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Mauro Cezar Pereira
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No cada um por si do futebol brasileiro, vale a “Lei de Murici”

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Mauro Cezar Pereira
03/09/2018 00:10 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
Dupla Atletiba se uniu contra a Federação Paranaense. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Dupla Atletiba se uniu contra a Federação Paranaense. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Santos x Independiente/Conmebol. Foi o embate do começo da semana com o time paulista sendo punido pela escalação de Carlos Sánchez no jogo disputado em Avellaneda pela Copa Libertadores. Apoiada em detalhes do regulamento, a Confederação Sul-americana de Futebol castigou o clube brasileiro com uma derrota por 3 a 0 na peleja de ida, praticamente eliminando previamente os santistas do certame. Mas, também com base em suas estranhas regras, não puniu o River Plate, que escalou sete vezes Bruno Zuculini, em situação tão irregular quanto à do uruguaio do elenco praiano.

O imbróglio estimulou apelos por um boicote brasileiro à competição sul-americana. Não resta dúvidas, o Santos foi ingênuo ao colocar Sánchez em campo contra o “Rojo” sem documentos em mãos que assegurassem sua aptidão para o cotejo. E foi “juvenil” porque na Conmebol os bastidores pesam e quem não for muito atento, malicioso até, se expõe e pode pagar caro. Hugo Moyano, presidente do Independiente, é sogro de Claudio “Chiqui” Tapia, que preside a Associação de Futebol argentino (AFA) e é um dos vices da entidade sul-americana. Claras relações de proximidade com o poder.

Curiosamente o algoz dos santistas na Libertadores foi o único clube a saber que um adversário seu tinha escalado atleta irregularmente. Flamengo, Santa Fé, Emelec e Racing não denunciaram a presença de Zuculini nos jogos do River contra eles por desconhecerem a situação do meio-campista, que deveria cumprir duas pelejas de gancho. Não houve manifestação alguma de real solidariedade aos santistas por parte dos demais brasileiros. O que obviamente não surpreende. Na cartolagem tupiniquim funciona assim. Como diria Bezerra da Silva, é a “Lei de Murici, cada um cuida de si”.

Dias depois o Flamengo pediu adiamento de seu compromisso ante o Corinthians, pela semifinal da Copa do Brasil. Com a eliminação dos dois times da Libertadores, haveria datas possíveis onde se encaixaria o duelo agendado para o dia 12, quando os jogadores convocados para as seleções estarão voltando dos amistosos nas Datas Fifa de setembro. Os corintianos não aceitaram, obviamente porque embora não possam ter Fágner, que depois acabou se lesionando, os rubro-negros perdem metade de seu meio-campo, sem Paquetá e o colombiano Cuellar. Preferem o adversário enfraquecido.

Mas não foi apenas o atual campeão brasileiro a rejeitar o pedido flamenguista. Palmeiras e Cruzeiro, que farão a outra semifinal, também repeliram a ideia. Diante disso, a CBF lavou as mãos. Isso significa que times jogarão sem titulares selecionáveis sem a menor necessidade. E aí não é por causa do calendário, mas da máxima resumida nos versos do sambista que cantava a vida nas favelas cariocas. “Pra morar no morro/Tem que ter muita versatilidade/Ouvir muito e falar pouco/Ser bom malandro e ter muita amizade/Permanecer na lei que é de Murici/E o provérbio que diz: ‘não sei de nada/Cada um trata de si‘”.

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Atlético e Coritiba impressionaram o país ano passado quando, juntos, enfrentaram a Federação Paranaense e a Rede Globo, rejeitando a proposta pela venda dos direitos de transmissão de seus jogos do campeonato estadual. Mostraram os clássicos Atletiba do Estadual de 2017 pela internet e pareciam unidos como nunca na luta por um objetivo em comum. Tudo funcionava bem, e a dupla chegou a tentar, sem sucesso, tirar Hélio Cury da presidência da entidade. Até que na Libertadores do ano passado o Coxa vetou o empréstimo do Couto Pereira ao aliado, que voltou a ser apenas rival.

