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Pandemia exige repensar ônibus em Curitiba: "Não podemos viver do passado", diz Gulin
Curitiba perdeu metade dos passageiros do sistema de ônibus durante a pandemia| Foto: Luiz Costa/Prefeitura de Curitiba

A crise no transporte coletivo gerada pela pandemia de Covid-19 ficou escancarada na semana passada, quando entraram em greve os trabalhadores do sistema de ônibus das três maiores cidades do interior do Paraná, Londrina, Maringá e Ponta Grossa. Em Curitiba, onde foi um aprovado um regime emergencial em maio do ano passado, retroativo a março de 2020 e depois prorrogado até 30 de junho de 2021, as empresas descartam por ora buscar ressarcimento de perdas.

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“Estamos mantendo conversas com a Urbs, sempre visando o bem-estar da população e dos colaboradores. É preciso haver bom senso e equilíbrio. Todos têm que pensar em como sair desse momento”, afirma Mauricio Gulin, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp). Ele aponta que os empresários não pensam em litígio na Justiça nem em pedir reajuste da tarifa: “Falar disso (tarifa) nesse momento seria uma irresponsabilidade”. O valor geralmente é reajustado no fim de fevereiro, mas este ano foi mantido em R$ 4,50.

Segundo números da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os sistemas de transporte coletivo em todo o Brasil tiveram redução média de 40,8% no número de passageiros desde o início da pandemia e diminuíram em apenas 20,8% a oferta dos serviços. O prejuízo acumulado do setor era de R$ 11,75 bilhões até fevereiro.

De acordo com a Urbs, em 2020 o transporte coletivo de Curitiba perdeu quase 100 milhões de passageiros em relação a 2019: foram 107,4 milhões transportados no ano passado, 47% a menos do que o registrado em 2019, quando foram 203,9 milhões de passageiros.

Pelo regime emergencial do transporte coletivo, estão sendo pagos às empresas apenas os custos variáveis e administrativos (como combustíveis, conforme a quilometragem rodada), tributos e os valores das folhas de pagamento e benefícios. São suprimidas dessa conta a amortização e a rentabilidade das empresas. Com esse acordo, ainda segundo a Urbs, os custos do sistema passaram de R$ 78 milhões para cerca de R$ 40 milhões por mês, metade desse valor bancado pela prefeitura e a outra metade pela receita de passageiros.

Setor prega medidas para o pós-pandemia no transporte coletivo

Mauricio Gulin aponta, entretanto, que as empresas enfrentam dificuldades mesmo com os aportes. “Com a lei emergencial, muitos itens da planilha foram sucumbindo. Por exemplo, a remuneração de frota: nos últimos anos foi feito um investimento de compra de 535 novos ônibus, um custo de R$ 330 milhões. Esse custo foi sucumbindo e estamos em negociações pesadíssimas com os bancos. Estão difíceis, mas acreditamos que vamos conseguir. O banqueiro também tem que entender que é hora de darmos as mãos para sair desse momento”, diz o presidente do Setransp.

Ele cita que os empresários “usaram toda a MP 936”, a medida provisória que permitiu temporariamente a redução de jornadas de trabalho e salários e que teve sua vigência encerrada no final de 2020.

Gulin acrescenta que o setor está “trabalhando com a data de 30 de junho”, quando o regime emergencial chega ao fim, para que sejam implementadas mudanças para frear a perda de passageiros que já vinha acontecendo antes da pandemia. “Precisamos de um novo plano de mobilidade, flexibilização de linhas, de tarifas, trazer credibilidade para as pessoas usarem o transporte público sem medo. O transporte de Curitiba precisa parar de viver do passado, e a pandemia veio mostrar isso”, argumenta.

Ele aponta que a flexibilização de tarifas já vinha sendo discutida com a Urbs, mas trata-se de uma ideia que não pode ser adotada durante a pandemia, pela necessidade de centrar recursos na vacinação. “Por exemplo: pagar R$ 4,50 para ir do Passeio Público ao Hospital São Lucas (no Juvevê) é caro, mas de lá para Araucária, não é. São coisas assim que precisamos discutir. Precisamos reconquistar o passageiro que deixou o sistema”, justifica.

Segundo Gulin, a Hotmilk, aceleradora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), fez um diagnóstico do sistema de transporte coletivo, e a partir dele deve ser definido um plano de ação para o pós-pandemia.

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