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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo/Arquivo

O uso da bicicleta como o principal meio de transporte vem se tornando cada vez mais comum em Curitiba, principalmente com os jovens abrindo mão da primeira carteira de motorista. Ainda assim, os ciclistas precisam lidar com uma série de problemas a cada nova pedalada. Seja com os buracos nas vias, a falta de iluminação em muitas áreas ou mesmo os problemas de integração com outros modais, são várias as queixas de quem “vive sobre duas rodas”. Conheça algumas delas.

Falta de iluminação

Curitiba tem mais de 200 quilômetros de ciclovias, mas nem todas são iluminadas. No começo de maio, a prefeitura anunciou a revitalização das luminárias de 18 quilômetros de ciclovia, principalmente nos trechos da Linha Verde — entre o viaduto da Avenida Marechal Floriano e o terminal do Pinheirinho — e Belém Norte, que engloba regiões como o Parque São Lourenço, Passeio Público, Rua João Negrão e a Praça do Japão.

E esse não é um problema apenas do Departamento de Iluminação Pública, mas também de segurança. Mesmo com os esforços da prefeitura, muitas das áreas já iluminadas sofrem com a ação de criminosos que roubam a fiação e até mesmo luminárias e postes. Apenas entre julho e agosto, foram 35 casos de furto e vandalismo, o que resultou um prejuízo de R$ 64,4 mil aos cofres públicos. Neste ano, foram furtados 22,5 mil metros de cabos e 69 luminárias. Além disso, 21 postes foram destruídos, com prejuízo total de R$ 200 mil.

Para o servidor público Divo Maia, 46 anos, que pedala 5,5 km todos os dias entre o Hauer e o Rebouças, a falta de iluminação atrapalha principalmente os trechos mais afastados. “O trecho da Aluízio Finzetto é terrível. É uma rua que ciclistas evitam à noite. Tem uma área morta ali, de uma indústria”, afirma. Na Linha Verde e na Rua Aluízio Finzetto – Parolin/Fanny – 38 luminárias de led foram furtadas em 2017.

Integração limitada

De acordo com o vereador Goura (PDT), cicloativista de Curitiba e fundador da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu), um dos principais problemas da malha cicloviária da capital é a falta de integração entre si e com as cidades da Região Metropolitana. “Falta uma rede cicloviária efetiva. Ela não tem conexão, principalmente, com a Região Sul. Nem com a Região Metropolitana de Curitiba, que é fundamental para quem mora nessas cidades”.

Segundo o cicloativista, a Via Calma da Avenida Paraná, que vai até o Terminal Santa Cândida, deveria se integrar com a Rodovia da Uva, a Estrada da Ribeira e o Trevo do Atuba. Outras carências são a ausência de Via Calma na Avenida República Argentina e a falta de veias da Via Calma da Avenida Paraná para dentro dos bairros mais ao norte, como Boa Vista, Barreirinha e Santa Cândida.

Segundo a prefeitura, as ligações dentro da cidade vão do bairro Cachoeira ao Pinheirinho no eixo Norte-Sul e do Capão da Imbuia ao Orleans no Leste-Oeste. Por outro lado, não existe projeto de integração metropolitana porque esse planejamento não depende apenas de Curitiba.

Ainda assim, a administração municipal afirma que já existe uma pré-integração. “Pela Linha Verde é possível acessar a ciclovia do Tarumã e seguir até Pinhais e Piraquara. As obras de revitalização da Avenida Manoel Ribas também terão ciclovias, que poderão se integrar com a Estrada do Cerne em Campo Magro”. De acordo com documentos históricos do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), conexões com cidades vizinhas estão previstas desde os anos 70.

Alexandre Lorenzetto, 40, que tem uma empresa de soluções para uso de bicicletas em grandes cidades, mora em Quatro Barras e guarda uma bike em Curitiba. “No meu trajeto uso geralmente a Rua Fagundes Varela, que não tem ciclovia. Depois pego um trecho de ciclovia ao lado do trilho do trem, que é bastante mal iluminado e tem buracos. A partir dali vou para o Centro pela canaleta do ônibus da Rua XV de Novembro. Quem sai do Bacacheri, Boa Vista, Bairro Alto para o Centro não consegue ligação sem andar pela rua normal”, conta.

Para o empresário, é simbólico que ele tenha mais projetos desenvolvidos em Santiago, no Chile, do que em Curitiba. “Geralmente testo caminhos de Quatro Barras para Curitiba. Pela BR-116 é muito perigoso, em relação a segurança e acidente. Em Piraquara, estão construindo uma ciclovia. Mas não existe ligação para entrar em Curitiba”, afirma.

Conservação precária

Até o fim deste ano, Curitiba deverá ganhar mais quatro quilômetros de ciclovias ao longo do trecho norte da Linha Verde, que está em obras. Outros três quilômetros integrarão a malha cicloviária com o fim das obras de revitalização da Avenida Manoel Ribas.

Para Goura (PDT), no entanto, “boa parte dos 200 quilômetros de ciclovias de Curitiba está em estado de conservação deplorável”. De acordo com o vereador, a ciclovia da Avenida Victor Ferreira do Amaral precisa ser recuperada, bem como o ramal da Rua Flávio Dallegrave – o trecho tem mais de dez quilômetros de extensão.

