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Alagamentos já começaram a fazer parte da rotina do curitibano | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Alagamentos já começaram a fazer parte da rotina do curitibano| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Os problemas que as chuvas causaram em Curitiba neste ano deram uma pista de como deverá ser o verão 2018/2019 na capital: repetições de parte dos alagamentos que ocorreram na última estação de chuvas. A constatação vem da análise do lento andamento das obras de drenagem em toda a capital, previstas como a solução para os problemas pelo Plano Diretor de Drenagem (PDD). Apesar de alguns desses reparos planejados já estarem sendo feitos e terem sido acelerados por causa dos alagamentos, a Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP) explica que são principalmente os trâmites legais que impedem as obras mais impactantes de saírem do papel antes de 2019 ou 2020.

Um dos pontos críticos da cidade é a região do Água Verde, onde o Cemitério Municipal chegou a ter túmulos submersos no início do ano. Por lá ,os moradores não devem esperar grandes melhorias tão cedo, apesar da gravidade da situação. A Secretaria de Obras garante que todas as obras feitas em Curitiba afetam a bacia hidrográfica como um todo, o que pode reduzir a intensidade do problema já neste verão. No entanto, uma ampliação de galerias está ainda em fase de licitação do projeto arquitetônico, deixando a obra sem previsão para conclusão.

OBRAS: Veja a lista de obras de macrodrenagem previstas para a cidade

Já os bairros Alto da XV e Cristo Rei, que tiveram suas vias inundadas diversas vezes nos últimos anos, devem ter uma melhoria na drenagem no ano que vem. Isso irá ocorrer com a instalação de reservatórios subterrâneos entre os bairros, com capacidade total de 9 milhões de litros de água – o equivalente a 12 piscinas semiolímpicas. As contenções serão em três ruas: João Américo de Oliveira, Camões e Rua do Herval, que integram a bacia do Rio Juvevê, afluente do Rio Belém. Por enquanto, esse projeto está em fase de licitação de obras, que estão previstas para começar em 2019.

Segundo Claudio Guillen, engenheiro e gerente de Projetos da Secretaria Municipal de Obras Públicas, mesmo com a probabilidade de novas ocorrências nos próximos meses, o nível das enchentes deve ser menor em algumas regiões da capital. “O motivo é a conclusão de algumas obras de limpeza e assoreamento no Rio Pinheirinho e na parte Sul do Rio Barigui”, afirma o especialista. Essas alterações aliviaram as galerias de alguns bairros da região Sul e Centro-Oeste da cidade, e pode até ter efeitos em outras áreas, já que o sistema pluvial é integrado.

Veja também: Chuva em Curitiba: bairro fica sem luz e ruas são bloqueadas

Um dos bairros beneficiados pela limpeza é o Parolin, que costuma ter algumas das piores enchentes da cidade há décadas - e cujos moradores chegaram a fazer protestos após alagamentos críticos em março deste ano. Há expectativa de melhora também da região da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), onde um temporal no início de março fez com que 200 pessoas tivessem de sair de suas casas por causa de alagamentos.

Os grandes projetos de macrodrenagem, como o dos reservatórios no Alto da XV, ainda podem demorar a serem todos concluídos. Eles integram os projetos aprovados junto ao Ministério das Cidades, que já liberou R$ 480 milhões em recursos federais para dezenas de obras em Curitiba. No entanto, a prefeitura afirma ter 36 equipes em trabalhos constantes de microdrenagem. Com média de cinco trabalhadores por equipe, os grupos se dividem em tarefas menores, como limpeza dos rios e conserto de galerias. Todas essas manutenções, que são custeadas pela prefeitura e não dependem de licitação,funcionam impedindo a água de subir ainda mais.

Rua alagada no Centro de Curitiba em 2017Albari Rosa/Gazeta do Povo

Origem do problema e soluções

De acordo com o engenheiro da SMOP, as enchentes em Curitiba têm três causas principais: aumento imprevisível do volume de chuvas, crescimento do nível de impermeabilização da cidade e a destinação incorreta de lixo.

Com o aumento exponencial da quantidade de chuvas, que tem se concentrado em meses específicos nos últimos anos, os rios e galerias acabam não tendo tamanho suficiente para aguentar o volume de água. Isso pode ser resolvido com obras de perfilamento e assoreamento de rios, o que tira a areia e outros resíduos das margens, aumentando-as.

