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Ogeny Pedro Maia Neto, presidente da Urbs
O presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto.| Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo

Em meio à pandemia de coronavírus, Curitiba tenta encontrar um equilíbrio entre as restrições de isolamento social e a retomada das atividades normais, especialmente as econômicas. Uma das principais peças desse quebra-cabeça é o transporte coletivo - onde as aglomerações são potenciais focos de propagação da Covid-19. A prefeitura, o comércio e as empresas de ônibus seguem buscando o caminho para minimizar esse problema. Ajustar os horários dos serviços e atividades comerciais deve ser a próxima aposta.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente da Urbs, responsável pelo transporte coletivo na capital, Ogeny Pedro Maia Neto, explicou a ideia de escalonamento das atividades econômicas e afirmou que, com o aumento da circulação de pessoas após a reabertura do comércio, o sistema de transporte está no limite para conseguir cumprir a regra de lotação de 50%.

A Urbs reconhece que está havendo aglomeração em ônibus e terminais, transformando o transporte coletivo em um possível polo de contaminação pelo coronavírus?

Nós temos que atacar a causa do problema e não o efeito. A causa do problema é que estamos com a retomada da atividade econômica. O efeito é que as pessoas estão mais na rua e, obviamente, o transporte coletivo é mais solicitado. Mas seguimos numa situação de pandemia, uma situação nunca vista no mundo, em tempo algum. E, por isso, temos que operar o transporte coletivo com normas de distanciamento. E temos feito isso com fiscalização, orientação de 50% [de ocupação] nos ônibus, com o exército orientando a população nos terminais. Mas com a cidade “voltando ao normal” isso não é possível. Esse normal não é mais possível. A sociedade precisa entender que não existe mais esse normal. Tem que existir conscientização das pessoas e do empresariado, pois só com flexibilização dos horários conseguiremos manter esse distanciamento social que é importantíssimo. Já estamos com 80% da frota, podemos aumentar para 100%, porém, depois disso não tem mais o que fazer. E já temos linhas que já estão com 100%. Então, temos que corrigir o problema na origem. Não estou dizendo que o retorno da atividade econômica não deva ocorrer, mas tem que haver equilíbrio entre a retomada da atividade e a saúde das pessoas. O escalonamento de horários é a principal solução.

Como será feito esse escalonamento a partir dos dados do vale-transporte?

A gente está copilando dados que temos dentro do nosso sistema de bilhetagem eletrônica para, na segunda-feira, apresentarmos aos setores interessados. Vamos identificar as atividades por horário dentro do transporte coletivo. Temos 60% de todo o volume do transporte coletivo comprado pelas empresas através do vale-transporte. Estamos cruzando os dados das empresas com o ramo de atividade delas. Baseado nisso, vamos saber quantos passageiros por tipo de atividade estão se deslocando por hora dentro do sistema. Sabendo disso, poderemos determinar um horário para o início de cada atividade, fazendo uma diluição do horário de pico. Vamos fazer um cronograma de funcionamento por atividade.

A frota que circulava em dias normais é o máximo que o sistema pode oferecer? Não há ônibus sobressalentes, ou possibilidade de remanejamento para que as linhas de maior demanda tenham, até, mais que 100% da frota?

O 100% da frota é o todo, é tudo o que nós temos. Porém, o 100% da frota, devido à pandemia, só consegue transportar 50% do que se transportava antes. E hoje já estamos transportando 35%. Por isso que precisamos do escalonamento.

A prefeitura de São Paulo determinou a circulação de ônibus apenas com passageiros sentados. Isso é utópico para Curitiba?

Isso é utópico em qualquer sistema, inclusive no deles. Eles não vão dar conta de fazer isso, está todo mundo vendo. O único jeito de se fazer isso é se passar a conter as pessoas para não entrar no coletivo. Os ônibus deixando de pegar os passageiros à medida que atinja essa lotação, e os passageiros do meio do caminho vão ficando. Aqui, é preciso que as pessoas se conscientizem de não entrar em ônibus cheio, porque frequência no sistema existe.

O prefeito Rafael Greca gravou um vídeo se mostrando indignado com a presença de idosos no transporte coletivo. Algumas cidades decidiram suspender a gratuidade para idosos como forma de tentar evitar a presença de pessoas deste grupo de risco nos ônibus. Curitiba cogita isso?

Não queremos cancelar gratuidade dos idosos ou portadores de deficiência. Queremos que haja bom-senso dessas pessoas para que marquem seus compromissos no horário do entrepico, entre 10 h e 16 h, que o horário de menor fluxo. Nesses horário as pessoas teriam conforto e estariam contribuindo para sua saúde e saúde dos outros. Nestes horários, os ônibus estão vazios. Já estamos contatando a migração das isenções para esse horário, mas ainda há alguns insistindo em transitar no horário de pico.

O presidente da ACP revelou uma preocupação do prefeito com o custo do sistema se os ônibus circularem vazios. Há também essa preocupação?

Há, sem dúvida, essa preocupação. Seria a mesma coisa que um trabalhador querer manter 100% de seus gastos recebendo só 30% de seu salário. Não dá. Então, temos a preocupação com o custo disso também. E temos que ter a medida de virtude nas coisas, para que não tenhamos descompasso, desequilíbrio financeiro no sistema e nem desequilíbrio de saúde.

Esse escalonamento dos horários será possível apenas com um acordo com as entidades que representam o empresariado ou será necessária uma legislação para garantir que a regra funcione?

A gente está conversando abertamente com os representantes dos empresários e achamos que é possível fazer isso com entendimento, porque todos são esclarecidos de que estamos numa pandemia e querem preservar a saúde de seus funcionários. Mas, se isso não ocorrer, vamos pedir sim para que isso seja regulamentado por uma legislação, seja do governo municipal ou do estadual.

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