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Antes do incêndio, policiais à paisana foram filmados atirando contra moradores da Vila Corbélia. | Reprodução/
Antes do incêndio, policiais à paisana foram filmados atirando contra moradores da Vila Corbélia.| Foto: Reprodução/

Policiais militares suspeitos de participação no incêndio de dezembro que destruiu as casas da Vila Corbélia, na CIC, em Curitiba, foram alvos de mandados judiciais na manhã desta sexta-feira (18). Entre os investigados estão os dois PMs flagrados atirando a esmo contra casas horas antes do incêndio que destruiu centenas de residências no local, onde vive uma grande comunidade de refugiados haitianos. O incêndio foi no mesmo dia da morte do soldado da PM Erick Norio, assassinado na Vila Corbélia na madrugada do dia 7 de dezembro. No dia seguinte, o comando da Polícia Militar chegou a declarar que o fogo havia sido causado pelo crime organizado para atrapalhar as investigações do assassinato do policial.

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As investigações estão sendo comandadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), força-tarefa do Ministério Público do Paraná (MP-PR) com as polícias Civil e Militar, e também pela Corregedoria da Polícia Militar, responsável por investigar irregularidades na corporação. Além do incêndio, também estão no foco das apurações ao menos três mortes possivelmente relacionadas com o episódio.

Os policiais filmados disparando na Vila Corbélia não foram presos. Os endereços deles estão relacionados aos dez mandados de busca e apreensão que estão sendo cumpridos pelas equipes em Curitiba, Campo Largo e Piraquara, na região metropolitana, além de Guaratuba, no Litoral.

O Gaeco não confirmou contra quem estão sendo cumpridos os mandados, mas, na esfera militar, as ordens de busca e apreensão foram autorizadas pela Vara da Auditoria Militar a pedido da Corregedoria da PM, que já havia afastado do trabalho de rua os PMs flagrados dando tiros na Vila Corbélia. Na esfera criminal, oito mandados foram expedidos pela 1ª Vara do Tribunal do Júri a pedido do Gaeco. “A Corregedoria da Polícia Militar tem um Inquérito Policial Militar instaurado para verificar todas as transgressões de caráter militar dos policiais. Da parte do Gaeco, a investigação é sobre estes homicídios e sobre o próprio incêndio que atingiu vários barracos”, declarou o promotor de Justiça Leonir Batisti, coordenador estadual do Gaeco.

Os dois policiais que aparecem na filmagem estavam sem farda, mas vestindo coletes balísticos da Polícia Militar. Eles chegaram em um carro descaracterizado. Além dos cerca de 10 disparos a esmo, as imagens mostram que eles xingaram e gritaram ordens para os moradores irem para suas casas.No mesmo dia da gravação, a PM fazia uma operação para identificar o assassino do soldado Norio.

Moradores acusaram a PM de truculência na ação e disseram que casas foram arrombadas a pontapés, sem mandado judicial. Desde o dia do incêndio, inclusive, muitos moradores já culpavam agentes da PM pela tragédia. A indignação foi tanta que, no dia seguinte, um sábado, uma equipe de investigadores da Polícia Civil enviada ao local não conseguiu entrar na vila para iniciar as investigações, tendo uma recepção bem difícil dos moradores. Para chegar ao local, as forças de segurança tiveram de fazer um comboio, com policiais civis, militares e peritos do Instituto de Criminalística e o do Instituto Médico-Legal (IML) .

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Ao menos 300 casas, muitas delas onde viviam haitianos refugiados em Curitiba, foram completamente destruídas pelo fogo, que começou por volta das 22h30 do dia 7 de dezembro. Primeiramente, as chamas tomaram conta de uma pequena concentração de casas de madeira, mas o vento forte ajudou a alastrar a destruição. Por causa da dimensão da devastação, a prefeitura de Curitiba precisou instalar um gabinete de gestão de crise na regional administrativa da CIC.

Mortes

A operação desta sexta também pretende colher mais evidências para esclarecer algumas mortes possivelmente relacionadas ao incêndio na Vila Corbélia. Além do soldado Norio, que foi assassinado a tiros enquanto atendia a um chamado de perturbação de sossego, dois homens foram mortos na Vila entre os dias 7 e 8 de dezembro.

Uma das mortes , informou a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) à época, foi na hora do incêndio. O outro caso teria ocorrido logo após o episódio. Uma terceira situação envolve um motorista de aplicativo que teria ido levar uma passageira à Vila Corbélia algumas horas após o assassinato do soldado Erick. Assim que deixou a jovem, ele foi perseguido por um grupo de pelo menos seis pessoas. O motorista acelerou pelas ruas estreitas e acabou levando um tiro de raspão no pescoço. Ele foi internado e conseguiu resistir ao ferimento.

A morte do soldado Norio - estopim de toda a situação na CIC - também foi investigada à parte. O PM foi assassinado com tiros de uma submetralhadora de uso é exclusivo das Forças Armadas ao ir à Vila Corbélia atender uma chamada de perturbação de sossego. O suspeito de matar o PM se apresentou no mesmo dia do crime, mas foi liberado porque não havia flagrante nem mandado aberto contra ele. Depois de um processo instaurado, ele foi preso quatro dias depois em uma casa no bairro Boqueirão.

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