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Quase tão antigo quanto o hábito de ir ao cinema é o de comer pipoca durante a exibição do filme. Goste-se ou não, o cheiro inconfundível que aumenta nas proximidades da bilheteria e o croc-croc de mastigares dentro da sala fazem parte da experiência. Até porque não se trata apenas de um costume dos espectadores, mas de uma peça essencial na engrenagem que movimenta a indústria cinematográfica.

Nos últimos anos, com a famigerada gourmetização, o cardápio disponibilizado aos espectadores deixou de se resumir a pipoca, refrigerante e balas. Cachorro quente, nachos, pão de queijo e chocolates são alguns dos quitutes que podem ser encontrados nas bombonières, responsáveis por uma parcela expressiva do faturamento das empresas de cinema.

Nos Estados Unidos, reportagens citam que entre 45% e 50% da arrecadação dos cinemas vêm dos comes e bebes. Por aqui, esse é um dado guardado a sete chaves pelas redes exibidoras, mas um outro número ajuda a ter uma dimensão do “efeito pipoca”. Segundo a rede UCI, em torno de 50% das pessoas que vão assistir aos filmes deixam alguns trocados na bombonière.

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E, convenhamos, não sai barato encher a barriga durante a sessão. Em um dos cinemas de Curitiba, a pipoca tamanho pequeno sai por R$ 9, mais do que a meia-entrada em alguns dias da semana. Para rebater o sal, um refrigerante para acompanhar. O mais acessível, de 500 ml, custa R$ 8. Tem ainda os combos, cujos preços começam em R$ 22. Quem quiser algo diferente pode provar cachorro quente a R$ 7,50 ou uma porção de nachos por R$ 15.

“Consideramos que a bombonière é essencial para a experiência cinema ser completa”, diz Monica Portella, diretora de marketing da rede UCI. Tanto que, para isso, a empresa investe em promoções, oferecendo brindes de algum filme sempre que algum cliente adquire um produto para consumo. Estratégia eficaz principalmente com as crianças, que podem até não estar com fome, mas não raro convencem os pais a levar alguma lembrança do filme para casa.

“Essa [a administração das bombonières] é uma operação extremamente lucrativa, já que os cinemas não precisam dividir os lucros com os estúdios, como acontece com a bilheteria”, explica o jornalista e economista americano Edward J. Epstein, que estudou a fundo a relação entre fast food e as redes de cinema. De acordo com ele, nos EUA esse comércio chega a garantir lucros acima de 80% às empresas.

Na prática, a venda de pipoca é a tábua de salvação dos cinemas, já que, segundo Epstein, a bilheteria cobre apenas 50% dos custos operacionais. O jornalista Brad Tuttle, em artigo publicado na revista Time, vai além. “A exibição de filmes é apenas uma desculpa para reunir multidões e tentar vendê-las lanches amanteigados e bebidas açucaradas”, diz.

10.000%

A margem de lucro com pipoca pode chegar a 10.000%, segundo economistas, já que o produto é comprado por peso e vendido por volume. Um quilo de pipoca pode ser adquirido a granel por R$ 2,70, quase um quarto do valor de uma embalagem pequena no cinema.

Hábito teve início nos EUA da década de 1930

O hábito de comer pipoca no cinema começou na década de 1930, durante a Grande Depressão (período de grave crise econômica que atingiu os Estados Unidos). Os filmes começaram a ganhar som e, à época, eram uma alternativa de diversão barata para a população.

O comércio de pipoca, por sua vez, era uma boa opção para os vendedores de rua, dado o baixo custo de aquisição e a elevada margem de lucro. Como os proprietários de cinema viam seu negócio como algo luxuoso, não queriam vender nada dentro dos estabelecimentos. Do lado de fora, porém, o público se fartava com a guloseima.

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Quando enxergaram esse potencial, os exibidores passaram a comercializar pipoca dentro dos cinemas, junto com refrigerantes e doces. Resultado: em 1945, mais da metade da pipoca consumida nos EUA estava dentro das salas de exibição.

Inglês fez petição para banir produto das salas

Tem gente que não consegue ir ao cinema sem um pacote de pipoca nas mãos. Mas também existem aqueles que têm aversão à guloseima, o que até se justifica em alguns casos. Imagine assistir a um filme tenso e silencioso como “A Bruxa” acompanhado do ruído constante de um pacote sendo remexido e da pipoca sendo mastigada.

Na Inglaterra, um cinéfilo se mostrou tão irritado que elaborou uma petição pedindo que seja proibida a venda de pipoca nos cinemas. Mike Shotton tomou a iniciativa no começo de 2016, após não ter conseguido se concentrar em uma sessão de “Star Wars: O Despertar da Força”. “Eu simplesmente não consigo me concentrar com pessoas sussurrando e fazendo barulho. A pipoca é a grade culpada”, justificou Shotton ao jornal The Mirror.

Em resposta à iniciativa, um outro grupo lançou uma segunda petição, com o objetivo de barrar a ideia de Mike Shotton, chamando-o de “estraga prazer”. Por enquanto, nenhuma das propostas vingou.

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