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Doação de sangue.
Doação de sangue.| Foto: Sesa

A combinação de estoques baixos e necessidade cada dia maior de hemoderivados nos hospitais com a flexibilização das restrições sanitárias da pandemia ameaça os bancos de sangue de Curitiba se as doações não aumentarem consideravelmente.

O cenário no momento é de alerta, aponta o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar), órgão da Secretaria Estadual de Saúde responsável por suprir 42 hospitais de Curitiba e Região Metropolitana, cujo estoque de componentes sanguíneos está 50% abaixo da demanda que não para de crescer.

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"A situação está bem preocupante e podemos ter ainda mais problemas na frente se as doações de sangue não aumentarem. O momento é de bastante preocupação em todos os serviços de hemoterapia do Paraná, principalmente Curitiba", enfatiza a diretora-geral do Hemepar, a enfermeira Liana Souza.

Com o quadro da Covid-19 melhorando com o avanço da vacinação, restrições sanitárias estão diminuindo, permitindo a maior circulação da população. O resultado é cada vez mais prontos-socorros lotados com pacientes com traumas de acidentes de trânsito e violência, os quais precisam de grandes quantidades de sangue. Além disso, como não é mais necessário reservar leitos para pacientes com Covid-19, as cirurgias eletivas - aquelas que não são emergenciais - foram retomadas, o que, dependendo do procedimento, também demandam hemoderivados.

E aí a conta não fecha. A quantidade de doadores caiu consideravelmente desde o início da pandemia e se mantém estagnada há meses. "O problema é que a doação segue baixa, mas agora a demanda não para de crescer", explica Liane. "O doador deixou de doar sangue de medo de se infectar com Covid-19, mas estamos tomando todos os cuidados para que isso não ocorra, com horários agendados, higienização das poltronas de doação, ambiente arejado. Além do que, vale lembrar, a doação não transmite Covid-19", argumenta a diretora do centro.

Para atender a necessidade dos hospitais, o Hemepar precisa atualmente de 180 doadores por dia. São 130 bolsas de sangue só para cirurgias de traumas e aproximadamente 50 para cirurgias em geral, incluindo procedimentos relacionados à Covid-19. Porém, há meses o centro alcança apenas metade dessa necessidade, com média entre 80 e 90 doações diárias. Antes da pandemia, a média diária era de 140 doadores no Hemepar da capital, cuja capacidade de coleta é de 240 bolsas de sangue por dia.

Com tal quadro, resta ao Hemepar buscar bolsas de hemoderivados nas outras 20 unidades do interior, onde a demanda por sangue também vem crescendo, mas ainda não no patamar da capital. "Hoje 30% da nossa necessidade em Curitiba é atendida por coletas no interior. A gente vê onde tem excedente e traz. Antes, só trabalhávamos dessa maneira em casos excepcionais", relata a diretora do Hemepar.

Só as filas de ambulâncias com pacientes acidentados nos hospitais do Trabalhador e Evangélico Mackenzie há três finais de semana atrás consumiram todo o estoque do Hemepar. Foram 30 ambulâncias em 24 horas - mais de uma por hora. Foram usadas nesses atendimentos 80 bolsas no Hospital do Trabalhador - o dobro do que a unidade costuma requerer por dia normalmente - e outras 56 no Evangélico Mackenzie.

"Sorte que tínhamos um motorista voltando do interior nesse dia. Liguei e pedi para ele desviar a rota e buscar urgente bolsas em Foz do Iguaçu e Francisco Beltrão. Senão, ficaríamos sem sangue", afirma Liana. "Se tivesse uma emergência naquele momento em Curitiba e região metropolitana, uma acidente de grande porte, algo assim, teríamos que emprestar sangue dos bancos privados. O problema é que ninguém tem sangue para ceder hoje", reforça a diretora do Hemepar.

