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Mauro Cezar Pereira
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Não é só futebol: saiba como começou a guerra que impediu a final da Libertadores

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Mauro Cezar Pereira
26/11/2018 00:05 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
A guerra armada por Los Borrachos del Tablón e o impasse na final da Libertadores. Na imagem, torcedor do River e a polícia tardia. Fogo: Ivan PISARENKO / AFP
A guerra armada por Los Borrachos del Tablón e o impasse na final da Libertadores. Na imagem, torcedor do River e a polícia tardia. Fogo: Ivan PISARENKO / AFP

As torcidas organizadas na Argentina são conhecidas como Barras Bravas. Muitas têm viés de organização criminosa, mafiosa, em sua estrutura, como detalha o jornalista Gustavo Gabria no livro La Doce, nome da barra do Boca Juniors. A do River Plate se chama Los Borrachos del Tablón. Em ambas a briga pelo poder já provocou guerra e mortes. Mexer com esse problema não é algo simples, ainda mais com a promiscuidade comum entre os integrantes e alguns dirigentes, jogadores, técnicos e até “periodistas“.

Pois na véspera da decisão da Copa Libertadores entre os dois times mais populares do país, pela manhã as autoridades resolveram visitar Los Borrachos del Tablón. Héctor “Caverna” Godoy, líder da barra do River, foi preso em San Míguel, a cerca de 30 quilômetros do estádio dos “Millonarios“. O barril de pólvora estava devidamente aceso, não era difícil imaginar qual as coisas ficariam complicadas até o momento da peleja. A abordagem, fora de hora, parecia querer mostrar força policial, inexistente.

Héctor Godoy, vulgo Caverna, comanda o Los Borrachos del Tablón desde 2009, na qual ingressou no final dos anos 1990. Ele se transformou no gerente de ingressos da barra e em peça que faz funcionar a violência em torno do Monumental de Núñez. Detido sexta-feira, teria que justificar uma fortuna em sua posse: 7 milhões de pesos (perto de R$ 720 mil) em sua casa. O ataque foi comandado pelo promotor Norberto Brotto, que está investigando a revenda de ingressos no clube desde abril. A Divisão de Polícia Criminal também descobriu cerca de 300 locais para a reunião dos hinchas (torcedores) no dia da final.
  

Em seu poder também estavam milhares de bilhetes para a final, que serão periciados para saber se são verdadeiros ou falsos, embora pareçam originais. O “capo” de Los Borrachos del Tablón tinha as entradas em nome dos membros da barra, todas intransferíveis. Sua facção tomou o controle do estádio em 2002 e acumulou poder. Caverna integrou um comitê executivo de José María Aguilar, presidente do clube entre 2001 e 2008.

Ele sofreu vários processos judiciais, como por ataque a um representante de jogadores da base, e em março de 2014 foi preso junto com a cúpula da barra com bilhetes para revenda, facas, spray de pimenta e 12 telefones celulares. Ficou por isso mesmo e o River Plate evitou levar adiante. No mesmo ano, antes de Super-clássico pela Copa Sul-Americana, Caverna foi esfaqueado por rivais da própria torcida. Não é difícil entender que ele e seu grupo são um desafio para as autoridades e que combatê-los é algo imperativo. Mas por que um dia antes da final?

Ao prender o líder e reter os ingressos, Los Borrachos del Tablón se viram impossibilitados de comparecer à decisão da Libertadores. A reação foi no estilo: “Se não veremos o jogo, não haverá jogo“. Não houve.

O ataque ao ônibus do Boca foi uma emboscada capitaneada por integrantes da barra, misturados a torcedores avulsos, a maioria sem tíquetes, nas imediações do Monumental. Simultaneamente, vários ataques a acessos ao estádio aconteciam, com enfrentamentos e torcedores arrancando grades e atirando-as em policiais e seguranças do clube.

Ficou evidente que as autoridades argentinas não estavam preparadas para conter a óbvia reação de Los Borrachos del Tablón, grupo que em 2005 expulsou, literalmente, a polícia militar de São Paulo de seu setor no Morumbi antes de uma partida contra o São Paulo. Se os PMs brasileiros foram surpreendidos com a reação dos barras, os argentinos deveriam prever o que viria. Mexeram com o grupo na hora errada e sem condições de contê-los. O resultado foi um vexame internacional que expõe o caos social no país vizinho. Não é um problema do futebol, mas um caso policial, uma questão de (in)segurança pública.

***

No ano passado, antes da final da Copa Sul-americana entre Flamengo e Independiente, membros da Torcida Jovem do Flamengo anunciavam que invadiriam o Maracanã, como acontecera em outros grandes jogos no estádio desde 2016. “A Jovem tem a chave do Maraca”, postavam alguns integrantes, sarcasticamente, antes do cotejo. Invadiram mesmo, e milhares de outros torcedores adentraram, o estádio sem ingressos.

A Jovem foi banida pela justiça por três anos após o assassinato de um botafoguense com um espeto de churrasco em fevereiro de 2017. Mesmo assim, apoiados no anonimato, componentes da organizada promoveram algumas invasões, invariavelmente bem sucedidas. A PM admitiu na oportunidade ser incapaz de fazer a segurança em toda a região do Maracanã e conter tais ataques aos portões de acesso. Brasil e Argentina são mais parecidos do que se imagina.

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*** Coritiba

Exatos 1.567 viram a vitória melancólica (sim, isso existe, acredite) do Coritiba sobre o Fortaleza, sábado, quando o Coxa deu adeus a 2018. Seu próximo compromisso será 58 dias depois, em 20 de janeiro, às 17 horas, diante do Foz, pelo Campeonato Paranaense. Tempo o bastante para reavaliar o elenco e fazer as primeiras mudanças necessárias? Provavelmente sim, mas falta dinheiro e tudo acontecerá em meio ao turbilhão político que tem conselheiros reivindicando a destituição do presidente Samir Namur.

Em 2018 o Coritiba teve a maior quota de TV da Série B, que despencará pelo menos a um quinto em 2019. Ironicamente se despediu de 2018 encarando um time cheio de reservas do campeão da segunda divisão, o Fortaleza de Rogério Ceni, que vinha da Série C e apresentava um orçamento bem mais modesto. Pior, onde achar um treinador que ajude a operar milagres do gênero para o ano que vem?

*** Palmeiras campeão

O título foi quase uma formalidade ante a imensa vantagem construída pelo Palmeiras a duas rodadas do final do Campeonato Brasileiro. Com a volta de Luiz Felipe Scolari, o Palmeiras esperava ganhar a Libertadores ou a Copa do Brasil, acreditava na força do velho treinador em mata-mata. Com a Série A assumidamente tratada como algo secundário, ele escalou o time B com muito conforto e sem pressão.

A qualidade do elenco pesou, os pontos foram colecionados, a equipe não perdeu mais na competição e depois das eliminações nos dois torneios prioritários num primeiro momento, os palmeirenses se viram próximos do troféu. Felipão não mudou, seus estratagemas e artimanhas são os mesmos há décadas, mas ainda se mostram eficazes por essas bandas. Sorte do Palmeiras, competência dele. Azar dos outros times. Incompetência do Flamengo, que muito investe e nada conquista.

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