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Mauro Cezar Pereira
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Futebol força dos chutões virou marca do jogo praticado no Brasil

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Mauro Cezar Pereira
29/10/2018 17:37 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
Site oficial/Palmeiras
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Líder do Campeonato Brasileiro e com imensas chances de título, o Palmeiras fez dois jogos importantes na semana passada. Primeiro visitou o Boca Juniors na Argentina, pelo Copa Libertadores, depois foi ao Maracanã encarar o Flamengo, pela Série A. O objetivo palmeirense em ambas as partidas: não perder. Para isso, nas duas pelejas permaneceu quase todo o tempo entrincheirado em sua defesa, afastando a bola do jeito que fosse possível. Entre rebatidas, bicudas e lançamentos, foram 223 chutões, 109 na Bombonera e 114 no Maracanã.

A proposta mais comum no futebol praticado por aqui é não ter a bola, mas dificultar quem detém sua posse. Não construir, mas destruir, para tentar o gol em estocadas eventuais, quando for inevitável controlar a pelota. Pragmatismo totalmente desconectado do compromisso com a qualidade do jogo. O desafio de jogar bem (não confunda com a subjetividade do chamado “jogo bonito”, o “que encanta”) é ignorado, com a complacência dos resultadistas, que dominaram o país, na torcida e na mídia.

Se venceu está ótimo, mesmo que o triunfo seja possível aliado a futebol praticado com qualidade. Como bem definiu mestre Tostão em sua coluna, “Inverteu-se o modelo de jogar futebol. O dos europeus é cada vez mais o de Guardiola, de Sarri, treinador do Chelsea (ING), e de Klopp, do Liverpool (ING). É o futebol arte. São treinadores que só querem ganhar jogando bem. Nos times brasileiros, o modelo é o dos Mourinhos, que querem ganhar de qualquer jeito. É o futebol força”.

O técnico português nunca esteve tão em baixa, questionado no Manchester United, um dos mais ricos clubes do planeta, com jogadores de alto nível, mas praticante de um jogo que frequentemente pode ser qualificado como risível. José Mourinho está pronto para trabalhar no Brasil, onde a lógica do “quem joga bem fica mais próximo da vitória” é ignorada. O propósito é vencer da forma menos complexa, pouco importa como e se para quem aprecia o esporte aquilo não é minimamente atraente.

Essa falta de compromisso com o próprio esporte desmistifica a ideia de que o Brasil é um país de futebol com qualidade. Da mesma maneira que já caiu por terra a tese de que os brasileiros são um povo alegre e festivo. Somos a nação que lidera o ranking mundial de homicídios, de trânsito violento recheado de agressões verbais e físicas, com parte da população ávida por um revólver, imaginando que a arma possa proteger da violência. Poucos parecem preocupados em buscar a raiz do problema em busca da cura.

Da mesma forma, na cancha e ao seu redor raros brasileiros discutem, questionam, refletem, se incomodam com o jogo xucro que nos é apresentado dia após dia. Mas por que a qualidade só despenca? Não é falta de material humano, pois os clubes jamais faturaram tanto e times podem ser bem estruturados mesmo com atletas medianos. Organização e jogo coletivo bem desenvolvido é possível, mas também trabalhoso. Mas pela incapacidade de treinadores, aliadas ao imediatismo geral, projetos nessa direção não decolam.

O que seria mais fácil? Opção 1: treinar uma equipe para que jogue com passes bem trocados, envolvendo o adversário, saindo da pressão rival no próprio campo tocando a bola e construindo lances ofensivos a partir da defesa. Opção 2: mandar a campo um time que, atacado, desfere chutões para longe na esperança de que um jogador domine a bola mais perto da área rival. Mesmo que isso, na maioria das vezes, signifique devolver a bola ao oponente, que iniciará nova ação ofensiva. Quando tiver a posse, lançar sempre, não desenvolver nada minimamente elaborado.

Obviamente a segunda alternativa é a mais simples, rústica, primitiva, rudimentar. E menos exige da comissão técnica. No Primeiro Mundo da bola, como nos clubes citados por Tostão, tal receita não dá resultado há tempos, pois eles evoluíram na pratica futebolística, têm conceitos mais modernos, que reúnem competitividade e qualidade, seja um time de elevada posse de bola ou mais objetivo, rápido na definição dos lances. O nível de exigência mais alto é imposto pelo futebol praticado, estratégias obsoletas não levam a nada e por isso ficaram naturalmente para trás.

Mas têm vez por aqui. Luiz Felipe Scolari fez sucesso na seleção portuguesa, comandou o milionário elenco do Chelsea, mas hoje não tem mercado na Europa. Sua fase, seu momento por lá, passou, mas ainda brilha no Brasil. Com o melhor elenco do país, sacia o apetite de vitórias de torcedores do Palmeiras no campeonato brasileiro. Nas mãos de outro tipo de treinador e com algum tempo, esse mesmo grupo jogaria mais bola e poderia vencer mais, como nos mata-mata, que registraram fracassos diante de Cruzeiro, na Copa do Brasil, e Boca Juniors, na peleja de ida pela Libertadores.

Com os mesmos ingredientes, um competente chef de cozinha pode preparar um prato saboroso e especial que um cozinheiro sem muitas habilidades transformaria num rango tosco. Mas no futebol brasileiro raros pediriam a esse mestre da cozinha um delicioso Omelete Provençal se um ovo frito queimado sai mais rápido e mata a fome do mesmo jeito.

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CORITIBA

Dos nove últimos pontos, o Coritiba fez três, 33,3% de aproveitamento numa sequência de empates que praticamente o condena a permanecer pelo menos mais uma temporada na Série B. Em 2019, provavelmente com quota de TV menor, enfrentará queda de receita e dificuldades que vêm dos últimos anos. E o clássico paranaense na segundona é praticamente inevitável, pois o Paraná já caiu e esqueceram de avisar à matemática. São 17 jogos sem vencer, a mais longa sequência da história do Brasileirão.

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ATLÉTICO

O Atlético segue forte nas duas competições, venceu o Bahia no jogo de ida em Salvador, está perto das semifinais da Copa Sul-americana, e com 43 pontos está praticamente livre de qualquer risco de queda para a Série B. O Furacão estava na zona de rebaixamento quando o campeonato brasileiro foi interrompido para a disputa do Mundial da Rússia. O time não “amarela”, apesar da obsessão dos dirigentes pela cor.

Enquanto isso, com sua política elitista, segue jogando na Arena da Baixada para plateias bem inferiores do que merece a equipe. Na vitória sobre o Botafogo, sábado, eram 8.186 torcedores, deixando, mais uma vez, à mostra o cinza das cadeiras, 80% delas desocupadas. Por mais que tentam mudar, os cartolas terão que conviver com dois fatos: a origem atleticana é popular, e suas cores são o preto, e o vermelho!

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