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Foto: @jairbolsonaro/Divulgação
Foto: @jairbolsonaro/Divulgação| Foto:

Primeiro foi Paulo Guedes, que respondeu ao questionamento de uma repórter argentina sobre o Mercosul com uma falta de educação e uma agressividade indignas de alguém que em breve terá tanta responsabilidade sobre a vida de milhões.

Depois, entre idas e vindas em relação à China, ataques ao IBGE, transferência de embaixada para Jerusalém e até a declaração de que a dívida interna não é impagável, “mas precisa ser renegociada”, o próprio presidente eleito não se furtou de afirmar que “desconfia” da proposta de reforma da Previdência apresentada por Guedes, até ontem absoluto oráculo na seara econômica: “Quem vai garantir que essa Previdência dará certo? Quem vai pagar? Hoje em dia, mal ou bem, tem o Tesouro, que tem responsabilidade”.

Bolsonaro declarou também que vai tentar “aprovar alguma coisa na reforma da Previdência” ainda este ano, embora tenha sido contrariado nesse sentido por seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (“garoto”’ que chegou a ameaçar o STF e em seguida precisou se retratar).

Por outro lado, assim como havia feito após ter sido eleito, Jair Bolsonaro sinalizou ontem, durante cerimônia em comemoração aos 30 anos de promulgação da Carta: “Na democracia só um norte, é o da nossa Constituição”.

Há aqueles que defendem leituras menos ao pé da letra das falas do futuro presidente do Brasil. Que consideram razoável um determinado nível de verborragia da parte de alguém óbvia e especialmente ignorante em assuntos ligados à economia, algo que Bolsonaro inclusive jamais tentou esconder.

Diga-se, são os mesmos que durante a campanha menosprezaram falas inaceitáveis durante processos demoráticos.

De minha parte, prefiro levar a sério tudo o que diz Jair Bolsonaro. Foram gravíssimas as suas declarações ao longo dos anos, enquanto deputado. Idem quando era candidato. Mais ainda agora, por representar a escolha da maioria dos brasileiros.

Sua saudação à democracia, portanto, é um bálsamo. Não que este país pudesse ser confundido com uma republiqueta frágil, carente de instituições que a protegessem de ameaças, mas merece ser celebrada.

Cabe também ficar atento a indícios como esses envolvendo declarações tão desnecessárias quanto desastrosas nos campos econômicos e da política externa.

Bolsonaro precisa entender que, a partir do último dia 28, já não é mais um obscuro deputado do chamado baixo clero. Não representa apenas os militares. Que suas falas passaram a ter um peso diferente.

O próximo governo será cobrado por suas atitudes, como deve ser. E ninguém sensato imagina uma administração desprovida de falhas ou mesmo escândalos. O sentimento de preocupação se tornará ainda mais alarmante, contudo, se as demonstrações de amadorismo explícito continuarem sendo regaladas sem parcimônia.

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