preocupado em agradar à claque conservadora, nada garante que será ela a adotada.

Quem sabe, periga até mesmo de a delegação brasileira se preocupar em alardear, envaidecida, encontros com o outrora relevante Steve Bannon. Espero sinceramente que alguém atualize a nossa turma sobre o real cenário: Trump só é protecionista, antes de qualquer coisa, porque pode. Quanto a Bannon, não apenas já é passado como hoje em dia é mal visto em Washington.

Resta aguardar. E com os dedos bem cruzados.

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