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Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo| Foto: Leticia Akemi / Gazeta doPovo

Se você estivesse cansado de tanto trabalhar, querendo descansar, faria uma viagem de mais de 11 mil km em 40 dias morando dentro de Fiat Uno Mille 2002? Foi o que fez o paranaense Tarcísio Rupel, de 25 anos. O jovem colocou dentro de seu carro tudo que é preciso em uma casa, pelo menos para ele. O minimotorhome tem cama, pia, cortinas, luzes e até caixa d’água. Tudo dentro de um carro que mede pouco mais de 3 m de comprimento e 1,5 m de altura.  Tarcísio é de Guarapuava, no Centro-Sul do Paraná, mas reside em Curitiba.

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O aventureiro do Uno Mille viajou sozinho pelo litoral em direção ao Sul do Brasil sem  rota definida. Ele percorreu Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul até chegar à fronteira com o Uruguai e com a Argentina. “Só tinha programado conhecer alguns lugares, mas não montei nenhuma rota. Só peguei a estrada e toquei”, conta.

A vontade de viajar surgiu quando Tarcício foi demitido da loja de artigos esportivos em que trabalhava. O jovem estava lá há mais de dois anos sem férias e quando a empresa faliu, em fevereiro de 2019, viu a oportunidade de usar o dinheiro do acerto para pegar a estrada. “Eu tinha duas oportunidades: comprava uma minivan e não teria dinheiro para viajar ou adaptava meu próprio carro e viajava”, relembra.

Foi assim que surgiu a ideia de montar o motorhome no próprio Fiat Uno. Apesar de nunca ter visto algo parecido, mesmo procurando na internet, contava com a experiência de muitos acampamentos e decidiu transformar o carro em uma casa.

Com ajuda dos pais, Tarcício montou uma casa ambulante sob medida. O pai, que conserta caixas de som por hobby, ajudou a cortar cada pedaço de madeira que formou a cama dobrável e o armário da minicozinha. “Tiramos os bancos traseiros e no lugar montamos uma chapa de madeira dobrável e um armário com pia”, explica o viajante.

Já a mãe costurou as cortinas que percorrem todo o interior do carro e o colchonete que é colocado em cima da chapa de madeira.

O único problema é que o jovem mede cerca de 1,80 m. Por causa da altura, ele usa um travesseiro nos pés apoiado no banco da frente, complementando a cama de madeira que adaptou para a viagem.

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  • Tarcísio Rupel transformou seu Fiat Uno Mille 2002 em uma espécie de UnoHome e viajou mais de 10 mil Km pelo sul do Brasil , Uruguay e Argentina . viagem aventura . Local: Aroeira Office Park . 04/07/2019
  • Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo

O motorhome só não tem banheiro. Para isso, Tarcísio precisou contar com a ajuda da sorte na viagem e usar o chuveiro de alguns postos de combustíveis à beira da estrada e chuveiros oferecidos por amigos que foi fazendo pelo caminho. “Cheguei a passar quatro dias sem tomar banho, mas com o frio de -10°C, nem suava”, lembra o viajante.

Para economizar, ele levou comida dentro do armário da minicozinha. Com dois fogareiros de acampamento, fez quase todas as refeições da viagem dentro do Uno mesmo. “Eu fazia três refeições por dia. A mais reforçada era de noite, com um macarrão e cogumelos, lentilha, arroz e sanduíches”, conta. Por ser vegetariano e não consumir derivados de leite, a geladeira não fez falta.

Para lavar a roupa, Tarcísio usou balde e sabão em toda a viagem. Quando tinha um pouco de tempo, aproveitava e colocava a roupa de molho. Esfregava e estendia em um varal improvisado entre o carro e qualquer árvore que encontrasse no caminho. Até quando estava na estrada aproveitou e estendeu as meias dentro do carro, com o fio esticado dentro do Uno.

Percurso

Em um mês, o viajante montou o motorhome. Então era hora de colocar o pé na estrada. Sozinho, Tarcísio começou a descer o mapa do Brasil e foi até Balneário Camboriú (SC), onde passou a primeira noite à beira mar.

De lá, tocou até o extremo Sul do país, sempre dormindo perto da praia, dentro do Uno. "É maravilhoso. Você dorme e quando acorda tem aquela paisagem impagável", conta.

Cruzando a fronteira com o Uruguai, o viajante conheceu lugares como La Coronilla, Punta del Diablo, Punta del Este e a capital Montevidéu. Durante a rota, o viajante aproveitou para entrar no mar e curtir locais que considerava mais tranquilos.