Cirurgia eletiva

Se o número de doadores não aumentar, as cirurgias eletivas podem ser impactadas novamente. Os hospitais reservam antecipadamente sangue para esses procedimentos. Porém, se a quantidade de cirurgias nos prontos-socorros for muito alta, o sistema pode requerer o sangue que seria usado nas cirurgias eletivas para atender pacientes que estão entre a vida e a morte.

"Só um paciente grave pode consumir até 32 bolsas de componentes sanguíneos em um período de duas a três horas só para estancar a hemorragia. Isso sem contar o sangue que ele vai precisar na cirurgia", reforça Liana. "Por isso a população tem que se conscientizar não só da importância da doação de sangue, mas também de todos os cuidados para não precisar de atendimento nos prontos-socorros, como não beber e dirigir. O momento é realmente crítico", aponta a diretora do Hemepar.

Banco dos hospitais

Os hospitais que têm seus próprios bancos de sangue também estão em dificuldade. Um deles é o Hospital Erasto Gaertner, referência no tratamento de câncer, doença que requer muitas transfusões no tratamento. O banco de sangue do Erasto está operando com apenas 40% da demanda. Por dia, o hospital precisa de 50 bolsas de sangue, mas tem feito apenas entre 20 e 25 coletas por dia.

"Nossa demanda não diminuiu na pandemia porque o câncer é uma das doenças que não tiveram restrições de tratamento. Mas antes, quando não tínhamos sangue, procurávamos o Hemepar ou outros bancos de sangue que nos cobria. Agora não temos mais essa retaguarda. Todos os hospitais estão precisando de sangue e as pessoas ficaram com medo de doar na pandemia", explica a diretora-técnica do Erasto Gaertner, a médica Carla Simone da Silva.

Carla, que é cirurgiã oncológica, explica que o paciente com câncer precisa de transfusões constantes por vários fatores: o tumor muitas vezes impede que a medula produza células sanguíneas, além do próprio tratamento, como radioterapia e quimioterapia, serem tóxicos à medula. "A transfusão, muitas vezes, é para fortalecer o paciente para o tratamento", explica a médica.

A diretora-técnica do Erasto Gaertner afirma que diante do quadro preocupante, os hospitais que têm banco de sangue estão sendo solidários entre si no empréstimo de hemoderivados quando é possível. Mas essa situação, enfatiza a médica, é bem longe do ideal. "Se a demanda continuar aumentando e não aumentar a quantidade de doadores, pode sim ter um colapso do sangue em Curitiba", alerta a cirurgiã-oncológica.

Por isso Carla também reforça a importância da doação. "A gente precisa desse apoio dos doadores. Afinal, ninguém sabe quando vai precisar de sangue", reforça.

Quem pode doar?

Para doar sangue, a pessoas precisa ter entre 16 e 69 anos completos - os menores precisam de autorização dos pais ou responsáveis. O doador precisa pesar no mínimo 51 quilos,  estar descansado, alimentado e hidratado (evitar alimentação gordurosa nas quatro horas que antecedem a doação).

Pessoas imunizadas contra a Covid-19 podem doar sangue normalmente, desde que aguardem o período estipulado para cada tipo de vacina.

Homens podem doar sangue a cada dois meses. Para as mulheres, o intervalo é de três meses.

Onde doar sangue em Curitiba

Hemepar

Travessa João Prosdócimo, 145, Alto da XV. Telefones: (41) 3262-7676 e 0800 645-4555. A doação deve ser agendada pelo site do Hemepar.

Hemobanco

Rua Saldanha Marinho, 1.964, Bigorrilho. Telefone: (41) 3023-5545. A doação deve ser agendada no site do Hemobanco.

Hospital Erasto Gaertner

Rua Dr. Ovande do Amaral, 201, Jardim das Américas. A doação deve ser agendada no telefone (41) 3165-4509.

Hospital de Clínicas (HC)

Avenida Agostinho Leão Jr., 108, Alto da Glória. Telefone: (41) 3360-1875. A doação pode ser agendada no site do Biobanco do HC.

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