Os atleticanos alegaram ter combinado com o então presidente do Coritiba, Rogério Bacelar, que utilizariam o estádio quando não pudessem atuar em sua Arena. Mas no duelo com o Santos, os rubro-negros tiveram que recorrer à Vila Capanema, cedida pelo Paraná, depois que os alviverdes negaram a cancha, sob pressão de sua torcida. Aí acabou a união. E no passado a liberação do Couto era rotineira. Tanto que o recorde de público é de um jogo Atlético x Flamengo, em 15 de maio de 1983, com 67.391 pessoas pintando as arquibancadas de preto e vermelho. Ou seja, as relações pioraram, uma regressão.

No fim do ano passado Bacelar saiu com o Coritiba rebaixado à segunda divisão. Tomou posse um novo presidente, Samir Namur, e não há proximidade alguma entre os clubes. Para o Campeonato Paranaense deste ano, o Coxa assinou com a TV, o Atlético não, e os atleticanos transmitiram por conta própria o Atletiba decisivo via internet, à revelia da TV e do adversário. A peleja era exibida pelo YouTube, até que a Globo notificou a plataforma de vídeos e tirou o confronto do ar com bola rolando. Os dois novamente em lados opostos. Cenário repetitivo nas confusas relações entre os clubes, desunidos e enfraquecidos ante Federações, CBF, Conmebol…

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Nesta segunda-feira o Conselho Deliberativo do Coritiba terá acesso ao resultado financeiro do primeiro semestre de 2018, após análise do Conselho Fiscal. O lucro de quase R$ 2 milhões é um alento em meio ao caótico cenário econômico do clube, sob os efeitos do rebaixamento para a segunda divisão. Mas reduzir a dívida e mostrar números azuis não bastam. O Coxa venceu em Pelotas (1 a 0 no Brasil) após seis jogos e voltará a campo na terça, oito dias depois, para receber o lanterna, Boa Esporte. A necessidade de vitória é extrema para manter viva a chance de acesso, pois o time está seis pontos atrás da zona que leva à Série A. E se ficar mais um ano na segundona, as receitas cairão mais e ajustar as finanças do clube será ainda mais complicado.

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Roni comemora com cambalhota o segundo gol do Atlético-PR contra o Bahia. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Nove jogos sem perder, sete vitórias e dois empates, seis triunfos consecutivos na Arena da Baixada, os quatro mais recentes pelo Campeonato Brasileiro. Após uma sequência espetacular, o Atlético visitará Palmeiras, Atlético Mineiro e Chapecoense. O Furacão já se afastou de uma posição na classificação incompatível com seu potencial. Rota corrigida, seria ótimo se a diretoria criasse condições mais favoráveis para que os jogos em Curitiba recebam mais torcedores. Foram 13.433 nos 2 a 0 sobre o Bahia domingo e 12.907 no 1 a 0 de quinta-feira diante do Vasco. Pouco pelo que vem fazendo o Furacão.

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Grampola reclama de gol anulado. Foto: Rafael Melo/Estadão Conteúdo

Com a derrota para o Sport, pior time do pós-Copa (havia feito apenas um ponto em nove jogos), o Paraná segue em último. Tem 15 pontos e está a nove da 16ª posição, equivalente à permanência na Série A. O time tem três a menos que o Atlético Goianiense na 22ª rodada do ano passado. Já o América Mineiro em 2016 somava 13 depois de 22 partidas, campanha idêntica à do Vasco em 2015. Todos esses lanternas foram rebaixados. Os paranistas têm a matemática contra si, e no Recife o apito se juntou a ela, com o gol de Rafael Grampola mal anulado pelo árbitro Emerson de Almeida Ferreira (MG), atendendo ao equivocado aceno do auxiliar Marcos Vinícius Gomes.

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