Em fevereiro, a Gazeta do Povo mostrou as péssimas condições da ciclovia da Rua Rio Norte Belém, próximo ao Parque São Lourenço. “As melhores ciclovias de Curitiba estão na região central. Em ruas do Boqueirão, Parolin e Portão, temos problemas com buracos, ciclovias interrompidas, falta de iluminação e segurança”, reclamou, à época, o coordenador do grupo de ciclistas amadores Pedala Fanny, Moacir Fachini.

O servidor público Divo Maia cita também problemas de rebaixamento de guias e nas interseções das ruas. “Falta sinalização nos cruzamentos. Não tem indicação de preferência, o que é uma norma”, afirma. O ciclista utiliza apenas alguns trechos de ciclovia no percurso. Nos demais, opta por uma via mais calma com asfalto mais bem conservado.

Nos últimos anos, de acordo com a prefeitura, foram recuperados 350 metros da ciclovia do Parque Bacacheri e na que passa na Rua Rio Norte Belém, nas proximidades com a Rua João Guariza, no São Lourenço, em função da erosão.

Bike + ônibus

A integração bike e transporte público também gera desânimo aos ciclistas. De acordo com a Urbs, responsável pelo sistema de transporte público de Curitiba, a cidade tem 301 vagas para bicicleta nos 21 terminais de ônibus - média de 15 por estação. Mas eles são insuficientes e inseguras, segundo os ciclistas. Em 2015, a prefeitura chegou a anunciar a instalação de bicicletários nos terminais, mas o projeto não vingou.

De acordo com os ciclistas, espaços mais seguros possibilitariam integração completa entre dois modais. A cidade de São Paulo, por exemplo, utiliza de maneira integrada metrô e bicicleta. “Vários vizinhos vão de bike de Quatro Barras até Curitiba. Como não tem integração com o transporte, eles têm que desmontar a bicicleta e colocar num saco descaracterizado”, afirma Lorenzetto. “Morei muitos anos na Europa e lá você pode ir com a bike para o centro com o trem ou com o ônibus”.

Outra iniciativa que não emplacou foi o embarque das bicicletas nos ônibus, o chamado BRT Bike. Desenvolvido numa parceria entre a Secretária Municipal de Trânsito e a Urbs, o serviço se encontra disponível apenas na linha Centenário-Campo Comprido, que possui 21 km de extensão, transporta em média 110 mil passageiros por dia e passa pela Praça Rui Barbosa. O veículo foi adaptado para transportar duas bicicletas e ainda está em fase de estudo. A Urbs prepara um relatório para verificar utilização e impacto na cidade. O espaço fica perto da porta 5, nos fundos do ônibus, e conta com cintos de segurança.

Maia acha que essa integração teria que levar em conta os universitários. “Incentivaria os estudantes a ir de bicicleta. Muitos já vão de bicicleta para a faculdade. Mas por causa do cansaço ou da chuva, eles teriam a opção do ônibus sem mudar o ritmo. Mas é preciso que isso também seja seguro”, aponta.

Outra ideia que é debatida entre os ciclistas, de acordo com o servidor público, é o compartilhamento das vias expressas. “Em Londres, esse projeto teve êxito. As linhas exclusivas da Rua XV, da Wenceslau Brás. Já existe autorização para o táxi, poderia ter para ciclistas. Além do acesso, geraria conscientização aos poucos sobre vias compartilhadas”, aponta.

Roubos

Ciclistas de Curitiba também são alvos frequentes de assaltos, o que assusta os que precisam voltar do trabalho à noite, por exemplo. De acordo com o Cadastro Nacional de Bicicletas Roubadas, que tem como objetivo mapear áreas de risco para ciclistas, Curitiba é a terceira capital com mais roubos em 2017, com 16 casos, atrás apenas de São Paulo (99) e Rio de Janeiro (46).

De acordo com o site, lançado em 2014, Curitiba concentra 8,38% dos casos no Brasil: foram 263 furtos, 60 roubos (com ação violenta), 323 ocorrências no total. São Paulo lidera o índice com 873 casos (656 furtos e 217 roubos), seguida pelo Rio de Janeiro, com 566 ocorrências (364 furtos e 202 roubos). O Paraná é o terceiro estado mais atingido do país.

Divo Maia é um caso extremo dessa realidade. Há algum tempo, ele foi vítima de um assalto a mão armada e bandidos levaram a sua bicicleta. Em um mês, no entanto, ele conseguiu recuperá-la depois de uma ação policial. “Fui uma exceção, porque a maioria dos ciclistas não consegue recuperar as bicicletas”.

De acordo com o aplicativo Onde Fui Roubado, de janeiro a 14 de agosto deste ano, ocorreram 365 crimes em Curitiba. A bicicleta é o quinto objeto mais visado, atrás apenas de bolsa/mochila, cartão de crédito, carteira e celular. É a sexta cidade com mais registros no país. Os casos atingiram na maioria mulheres, 63%.

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