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O jurista, sociólogo e escritor Helio Jaguaribe , em foto de outubro de 2000 | Marina Malheiros /Arquivo Gazeta do Povo
O jurista, sociólogo e escritor Helio Jaguaribe , em foto de outubro de 2000| Foto: Marina Malheiros /Arquivo Gazeta do Povo

O jurista, sociólogo e escritor Helio Jaguaribe morreu neste domingo (9), no Rio de Janeiro, aos 95 anos. Ele estava em sua casa, em Copacabana, e foi vítima de falência múltipla dos órgãos.

Como imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), seu velório será na quarta (12), a partir de 10h, na sala dos poetas românticos, na sede da instituição literária. O sepultamento acontece no mesmo dia, às 15h, no mausoléu que a academia mantém no cemitério São João Batista, em Botafogo.

Jaguaribe deixa mulher, Maria Lucia Charnaux Jaguaribe, e cinco filhos.

“Helio Jaguaribe foi um dos últimos grandes intérpretes de nosso país. Estudou o Brasil para transformá-lo, mediante uma abordagem desenvolvimentista, com a fundação do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), nos anos cinquenta”, afirmou, em nota, o presidente da ABL, Marco Lucchesi.

Nascido em 1923 no Rio, o intelectual se formou em direito pela PUC da mesma cidade em 1946. Não foi como advogado, contudo, que Jaguaribe se notabilizou. Pelas quase seis décadas em que se manteve ligado à academia, dedicou-se a estudos sobre a sociedade brasileira, as relações internacionais, a história, a economia e a filosofia.

A partir de 1952, juntou-se a jovens amigos intelectuais do Rio e de São Paulo, que se reuniam periodicamente no Parque do Itatiaia. No ano seguinte, a iniciativa deu origem ao Ibesp (Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política).

Com influência crescente, o Ibesp recebeu apoio do presidente Café Filho e, em 1955, deu origem ao Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), responsável por elaborar a teoria do nacional-desenvolvimentismo.

Além de ícone do engajamento dos intelectuais na vida pública, o Iseb exerceu forte influência sobre o governo Juscelino Kubitschek.

“O desenvolvimentismo significa o esforço de aumentar a capacidade produtiva e, por outro lado, distribuir mais equitativamente o resultado dela. O desenvolvimentista distributivista é extremamente positivo”, afirmou Jaguaribe à revista IstoÉ, em outubro de 2010.

“O Brasil é um país filho do Estado. Há países que são produto da massa, como acontece com os países britânicos, onde a massa gerou o Estado. No Brasil, o Estado gerou o povo, então esse papel é intrínseco à nossa realidade”.

Na década de 50, lançou um de seus livros de maior repercussão, “O Nacionalismo na Atualidade Brasileira”, de 1958.

Temporada nos EUA

Divergências com os rumos tomados pelo Iseb levaram Jaguaribe à saída do instituto, em 1959, quando retomou a administração da empresa da família, a Companhia de Ferro e Aço de Vitória (ES).

Depois de criticar publicamente o golpe militar de 1964, ele se mudou para os EUA, onde lecionou em universidades de prestígio como Harvard, Stanford e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Na volta ao Rio, em 1969, assumiu o cargo de diretor de assuntos internacionais da Universidade Cândido Mendes e, uma década depois, tornou-se decano do recém-fundado Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes). Também em 1979, lançou “Introdução ao Desenvolvimento Social”, um de seus livros mais relevantes.

A carreira acadêmica, especialmente suas contribuições às ciências sociais, trouxe-lhe honrarias, como os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, na Alemanha, e da Universidade de Buenos Aires. Também recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Em 1988, foi um dos fundadores do PSDB, passando a conciliar os afazeres acadêmicos com as atividades partidárias. Teve, contudo, que deixar um cargo no PSDB ao assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia do governo de Fernando Collor de Mello, em 1992.

A experiência na administração durou só um semestre. Jaguaribe deixou o cargo quando o impeachment de Collor foi aprovado na Câmara, decisão que levou ao afastamento do presidente.

Em uma edição de 1994 do programa “Roda Viva”, o sociólogo comentou sua passagem pela gestão Collor. “Não me arrependo [de ter participado do governo], na medida em que fiz uma contribuição que era possível, numa hora em que era possível. E saí quando achei que o governo não tinha mais condições de permanecer”, disse.

Na mesma entrevista, afirmou que, se fosse parlamentar, teria votado pelo impeachment de Collor.

Homem no cosmos

As décadas de 1990 e 2000 são emblemáticas no que diz respeito aos interesses múltiplos de Jaguaribe.

A partir de 1994, sob a encomenda da Unesco, participou de um projeto internacional de pesquisa a respeito de 16 civilizações desde a Pré-História. A versão em português, “Um Estudo Crítico da História”, foi publicada em dois volumes em 2001.

Ele passou a se dedicar a outro amplo estudo em 2004, com o objetivo de discutir as ideias do filósofo alemão Max Scheler. Essas pesquisas deram origem ao livro “O Posto do Homem no Cosmos”, publicado em 2006.

Seja como autor único, seja como colaborador, ele assinou mais de 40 livros, uma obra que o levou à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2005.

Está em cartaz em São Paulo o documentário “Tudo É Irrelevante”, sobre a trajetória intelectual do sociólogo carioca. O filme é dirigido por Izabel Jaguaribe, uma das filhas dele, e Ernesto Baldan.

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