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Mauro Cezar Pereira
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Manchester United finaliza tanto quanto o Ceará e seu goleiro trabalha como os de Sport e Vitória. Mourinho já pode trabalhar no Brasil

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Mauro Cezar Pereira
16/12/2018 23:01 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
Foto: Paul Ellis/AFP
Foto: Paul Ellis/AFP

O grande jogo do fim de semana na Premier League, o mais rico e disputado campeonato do mundo; reuniu os maiores rivais do futebol inglês, Liverpool, treinado Jürgen Klopp, e Manchester United, comandado por José Mourinho. O elenco do time da terra dos Beatles está avaliado em £ 820 (R$ 4 bilhões), segundo o site Transfermarket, atrás apenas do Manchester City, cujo plantel supera a casa de £ 1 bilhão. Já o grupo de jogadores dirigido pelo lusitano tem valor de mercado em torno de £ 750 (R$ 3,7 bilhões). Conclusão, a diferença não é tão grande a ponto de justificar o que se viu em campo, um massacre do time de vermelho e uma vitória por 3 a 1 que saiu barato para os Red Devils.

Foram 36 finalizações do Liverpool contra meia dúzia do Manchester United, sendo que só Roberto Firmino, com nove, arrematou mais do que o time adversário inteiro. Fabinho, em excelente atuação, somou cinco. Todos os jogadores de linha de Klopp desferiram a pelota contra a meta da equipe de Mourinho. Ao todo, 601 passes trocados ante 335, mais de 64% do tempo com a posse da bola contra menos de 36%. Imposição integral sobre o oponente, a ponto de a defesa do time vencedor ter sido tão pouco exigida que não precisou bloquear sequer um chute do adversário, cujos defensores detiveram 15 vezes a bola endereçada à sua meta. Em domingo trabalhoso, o goleiro espanhol De Gea fez oito defesas!

As finalizações do Liverpool (em vermelho) e do Manchester United (em azul), no clássico de domingo pela Premier League (gráfico WhoScored)

Não, a qualidade dos dois elencos não explica a disparidade vista em campo. A diferença brutal foi consequência das antagônicas propostas de jogos e dos estágios alcançados por cada uma das equipes sob as batutas de seus treinadores. O Liverpool é um time agressivo, veloz, que busca incansavelmente o gol. Que quando faz um, quer outro. Conjunto cada vez mais afinado por seu técnico alemão, que assumiu o leme dos Reds em outubro de 2015, aproximadamente dez meses antes da chegada do português a Old Trafford. O técnico do Manchester United, em sua terceira temporada à frente do maior campeão da Inglaterra, vê o time retroceder, sem qualquer sinal de reação, como se viu no clássico.

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Hoje o Liverpool lidera a Premier League com 45 pontos, um à frente do Manchester City e com 19(!) de vantagem sobre o United. São incríveis 88,23% de aproveitamento dos pontos, contra 50,9% do rival. Saldo de 30 gols e uma defesa que levou apenas sete. Os números de Klopp são incríveis e só encontram paralelo no outro time de Manchester. O City tem um ponto a menos (índice de 86,27%), 11 tentos marcados (48 a 37) e três sofridos (10 a 7) a mais na comparação com o primeiro colocado. Já o United tem saldo de zero, com 29 bolas nas redes adversárias e 29 na sua meta. Superior à quantidade de gols sofridos pelo modesto Huddersfield Town, penúltimo colocado e que tomou 28. São números impressionantes, para o bem e para o mal, que deveriam constranger Mourinho.

“O Liverpool foi melhor, mas estávamos no jogo até o momento em que sofremos o terceiro gol”, disse, sem perder a pose, como de hábito, o técnico português após a derrota em Anfield. Na verdade, os vencedores fecharam o placar no 33º arremate, quando o Manchester United tinha finalizado apenas três vezes. Dizer que sua equipe estava viva na partida enquanto perdia por 2 a 1 significa ignorar o que se via em campo, olhando apenas para o placar, como se isso bastasse para maquiar a realidade. José Mourinho já esgotou seu repertório de desculpas e escapadas em entrevistas, como parece ter zerado a coletânea de estratégias técnico-táticas utilizadas nas partidas.

Mourinho cumprimenta Klopp após a partida. Foto: Paul Ellis/AFP

O Manchester United atual sofre mais finalizações contra seu goleiro do que nove equipes que estão abaixo dele na classificação: Cardiff City, West Ham, Southampton, Huddersfield, Crystal Palace, Wolverhampton, Leicester, Everton e Watford. São, em média, 14 tiros desferidos contra a meta dos Red Devils em 17 rodadas, média comparável às de Vitória e Sport Recife, ambos rebaixados no último Campeonato Brasileiro. No ataque, o time de Mourinho arremata menos do que três dessas equipes que estão abaixo dele na tabela: Everton, Southampton e Wolves. Com menos de 10 arremates por cotejo, tem desempenho idêntico ao do Ceará na Série A 2018 em finalizações.

Números paupérrimos de um trabalho ruim feito por técnico famoso, caro e (ainda) badalado. O estilo de Mourinho ficou para trás. Intensos e famintos pelo gol, Liverpool e Manchester City dominam a Premier League e são os ingleses que mais parecem ter chances na Liga dos Campeões, pela qual os Red Devils perderam na quarta-feira — Valencia 2 a 1. A forma como o português monta sua equipe lembra, em alguns momentos, o jogo pragmático que impera no Brasil. Tanto que sua média de rebatidas (24 por peleja) se assemelha às registradas por São Paulo, líder por oito rodadas no mais recente Brasileirão; Paraná, lanterna rebaixado; e Palmeiras, campeão do certame. Mourinho parece pronto para desembarcar por aqui e treinar um time brazuca. Fica cada vez mais claro que a Premier League deixou de ser o seu habitat.

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