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Teatro privado e independente, Lala Schneider completa 25 anos
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Corria o ano de 1993. O ator e diretor João Luiz Fiani descia a rua 13 de Maio quando viu a placa “aluga-se” em um barracão abandonado.

Fiani vislumbrou no imóvel da antiga “rua direita” uma solução para o dilema que o angustiava desde que chegara à cidade, vindo do Rio de Janeiro, no final da década de 1970.

“No Rio, as peças ficavam longas temporadas em cartaz. Aqui a gente ensaiava muito, às vezes durantes meses, mas os espetáculos ficavam só vinte dias em cartaz”, lembra.

“A gente”, de quem fala Fiani eram seus colegas do Curso Permanente de Teatro do Colégio Estadual do Paraná. Uma geração brilhante que tinha Nena Inoue, Luiz Melo, Paulo Friebe, entre outros.

Ele então decidiu que era a hora de abrir um espaço próprio. No primeiro momento, houve um consórcio de artistas que colocaram a mão na massa para colocar a ideia do teatro próprio para frente.

Fiani lembra que saiu com uma maquete do projeto e uma pasta 007 batendo de porta em porta: uma loja de matérias de construção deu os tijolos, uma empreiteira as portas e etc...

Menos de um ano depois, já em 1994, o barracão que um dia foi um depósito e depois uma gráfica se transformou em um complexo de três salas de teatro.

E foi assim que, há 25 anos, com o espetáculo Gnomos, de Édson Bueno, dirigido por Regina Vogue e com Ranieri Gonzalez no elenco, inaugurava o Teatro Lala Schneider, no centro histórico de Curitiba.

Teatro privado e sem mecenas

Desde então o Lala se mantém como raro caso de teatro privado que se sustenta sem um mecenas milionário, sem apoio de qualquer empresa e sem editais de leis de incentivo à Cultura.

“Há outros teatros particulares no Brasil, mas em geral, com algum apoio importante por trás. Nós somos independentes. Vivemos de bilheteria e tomamos cuidado quando uma peça estreia porque temos contas a pagar", explica Fiani.

O esquema de artistas associados durou pouco tempo. Em menos de três anos, Fiani ficou sozinho a frente do teatro.

A necessidade em manter o negócio vivo o fez apostar numa linguagem popular e no humor para chegar ao público.

O batismo do espaço é caso à parte. Cada sala leva o nome de um personagem do teatro paranaense. A maior, com capacidade para 185 pessoas, chama-se Odelair Rodrigues.

A segunda tem capacidade para 100 pessoas e o nome do ator e diretor Edson D’Ávila. Uma terceira sala homenageia Armando Maranhão, fundador do Teatro de Estudantes do Paraná.

Todo complexo, porém, foi batizado com o nome da mais importante atriz paranaense, Lala Schneider (1926-2007), de quem Fiani foi amigo e discípulo. A homenagem foi anunciada teatralmente, em um arroubo de Fiani.

“Invadi o palco no final da peça Flô em Palácio de Urubus em meio às palmas finais. Ela se assustou e achou que eu tinha ido ali roubar os aplausos. Depois ela ficou emocionada com a homenagem”, lembra.

Fiani e seu teatro: 25 anos de independência.
Fiani e seu teatro: 25 anos de independência.

A opção pelo teatro popular, com olho no gosto do público e no borderô da bilheteria, rendeu longevidade ao teatro, mas certa reserva silenciosa ao seu trabalho da parte de colegas e estudiosos do teatro.

“O Nélson Rodrigues disse que toda a unanimidade é burra. Tem uma parte da classe que faz cara feia e quase todo mundo da academia. Mas isso é uma crítica que Móliere (dramaturgo francês do século 17) já recebia. Eu estou no lucro”, brinca.

Para se manter, além da bilheteria das peças, o Lala Schneider oferece cursos de interpretação para crianças e adultos. Detalhes do curso podem ser acessados na página do Teatro Lala Schneider.

Cenário preocupante

O humor de Fiani só muda quando ele analisa o cenário atual do teatro brasileiro que, a seu ver, enfrenta a maior crise de sua história.

“A grande verdade é que este é o pior momento do teatro brasileiro em toda sua história. Há uma transformação em curso e a gente não sabe ainda como vai ficar”, diz.

A fala de Fiani, que foi secretario estadual de Cultura entre os anos de 2015 e 2018, se refere ao fim da secretaria no Paraná e do Ministério da Cultura no nível federal, além do esvaziamento das políticas culturais no país.

Ele conta que apesar de ter ficado satisfeito com sua atuação frente à pasta da Cultura se sente mais à vontade no palco e nas coxias. “Minha vida é no palco”.

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