Mulheres têm garantido presença no mercado de vinhos
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  • Por Família Fardo
  • 07/05/2020 11:59

Quando Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin ficou viúva aos 27 anos e, sem preparo nenhum, transformou um negócio familiar de vinhos em uma das mais importantes fabricantes de champagne – a Veuve Clicquot – não imaginava que também estaria dando um passo importante para que as mulheres entrassem no mercado dos vinhos.

E ela não foi a única viúva, apesar da mais famosa. Jeanne Alexandrine Louise Mélin Pommery foi uma das primeiras a perceber que os ingleses preferiam bebidas menos doces e elaborou o seu primeiro champagne brut. A terceira viúva foi Lily Bollinger que também assumiu uma vinícola após a viuvez e sempre era vista andando pelos vinhedos com sua bicicleta.

Outras mulheres, essas mais contemporâneas, também estão sendo essenciais no setor de vinhos. Laura Catena, filha mais velha de Nícolas Catena, está à frente da vinícola argentina Catena Zapata (ela ainda é formada em Biologia e em Medicina e tem três filhos). Filipa Pato, filha do enólogo Luis Pato, é uma importante enóloga e, junto com o marido William Wounters, criou uma vinícola que elabora os chamados vinhos autênticos que seguem a filosofia biodinâmica.

Muito a percorrer

A enóloga Sandra Zottis, que também faz parte do Instituto Cultural do Vinho e é professora de enogastronomia e enologia do Centro Europeu, conta que quando chegou em Curitiba, há 20 anos, era a primeira mulher a falar sobre vinhos. Hoje, garante, a mulher tem conquistado mais espaço. “Por muito tempo ela era vista como alguém que às vezes bebia vinho. Hoje a gente sabe que grande parte dos consumidores são mulheres. Inclusive na maioria das vezes é ela quem determina a compra”.

Outro passo importante é a formação das confrarias femininas. Ela recorda que a feminina de Curitiba se formou em 2005. Hoje são várias. “Eu dou aula no Centro Europeu. Nas primeiras turmas eram mais homens. Hoje meio a meio, quiçá mais mulheres”, conta.

Profissionalmente, ainda é um campo a percorrer. “Tem mais mulheres. Mas ainda é um campo masculino. Tanto na parte da elaboração do vinho, como na enologia ainda há uma gama muito grande de homens. Isso não vai mudar tão cedo. Existe uma tradição, uma cultura que é o homem que elabora o vinho. Mas não podemos esquecer que temos mulheres incríveis. A Mônica (Rosetti, enóloga brasileira que hoje vive na Itália e é considerada a Embaixatriz do Espumante Brasileiro), a madame Clicquot e outras tantas. Portugal tem muitas enólogas. No Brasil tem muitas enólogas formadas, mas envolvidas na produção do vinho ainda são poucas”, diz.

Ela lembra ainda que há muitas mulheres trabalhando na área comercial de vinhos, representando vinícolas, em restaurantes e fazendo um trabalho excelente. “Elas têm essa proximidade maior com o consumidor. No entanto, tem muito o que fazer ainda”, afirma.

Paladar

Justina Fardo que, junto com o marido Ambrósio, estão à frente da vinícola Família Fardo, comprova que as mulheres estão mais interessadas em vinhos. “Digo isto com carinho e com alegria também. O vinho é uma das bebidas que atraem cada vez mais apreciadoras. E são criteriosas nas escolhas, criticas na qualidade e têm muito bom gosto. Selecionam o que lhes agrada. É, sem dúvida,  uma parcela do público que dá gosto de entregar um vinho”, resume.

Justina, que também dá nome à uma linha de espumantes da empresa, atua na parte administrativa. Mas diz que expressa sua opinião em todos os processos. “Desde a seleção de vinhos a serem elaborados, nas provas dos mesmos, na seleção do rótulo. Enfim, a melhor parte mesmo é quando ele está na taça para saborear”, conta.

Essa participação não é para menos. Justina diz que sempre teve vinho à mesa, desde a infância. “Meu pai tinha seu pequeno parreiral e eu, criança, pisava a uva para termos o nosso vinho. E bebíamos, na dose permitida e exclusivamente na refeição. Desde sempre o vinho é a melhor bebida para acompanhar as refeições”, comenta.

Ela conta que não aprecia um vinho exclusivamente. “Amo o nosso Rosé Malbec, o Merlot, o Malbec (tinto), os Blends (união de duas ou mais uvas). Sem, é claro, deixar de lado o memorável vinho Bordô, que sempre traz à lembrança os bons tempos de infância”.

A Família Fardo tem dez anos da primeira vinificação. Instalada em Quatro Barras, a vinícola tem disponível mais de 20 rótulos de vinhos, destilados e sucos. A empresa tem uma loja virtual no site www.familiafardo.com.br