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No total, 14 lojas e dois guichês de passagens estão fechados na Rodoferroviária. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
No total, 14 lojas e dois guichês de passagens estão fechados na Rodoferroviária.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A promessa de transformar as lojas da Rodoferroviária de Curitiba em um centro gastronômico/comercial após a reforma de 2014 não emplacou. Os usuários que circulam pelos blocos estadual e interestadual notam a grande quantidade de boxes vazios. Pelo menos 14 espaços comerciais e dois guichês de passagens estão com as portas fechadas. Segundo comerciantes, a situação é fruto da combinação de aluguéis caros e crise econômica.

A cena se repete nos lados estadual e interestadual e acompanha a degradação do próprio ambiente, com escadas rolantes desativadas, inúmeros bancos sem estofado, banheiros sujos e guichês de agências de viagem bloqueados com papel ou adesivos.

Até pouco tempo atrás, havia na Rodoferroviária um salão de beleza, uma franquia do Boticário, um cybercafé, uma canecaria, uma loja de pijamas e uma filial da Leve Curitiba, que vendia lembranças da cidade. Agora, ocupam os espaços apenas uma revistaria, uma loja de bolsas, seis lanchonetes, uma praça de alimentação com três restaurantes, uma lotérica e uma pequena venda de sorvetes.

Churrascaria fechada na Rodoferroviária: gerente afirma que deve fechar mais uma loja da Rodoferroviária nos próximos meses.Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A placa e os adesivos da churrascaria Espeto de Ouro ainda permanecem em alguns vidros do segundo andar do lado interestadual, mas o entra-e-sai deu lugar a um ambiente completamente vazio. O restaurante abandonou o imóvel em março por causa do aluguel caro (R$ 19 mil) e da queda no número de refeições/dia (de 150 para 80) e na venda de salgados, o que corroeu em 30% o rendimento de 2016 para 2017.

A Espeto de Ouro era de propriedade do mesmo grupo que ainda tem três lanchonetes na Rodoferroviária. Mas, de acordo com o gerente dos estabelecimentos, Thiago Uchôa, 32 anos, não está fora de cogitação o fechamento de mais uma unidade nos próximos meses. “A churrascaria ficou inviável e nossos rendimentos nas outras lanchonetes caíram 40%. Até mesmo o pessoal da Urbs, que almoçava com a gente, não almoça mais”, conta, referindo-se à empresa municipal de transporte que administra a Rodoferroviária. “É um reflexo da crise econômica e do próprio perfil da rodoviária. As pessoas não têm mais ficado no local, passeado. Elas chegam e já saem”. O aluguel das lanchonetes está na faixa de R$ 10 mil. No mesmo andar da antiga churrascaria há apenas uma lotérica e uma loja de bolsas. São seis espaços e um guichê vazios.

Falta de manutenção: estofamento de cadeira danificado.Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Segundo Gracielli Scarpin, dona de uma loja de bolsas cujo faturamento caiu quase 30% de 2016 para 2017, mais da metade dos empresários já deixou a Rodoferroviária. “Das 12 lanchonetes, pelo menos seis fecharam. Existe uma falsa ideia de que isso possa ser bom para a gente, pela questão da exclusividade. Mas as pessoas não se interessam porque não tem opção, é por isso que um shopping funciona, pela oferta: as pessoas caminham e conseguem achar o que precisam”, diz Scarpin.

A Urbs afirma que a rodoviária tem 16 boxes comerciais ocupados e 17 em licitação. Dos que estão em reforma, três devem abrir dentro de 10 dias.

Aluguel

Comerciantes também afirmam que a renegociação dos valores dos aluguéis ajudaria. De acordo com Gracielli Scarpin, os valores estão muito defasados. Enquanto na Rodoferroviária o preço médio do metro quadrado é de R$ 150, no entorno o valor médio é entre R$ 30 e R$ 40. “Desse jeito, pouca gente consegue continuar”, conta a comerciante. A Urbs afirma que trabalha atualmente com duas solicitações de readequação financeira, que ainda não têm resposta.

Gracielli explica que pagava R$ 6 mil de aluguel e condomínio de sua loja. Após levantar o preço médio do metro quadrado da região e de shoppings, ela fez uma proposta de redução à Urbs. “Eles demoraram dez meses para me responder e diminuíram meu aluguel em R$ 1 mil. Mas eu tinha a expectativa de passar a pagar R$ 2 mil de aluguel e condomínio”, conta .

O térreo do lado interestadual também abrigava uma grande lanchonete ao lado do embarque e uma farmácia. A dona de uma banca de revistas que continua no espaço reclama. “O faturamento caiu pelo menos 50%. Eu pago R$ 3 mil de aluguel e é superpequeno. É um reflexo da crise econômica e também do aluguel muito caro. Eu já levei individualmente o caso para a Urbs, mas nada foi feito”, conta Débora Miranda. A comerciante não descarta entregar o ponto ano que vem, quando vencem boa parte das outorgas da Rodoferroviária.

Comércio fechado na Rodoferroviária. Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Sem desembarque, sem fluxo, sem passageiro

Os taxistas também reclamam do abandono da Rodoferroviária. Para alguns deles, há um fator extra: o desembarque exclusivo no lado estadual, modificação adotada nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014.

“A farmácia fechou por causa disso. Não tem uma farmácia na rodoviária, é um absurdo, é uma questão necessária. As lanchonetes são as poucas sobreviventes. O lado interestadual só faz embarque agora, todo o resto está concentrado na parte de trás. Não tem mais circulação na frente e é óbvio que o comércio não aguenta essa exclusão”, aponta o taxista Josnei Alves dos Santos, 51 anos. “Essa situação reflete também nas corridas. Eu fazia 15 a 20 corridas por dia. Agora faço 6 ou 7. Tem a questão do Uber, que está sendo amplamente divulgada. Mas também tem a questão da rodoviária”.

Orlando Carlos da Cruz, 65, afirma que a rodoviária está “completamente abandonada”. “Os banheiros estão sempre sujos, os bancos estão sem estofados, a escada rolante não funciona. Não tem passageiro, parece que ninguém circula mais pela rodoviária fora dos feriados”.

Quem está do lado de trás, o estadual, também reclama. “Cerca de 300 taxistas atendem o desembarque todos os dias. Não tem corrida para todo mundo. O comércio sofre com isso. As pessoas chegam e já vão embora. Depois do pico as corridas diminuem e ninguém frequenta a rodoviária. Nós ficamos horas parados. É uma constatação bem visível”, afirma Antônio Carlos Tucunduva, 65.

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