Já a impermeabilização do solo acontece com o desenvolvimento mal planejado da cidade, que vai sendo concretada por cima das áreas de gramados que absorviam a água. “Por isso é necessário que a população deixe sempre um pedaço de grama em sua propriedade, conforme a legislação. Ou então que as pessoas construam reservatórios subterrâneos de contenção também em áreas privadas”, conta o engenheiro Guillen.

A solução dos reservatórios em terrenos particulares é defendida também pelo pesquisador Roberto Fendrich, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O especialista é da opinião de que todo qualquer tipo de construção na cidade deve tê-los - o que já é obrigatório para terrenos cuja impermeabilização ultrapassem 75% da área total.

Também existem outras formas de a própria população ajudar a conter a situação. Entre elas, a principal é garantir que o lixo tenha a destinação correta - tanto o reciclável e comum, quanto o lixo de construções e reformas, que deve ser colocado em caçambas e eliminado adequadamente. Enquanto essa consciência não for transformada em ação, a população continuará vendo seus efeitos negativos. De acordo com a prefeitura, são retiradas 120 toneladas de lixo dos rios da cidade todos os meses.

Outro problema, talvez ainda mais complexo, é de ordem social: as ocupações irregulares das margens de rios, que impedem que as águas tomem seu curso, propiciam maior descarte de lixo nas águas e, de quebra, ainda colocam esses habitantes em risco. Segundo dados da Defesa Civil de Curitiba, ao longo do ano passado, 183 pessoas foram desalojadas por causa de chuvas.

Alagamento no Rebouças em 2016 Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Planejamento a longo prazo

Apesar de ter acontecido de maneira intensa na última temporada, o problema das enchentes em Curitiba não é novidade. Pelo menos desde a metade do século passado foram muitas as ocasiões em que as vias ficaram alagadas. Na opinião de especialistas, isso ocorre porque os urbanistas da capital estão sempre correndo atrás do prejuízo, no lugar de trabalhar também na parte de prevenção de futuros problemas.

Para o professor Fabio Teodoro de Souza, do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), como em praticamente todas as cidades dos países em desenvolvimento, em Curitiba sempre tentam o agora e esquecem o planejamento de longo prazo. “Se é um problema que existe há muitos anos, ao longo de décadas, não existe solução do dia para a noite”, critica.

No entanto, planejar décadas à frente não é tarefa fácil do ponto de vista da administração pública, garante Guillen. “Não temos como planejar obras a longuíssimo prazo principalmente por causa dos gastos: para fazer uma caixa de retenção com o dobro do tamanho, no caso de chuvas ainda mais intensas na próxima década, por exemplo, teríamos que aprovar quatro vezes mais recursos”, estima o engenheiro. Isso se tornaria inviável considerando que boa parte do orçamento vem do Ministério das Cidades, que só concede os recursos aos municípios que apresentem planos muito bem estruturados.

O Plano Municipal de Saneamento, dentro do qual está inserido o Plano Diretor de Drenagem, precisa ser atualizado a cada 10 anos para obter qualquer aprovação no Ministério das Cidades. É o caso do documento atual, que foi revisto em 2017. A promessa é que, com as obras já previstas começando a sair do papel, novos projetos sejam licitados, criando um círculo virtuoso que impedirá a cidade de ficar parada em termos de adaptação de suas galerias pluviais. Mas, até lá, a cidade deve continuar alagada durante chuvas fortes.

Veja a lista de obras de macrodrenagem previstas para a cidade:

BACIA DO BELÉM

- Obra em andamento:

Rio Pinheirinho

- Aguardando licitação:

Bacia de detenção no Rio Pilarzinho

Galeria celular das ruas João Américo de Oliveira, Camões e do Herval

Bacia de detenção nas ruas Mamoré e Solimões

Perfilamento do Rio Pilarzinho

Projetos de mitigação de cheias no Rio Água Verde

Obras de mitigação de cheias no Rio Belém

Muros de contenção no Rio Belém

BACIA DO BARIGUI

- Em andamento:

Perfilamento do Rio Barigui (trecho sul)

Muros de contenção do Rio Barigui (trecho sul)

Conduto forçado Olarias

- Aguardando início das obras:

Bacia de Detenção do Ribeirão do Müller

- Aguardando licitação:

Galeria celular no Rio Cascatinha com a Rua Cel. Carlos Vieira de Camargo e com a Rua Marchanjo Bianchini

BACIA DO RIBEIRÃO DOS PADILHAS

- Aguardando licitação:

Obras de mitigação de cheias da Bacia do Ribeirão dos Padilhas

BACIA DO RIO ATUBA

- Aguardando licitação:

Obras de mitigação de cheias da Bacia do Rio Atuba

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