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Durante restauração, ossada do século 19 é encontrada no Belvedere
| Foto: Foto: Lucilia Guimarães / Prefeitura de Curitiba

Uma ossada do século 19 foi encontrada nesta quarta-feira (4) durante as obras de restauro e revitalização do prédio Belvedere, na Praça João Cândido, no bairro São Francisco, em Curitiba. Os ossos têm cerca de 200 anos e eram de um homem. O material foi encontrado a apenas 40 centímetros abaixo do solo, do lado de fora do prédio, e será estudado por arqueólogos do Museu Paranaense. A retirada dos ossos, apesar de minuciosa, não irá atrapalhar o andamento das obras.

A localização do material não foi uma surpresa para os responsáveis pela restauração. O espaço onde hoje fica o Belvedere já abrigou a Capela São Francisco de Paula, inaugurada em 1811. Muito comum à época, os corpos dos fiéis eram enterrados dentro de capelas e igrejas.

“Como não havia cemitério municipal em Curitiba, era muito comum que os corpos fossem enterrados em capelas e ao redor delas. Nós supomos que tenham uns 500 sepultamentos naquela região”, conta a arqueóloga do Museu Paranaense Claudia Parellada, que participa do restauro.

Devido a esse conhecimento histórico da região, ao iniciar as obras de revitalização do prédio, no início de 2019, a prefeitura de Curitiba, em parceria com o governo do estado, teve o auxílio dos arqueólogos do Museu Paranaense nas áreas que precisavam ser escavadas. “Como já sabíamos que havia a possibilidade de encontrarmos materiais históricos como esse, a escavação foi toda realizada a mão, sem escavadeiras”, explica Claudia.

A ossada foi encontrada na parte de fora do Belvedere, onde será construído um elevador para acesso ao prédio. Após o restauro, a edificação será a sede da Academia Paranaense de Letras (APL) e de uma café do Sesc (Serviço Social do Comércio). Os ossos foram localizados próximos à área em que ficava o altar da capela. “Antigamente, pessoas com recursos e que doavam mais dinheiro à capela eram enterradas próximas ao altar. Isso quer dizer que esse era um homem influente”, destaca a arqueóloga.

Mas o que surpreendeu os especialistas foi a profundidade em que os ossos foram encontrados: a apenas 40 centímetros da superfície. “Apesar de estar poucos centímetros abaixo do solo, a ossada não foi danificada porque ela ficou protegida durante 100 anos pela estrutura da capela”, afirma.

Há ainda chances de serem encontrados outros ossos, já que no local foram realizados diversos sepultamentos. No entanto, o objetivo é escavar o menos possível para realização das obras, em respeito ao material histórico. “Não vamos procurar outras ossadas, não seria correto. Nós vamos atuar somente nos locais que precisam ser escavados para as obras”, salienta o superintendente de Obras e Serviços da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Reinaldo Pilotto.

  • Funcionários da obra de restauracão do Belvedere descobrem uma ossada de aproximadamente 200 anos.
  • Ossada encontrada no Belvedere. Foto: Lucilia Guimarães/SMCS
  • Funcionários da obra de restauração do Belvedere descobrem uma ossada de aproximadamente 200 anos.
  • Funcionários da obra de restauracão do Belvedere descobrem uma ossada de aproximadamente 200 anos.
  • Funcionários da obra de restauracão do Belvedere descobrem uma ossada de aproximadamente 200 anos.

Agora, o material recolhido será pesquisado pelos arqueólogos do Museu Paranaense e, no futuro, poderá ser colocado em exposição no próprio local.

Belvedere

Construído em 1916, pelo então prefeito de Curitiba Cândido de Abreu, o Belvedere servia como um mirante para que os curitibanos observassem a cidade. Ao longo dos anos, o prédio teve diferentes usos: foi sede da emissora de rádio PRB-2, a partir de 1922, do Observatório Astronômico da antiga Faculdade de Engenharia do Paraná, em 1931, e ainda posto da Polícia Militar, em 2008.

Já em 2012, o local tornou-se endereço do Centro Estadual da Defesa de Direitos Humanos da População de Rua. Ao ser fechado, o prédio centenário passou a ser alvo de vândalos e ponto de encontro de usuários de drogas. Diante da situação, o governo do estado concedeu o espaço para a Academia Paranaense de Letras (APL), em 2015.

Mas, somente em 2017, a verba de R$ 1.073 milhão foi liberada para que o local fosse restaurado. Mas, antes do início das obras, o prédio foi alvo de um incêndio de grandes proporções, o que depredou ainda mais suas estruturas. Um ano após o ocorrido, as obras foram iniciadas e têm previsão para serem finalizadas em outubro de 2019.

Capela São Francisco de Paula

A Capela São Francisco de Paula, onde hoje fica o prédio Belvedere, foi inaugurada em 1811. O local foi construído após o bispo de São Paulo, dom Mateus de Abreu Pereira, em passagem por Curitiba, manifestar a preocupação com relação à situação das três igrejas então existentes na cidade: a Matriz, de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, a de Nossa Senhora do Terço e a do Rosário, pois estavam em mau estado de conservação. O Paraná seria desmembrado da província de São Paulo apenas em 1853.

  • Capela São Francisco de Paula, inaugurada em 1811. Foto: Acervo da Gazeta do Povo.
  • Parte da capela ao lado das ruínas de São Francisco, em 1912. Foto: Acervo/Casa da Memória/Fundação Cultural de Curitiba

O pedido chegou aos ouvidos do coronel Manoel Gonçalves Guimarães, que construiu a capela. O local foi utilizado até para reunião dos funcionários da prefeitura, segundo a arqueóloga do Museu Paranaense Claudia Parellada. “Não havia sede da Câmara Municipal na época e os funcionários se reuniam dentro da capela, já que a matriz estava em mau estado de conservação”, explica.

Dando continuação às obras, a capela deveria dar lugar à Igreja de São Francisco de Paula. Mas os registros mostram que os responsáveis pela obra não deram conta de finalizá-la, deixando, portanto, logo ao lado do que era a capela, restos de uma construção inacabada, as ruínas de São Francisco.

Durante a urbanização na região, era comum que, ao construírem suas casas, as pessoas encontrassem ossos. “Como os corpos não eram enterrados somente dentro da capela, mas em toda a região, era comum que ao escavar o solo fosse encontrado ossos humanos. Esse local possui muitas lendas”, afirma a arqueóloga.

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