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Lobo marinho é um dos pacientes atuais do CEM-UFPR | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Lobo marinho é um dos pacientes atuais do CEM-UFPR| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Após cerca de 20 anos, os animais marinhos resgatados vivos nas praias do Paraná serão reabilitados em uma nova estrutura, maior e mais moderna, antes de retornarem ao mar. O Centro de Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos (CRD) do Projeto de Monitoramento de Praias Bacia de Santos (PMP-BS) está em fase final de construção junto ao Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM-UFPR) e deve ficar pronto ainda esse ano para receber tartarugas, golfinhos, lobos-marinhos, pinguins e outros animais que costumam aparecer na orla paranaense.

Os 800 metros quadrados da nova área ficam em Pontal do Sul, anexos ao edifício da universidade em Pontal do Paraná. A estrutura, uma espécie de hospital marinho, é inteira de contêineres e conta com piscinas e recintos modernos, além de laboratórios de análise três vezes maiores do que os atuais. Outra parte importante da estrutura é a sala de educação ambiental, que será usada para receber estudantes de escolas da região para aprenderem sobre a importância da fauna do litoral.

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A nova estrutura é motivo de alegria para os pesquisadores do CEM-UFPR, que desde 2015 atuam em uma residência alugada também na região de Pontal do Sul. O novo hospital será capaz de receber aproximadamente 120 animais: 100 pinguins, 10 aves voadoras, um golfinho, um lobo-marinho e 10 tartarugas marinhas, além de atender emergências ambientais que possam ocorrer na região. “Já chegamos a deixar de atender animais por falta de estrutura, mas agora isso não deverá mais acontecer”, comemora a bióloga Camila Domit, coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação do CEM-UFPR, que é a responsável institucional da UFPR pelas questões técnico-científicas da obra.

Para a equipe do centro, a mudança representa não apenas um aumento da capacidade de atendimento, mas a possibilidade de trazer mais qualidade ao tratamento dos animais. “A gente está lidando com vidas o tempo todo e infelizmente muitas vezes com a morte também. Então é muito mais do que um trabalho mecânico e demanda de uma boa estrutura de apoio”, diz Camila.

No novo centro de reabilitação, os animais passam por tratamentos similares aos que humanos recebem. Como exames de ultrassonografia, por exemplo. Haverá também apoio de clínicas para exames de raio-x para avaliar não só fraturas, mas principalmente detectar se há plásticos e outros tipos de lixo no sistema digestivo dos animais — uma das principais causas de morte das espécies marinhas, em especial as tartarugas. No centro também poderão ser aplicados antibióticos e anti-inflamatórios, além de outros atendimentos veterinários como nebulização, o equivalente à inalação, só que feita em uma incubadora ao invés de máscara.

Novo espaço terá capacidade para receber até 120 animaisAlbari Rosa/Gazeta do Povo

“Os princípios dos tratamentos são os mesmos que usamos em pessoas, o que muda de espécie para espécie é apenas a dosagem do medicamento”, explica Carolina de Souza Jorge, 38 anos, uma das médicas veterinárias do PMP-BS

Carolina trabalha há 12 anos com animais marinhos - desde a época da faculdade, quando se envolveu com projetos para auxiliar tartarugas marinhas. De lá para cá, a médica veterinária já teve a alegria de recuperar muitos animais, mas também sofreu muito com os que não resistiram. “É bem difícil quando isso acontece, porque muitas vezes perdemos o animal por ter comido lixo. Ou seja, vemos que nós mesmos, humanos, é que causamos aquele sofrimento”, relata. Por outro lado, a satisfação de ver algum bicho que chegou debilitado sair do centro de reabilitação com a saúde é a maior gratificação do trabalho, concordam Camila e Carolina.

Alimentação

Junto com uma equipe do PMP-BS, Carolina também cuida da parte de alimentação dos bichos, que têm papinhas preparadas no próprio local. Cada espécie recebe um tipo de comida — o que faz com que algumas vezes os biólogos tenham de ir até a praia procurar siris para alimentar tartarugas, por exemplo. Também são oferecidos peixes às espécies como lobos-marinhos e pinguins, geralmente congelados, vindos de fornecedores mais distantes.

Quando os animais já estão na fase final da reabilitação, eles precisam treinar a caça para voltarem ao mar. Neste caso, o momento da comida vira também o de se exercitar nas piscinas de água salgada do centro. “Pedimos para pescadores da região buscarem peixes vivos que são colocados na água como forma de exercitar o animal”, explica a veterinária.

Nova estrutura vai ajudar também na produção e conservação dos alimentos para os animaisAlbari Rosa/Gazeta do Povo

Assim como em um hospital, a quantidade de comida distribuída no centro varia de acordo com o número de animais internados. Costuma girar em torno de 4 quilos por dia. Por isso, a cozinha do novo edifício, maior e mais adequada, será de grande ajuda para a equipe.

No novo CRD, até mesmo a água salgada em que os animais nadam poderá receber um tratamento mais adequado. Reservatórios que chegam a 30 mil litros estão espalhados pela planta do hospital, aptos a passarem por processos de purificação. “A gente vai usar água doce e salgá-la aqui, tirando todos os microorganismos e bactérias para garantir que não há risco de contaminação de animais que já estão com a imunidade baixa”, explica Camila.

A obra faz parte do PMP-BS, atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural no Polo Pré-Sal da Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama. O projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos. No litoral paranaense é executado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação CEM-UFPR.

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