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Francisco Pereira Netto, em momento familiar.
Francisco Pereira Netto, em momento familiar.| Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo depois do falecimento de Francisco Pereira Netto, no dia 20 de outubro, aos 89 anos, a cadeira onde sentava todos os dias para tomar chimarrão, fumar cachimbo e bater papo com todos que por ali passavam continua na varanda da casa, no bairro Campo de Santana, extremo sul da cidade. Pioneiro na região, fundou uma das maiores granjas do estado nas décadas de 70 e 80 e, filho único, fez crescer uma família que hoje tem 110 pessoas.

Chico Pereira, como era mais conhecido, chegou ao local onde criou tudo isso aos dois meses de idade e dali nunca mais saiu. Onde havia apenas algumas dezenas de famílias e muito campo, viu crescer uma produtiva área da cidade. Nos negócios, começou com um pequeno armazém e bar. Em seguida abriu a granja que seria sua grande paixão. No começo eram 200 pintinhos, mas a empresa cresceu e chegou a ter 300 mil frangos. Dela participavam os filhos, cada um responsável por um setor.

“Cuidava bastante da granja e mantinha tudo na ponta do lápis. Cada filho tinha uma responsabilidade, como moinho, poedeiras ou o galinheiro. Era como uma cooperativa familiar”, conta a filha Celia Regina Pereira de Conto. Em todo esse processo, seu braço direito era a esposa, Deomira Constantina Bonato Pereira. Depois de aposentado, no fim da década de 1980, continuou se dedicando à criação de animais, mas desta vez por lazer. Na chácara no Passo Amarelo, região da Fazenda Rio Grande, cuidava de um pouco de gado, carneiro, peixes no tanque para pesca, do plantio de pasto. Tudo para manter a cabeça que trabalhou a vida inteira ocupada.

Foi importante para a comunidade em vários aspectos, além de empregador. Em uma época em que o local era isolado em termos de atendimento médico, era ele quem levava todos os que precisassem de socorro para a unidade de saúde mais próxima, que em geral era a muitos quilômetros de distância. Por um tempo o seu era o único telefone da vizinhança, o que tornou a casa uma espécie de estação telefônica informal, já que quem precisava ligar ou receber ligações indicava o Chico Pereira como referência.

Fiel à religião católica, sua participação no fortalecimento da igreja foi essencial para o crescimento dela por aquelas cercanias. E isso inclui todos os causos a que tem direito. Sempre amigos dos padres e párocos, em uma noite após visita pastoral no começo dos anos 90, recebeu o Bispo Dom Pedro para um jantar em casa. Durante a refeição, surge a solicitação por parte da comunidade, e repassada ao bispo por Chico, da criação de uma paróquia ali perto, pois as demais eram distantes. Sem contar com a agilidade de Chico para fazer as coisas acontecerem, a resposta do bispo foi que, assim que o granjeiro construísse uma casa paroquial, a igreja mandaria um padre.

Chico não negava um desafio. Assim, depois de algumas ligações e com a ajuda de amigos, foi construída a paróquia dentro de alguns meses. Com a chave na mão e a promessa na memória, foi visitar o bispo que, surpreso com a rapidez no atendimento de seu pedido, destinou um padre ao local e inaugurou a paróquia.  Os jogos de truco – com duas turmas diferentes, uma na terça-feira e outra na quinta – eram tradicionais, assim como os cafés da tarde com a família aos sábados, pontualmente às três da tarde. A despedida do homem que adorava reunir amigos, festa e música, fez jus aos seus gostos. Como pedido por ele, gaiteiros tocaram em seu velório uma música sobre lembranças e outra sobre amizade. Chico Pereira deixa 12 filhos, 34 netos, 30 bisnetos e 4 trinetos.

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