  • Foto: Tarcísio Rupel / Reprodução
  • Foto: Tarcísio Rupel / Reprodução
  • Foto: Tarcísio Rupel / Reprodução
  • Foto: Tarcísio Rupel / Reprodução
  • Foto: Tarcísio Rupel / Reprodução

“Escolhi dormir em lugares mais monótonos justamente porque achava mais seguro e queria descansar. Até passava nas capitais para conhecer, mas dormia mais distante”, afirma.

A rota seguiu Uruguai adentro e após 16 dias de viagem ele cruzou a fronteira mais uma vez para entrar na Argentina.

No país do tango, Tarcísio esteve em Buenos Aires, Mar del Plata, Bahía Blanca, Viedma, El Condor e Las Grutas - e foi nesse momento que o jovem se despediu do mar, que o acompanhou por metade da viagem.

Perrengues

Um pouco antes de chegar em Las Grutas, ocorreu o primeiro imprevisto da viagem. O Fiat Uno já havia rodado aproximadamente 100 km em estrada de chão naquele dia e já passava das 20h30. A rota indicou um local com dunas, em que havia areia fofa.

"O carro atolou. Tentei de tudo, mas não teve jeito e tive que sair andando e procurar ajuda”, conta. Ele caminhou até um vilarejo de pescadores, onde contou com a ajuda de uma caminhonete 4x4 para desatolar o Fiat Uno.

Como se nada tivesse acontecido, o paranaense continuou a viagem até o extremo da América do Sul. Cruzou a Patagônia até Bariloche, na Cordilheira dos Andes. Lá, dormiu debaixo de -10°C. "Usei blusa de pluma, meia de lã, saco de dormir, manta por cima e mais um saco de dormir", lembra do frio de trincar.

Quando acordou, tinha receio de abrir o carro de tanto frio. "Abri com cuidado por causa do gelo. Mas o que mais me chamou a atenção foi a vista para a montanha Cerro Catedral. Era impressionante", ressalta o jovem.

Maravilhado, ele continuou a viagem sempre com a imensa parede da cordilheira à sua esquerda, até Mendoza, tradicional ponto de partida para quem cruza os Andes em direção ao Chile. Lá, não pôde deixar de conhecer o Aconcágua, a segunda maior montanha fora da Ásia, com 6,9 mil metros de altitude.

Depois de presenciar uma das cenas mais marcantes de sua vida, o pôr do sol na montanha, resolveu que era hora de voltar e foi rumo a Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina. Antes de chegar lá, porém, o momento mais tenso da viagem aconteceu.  O alternador do Fiat Uno - peça do motor que transforma energia mecânica em energia elétrica - estragou. Com o carro parado e próximo a um pedágio, conseguiu assistência e foi com o guincho para a cidade mais próxima, na verdade, um povoado, onde havia apenas um mecânico. Já era noite e teve que dormir em frente ao local. O encontro com o mecânico ficou para o dia seguinte.

Ao amanhecer, foi tentar encontrar uma solução para o carro voltar a rodar. A peça, no entanto, teria que ser trazida de outra cidade e o valor era de R$ 1.000. E ainda havia outra dificuldade: o mecânico só aceitava pagamento em um cartão que não era da mesma bandeira do que Tarcício tinha ou em Pesos em espécie, o que ele também não tinha.

“Esse foi o momento mais tenso da viagem. Fui em diversos bancos da cidade para ver se eles poderiam fazer transferências, mas não era possível porque meu banco era brasileiro”, relembra.

O viajante chegou a ir em farmácias e mercados pedindo que passassem o valor em outro cartão que ele tinha para darem o valor em dinheiro. Não aceitaram. Foi aí que se lembrou que um velho amigo que tinha uma conta em um banco alemão.

“Pedi para meu amigo fazer a transferência direto para o mecânico e, somente com o comprovante, ele fez o serviço no meu carro. Confiou na minha palavra, pois o dinheiro nem tinha caído ainda”, diz.

De lá, tocou o mais rápido possível, quase sem parar para Uruguaiana, na fronteira da Argentina com o Rio Grande do Sul. Ao completar 31 dias fora do país, Tarcísio estava de volta ao Brasil. Passou por Santa Maria (RS), Iraí (RS) e ainda visitou os parentes em Guarapuava, já de volta ao Paraná.

A rota sul-americana acabou em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, onde Tarcísio parou para ver os pais e recarregar as energias. No dia 4 de julho, ele e seu Fiat Uno voltaram para a estrada, desta vez acompanhados da namorada de Tarcício, a estudante de Biologia Milene Taufer, 22 anos. O destino: o Norte do Brasil, mais especificamente, o estado do Tocantins.

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