• Carregando...
 | Tomaz SilvaAgência Brasil
| Foto: Tomaz SilvaAgência Brasil

O antropólogo Luiz Fernando Duarte, diretor-adjunto do Museu Nacional e diretor da instituição entre 1998 e 2001, negou que a UFRJ tenha rejeitado proposta do Banco Mundial de financiamento.

Duarte participou das negociações com o Banco Mundial enquanto estava à frente do Museu. “Em nenhum momento foi colocado como exigência para o apoio que o Museu saísse da UFRJ”, disse ele à Gazeta do Povo.

“O que aconteceu, o que o Museu sabe e o que fui informado como diretor, é que o Banco Mundial descontinuou a política de apoio cultural, e, com isso, se interrompiam as negociações”, afirmou. 

Duarte disse também que o Museu Nacional chegou a discutir informalmente a possível saída da UFRJ. “Essa questão chegou a ser ventilada de maneira muito informal com a UFRJ. Chegou a haver uma comissão interministerial, com representantes dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Cultura, que tirou como resultado um possível apoio à transformação do museu numa Ifes, Instituição Federal de Ensino Superior, autônoma. Mas isso nunca chegou a se concretizar, nem consultamos a universidade sobre isso”.

O diretor acrescentou que a decisão de sair da UFRJ poderia ter sido tomada unilateralmente pelo Museu. “Não foi tomada essa decisão, porque o Museu Nacional avaliou que era temerário se transformar, por exemplo, numa Organização Social. É um modelo que não se adequava à sua condição de instituição nacional, com patrimônio que lhe é próprio, etc”, destacou.

A informação de que o Museu Nacional teria recusado a oferta do Banco Mundial começou a circular nesta terça-feira (4). Segundo o relato, o museu teria recebido uma proposta do Banco Mundial: um aporte de US$ 80 milhões para reformas e modernização, e em troca, uma única condição: entregar o controle do museu e transformá-lo em um Organização Social, uma associação privada sem fins lucrativos que presta serviços de interesse público. 

A UFRJ teria rejeitado a proposta, segundo o empresário Israel Klabin informou em entrevista ao Brazil Journal. Ele disse que um time de voluntários chegou a se formar para trabalhar em um projeto de reforma que seria apresentado ao Banco Mundial. “Era uma modernização enorme. E a única condição imposta pelo Banco Mundial para liberar os US$ 80 milhões era que houvesse um modelo de governança moderno, com conselho e participação da sociedade civil”, Klabin disse ao Brazil Journal. 

“Os professores e membros influentes da UFRJ foram contra”, disse o empresário na mesma entrevista.

O sociólogo Simon Schwartzman compartilhou o seguinte relato em seu Facebook: 

“Lembro que uns 20 anos atrás houve um projeto de transformar o Museu em uma Fundação de direito privado e conseguir recursos privados nacionais e internacionais para dar a ele as condições de preservação e funcionamento compatíveis com a importância do prédio e do acervo. Não foi possível, porque isto significaria retirá-lo da UFRJ, que nunca teve condições de gerenciar um museu deste porte, mas não abria mão de seu controle. Não sei os detalhes, mas era um projeto com o qual o Israel Klabin estava envolvido. Deu no que deu. Enquanto isto, a cidade construiu o belíssimo prédio do Museu do Amanhã, que não tem acervo nenhum, além dos audio-visuais.” 

Leia também: Tudo o que você precisa saber sobre o incêndio do Museu Nacional

Recursos aprovados 

Em nota divulgada após o incêndio, a UFRJ afirmou que as universidades federais do país vêm denunciando há décadas o “tratamento conferido ao patrimônio das instituições universitárias brasileiras e a falta de financiamento adequado, em especial nos últimos quatro anos, quando as universidades federais sofreram drástica redução orçamentária”. 

Na mesma nota, a reitoria da universidade informa que iniciou em 2015 as tratativas com o BNDES, “justamente para adequar a edificação exclusivamente para exposições, garantindo a modernização de todo o sistema de prevenção de incêndio, um dos itens centrais do projeto”. Os recursos aprovados para a primeira etapa foram da ordem de R$ 21 milhões e estavam em vias de liberação pelo banco quando o incêndio destruiu o prédio histórico e a maior parte do acervo do museu. 

Organização social 

Alguns dos museus públicos mais visitados pelo público no Brasil têm gestão em parceria com organizações sociais, que são entidades privadas sem fins lucrativos. A organização social pode receber benefícios do poder público para realizar seus fins, que devem ser de interesse da comunidade. 

Entre os museus brasileiros que adotam esse tipo de contrato de gestão, que pretende ser mais eficiente, estão a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, e o Museu do Amanhã, do Rio de Janeiro.

Leia também: 15 textos que ajudam a entender a tragédia do Museu Nacional

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]