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Patinetes têm se tornado motivo de preocupação em Curitiba
Patinetes têm se tornado motivo de preocupação em Curitiba| Foto: Hedeson Alve s/ Gazeta do Povo

São quase quatro meses disputando espaço entre carros, motos, bicicletas e também com os pedestres. Os patinetes elétricos de aluguel chegaram a Curitiba em janeiro e já fazem parte do cenário urbano da capital paranaense. Não é exagero dizer que é impossível passar pelos bairros da região central e não ver os equipamentos da cor verde ou amarela pelas ruas e calçadas.

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Quem já experimentou andar pela cidade de pé sobre duas rodas gostou. “Achei uma ideia bem legal. Facilita a mobilidade para quem está aqui no Centro, porque a gente não depende de carro, local pra estacionar”, relata o técnico de enfermagem Sammers Bards Lourenço, de 47 anos. Ele conheceu o sistema há quase um mês e tem usado com frequência o patinete, especialmente para compromissos na região onde trabalha. Embora esteja entusiasmado com a novidade, Lourenço admite que fica em dúvida sobre onde utilizar o equipamento. “Eu talvez esteja fazendo o uso errado, pois estou andando pela rua porque a calçada não dá um bom desempenho, uma estabilidade”, admite.

A estudante Valentine Andrade Nichele, de 17 anos, também aprovou novidade. Ela mora no bairro Água Verde, próximo à Praça do Japão, e vê todos os dias vários usuários do sistema. Para ela, infelizmente, muitos estão confusos e causando certa bagunça no trânsito. “Eu acho a ideia muito legal, muito criativa. Está servindo como meio de transporte, mais barato que o ônibus. Mas acho que tem muitas pessoas que não respeitam as regras, querem andar onde der, no meio dos veículos, dos ônibus, nas canaletas”, aponta.

Alguns pedestres também se dizem confusos – e até desconfortáveis – com o uso das calçadas por quem escolhe andar de patinete. “Eu acho que está bem difícil. Do mesmo modo que eu acho bacana por ser uma alternativa sustentável, acho que falta respeito. Ao mesmo tempo em que tem um lado cosmopolita em relação a isso, falta educação pra população que utiliza desse meio porque acaba atrapalhando demais os pedestres”, pontua a advogada Alba Marisa Silveira.

O administrador Amauri Marcon, que possui uma lanchonete na Avenida Sete de Setembro, compartilha a mesma preocupação. Para ele, é preciso orientação. “Eu acho que está faltando uma campanha conscientizando o que pode e o que não pode usar. Pelo menos o bom senso: respeitar algumas regras, andar na ciclovia, não na calçada”, pontua. O empresário, que trabalha em frente a uma via onde há ciclofaixa, afirma que vê muitos usuários optando por andar na calçada ou mesmo na canaleta exclusiva para os ônibus do transporte público.

A confusão quanto ao local correto para utilização do patinete não é apenas uma dúvida dos usuários. Ninguém até agora tem certeza de qual é o local apropriado para utilização do equipamento. Não existe uma regulamentação do uso do patinete como meio de transporte.

“O patinete, assim como o skate, os patins, não são citados no Código de Trânsito. Até hoje, eles foram considerados praticamente como brinquedos, mas da maneira que pegou em Curitiba e outras cidades, vai ter que ser regulamentado como uma opção”, afirma o coordenador do Ciclovida da Universidade Federal do Paraná (UFPR), programa que estuda e promove a mobilidade sustentável no estado.

Outra preocupação são as crianças utilizando os equipamentos. No termo de aluguel, as empresas informam que os patinetes só podem ser usados por maiores de 18 anos. No entanto, crianças pilotando patinetes têm virado rotina nos parques e praças de Curitiba, pondo em risco elas mesmas e os outros pedestres.

A resolução 465 do Conselho Nacional de Trânsito de 2013 estabelece que veículos ciclo-elétricos podem trafegar a uma velocidade máxima de 6 km/h em áreas de circulação de pedestre e com velocidade máxima de 20 km/h em ciclovias e ciclo-faixas. Mas a questão específica dos patinetes não é definida.

Em ofício enviado ao governador Witzel, o deputado Alexandre Knoploch pediu que sua iniciativa de regulamentar o uso de patinetes elétricos fosse vetada.
Em ofício enviado ao governador Witzel, o deputado Alexandre Knoploch pediu que sua iniciativa de regulamentar o uso de patinetes elétricos fosse vetada.| Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Semana passada, representantes da Superintendência de Trânsito de Curitiba (Setran) e do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) estiveram reunidos para formular um documento que estabelece normas para utilização dos patinetes. Um dos principais pontos trata da proibição dos equipamentos nas calçadas. A questão ainda não está definida, pois a palavra final é do prefeito Rafael Greca, que ainda vai fazer uma avaliação do caso. Pelas redes sociais, o prefeito defendeu os equipamentos.

“Bicicletas, Patinetes e outros veículos compartilhados são parte da nova estratégia da cidade, coordenada pelo Agência Curitiba de Inovação, para ampliar a mobilidade urbana”, postou Greca em sua conta pessoa no Facebook.

Mas a tendência é de proibição dos patinetes no passeio. “Em Curitiba a gente segue a lei da mobilidade, então o pedestre tem prioridade em todos os sentidos e é isso que a gente procura passar para os usuários tanto das bicicletas como dos patinetes”, reforça a superintendente de Trânsito de Curitiba, Rosângela Batistella.

Estacionamentos

Outro aspecto que ainda precisa ser regulamentado é a questão dos estacionamentos de bicicletas e patinetes. Para conseguir efetuar o aluguel, o usuário baixa o aplicativo e localiza o equipamento através do sinal de GPS. Ao entregá-lo, deve procurar os pontos específicos de estacionamento. No entanto, muitos têm deixado os patinetes e bicicletas em lugares inapropriados, como no meio da calçada, em cima da grama ou mesmo na pista de rolamento dos veículos.

Prefeitura já está estudando pontos de regulamentação para patinetes na capital
Prefeitura já está estudando pontos de regulamentação para patinetes na capital| Hedeson Alves/Gazeta do Povo

“É necessário haver uma campanha maior, até por parte da prefeitura. E aí vem a questão de onde largá-los. Como é uma empresa particular, acho que eles teriam que ter espaços específicos ou talvez um espaço até particular, alugado, e não deixar em cima das calçadas, tomando o lugar dos pedestres”, observa o taxista Anderson Schmidt.

O gerente de relações públicas da Grow (empresa que surgiu da fusão da Yellow e Grin), Marcel Bely, afirma que é proibido ao usuário estacionar em qualquer lugar. “O pedestre é sempre prioridade. Os estacionamentos dos equipamentos devem ser feitos em paraciclos públicos, em áreas públicas específicas para esses equipamentos ou nas estações da Yellow e nas estações da Grin. Todos esses pontos são divulgados no aplicativo, então é importante ressaltar que, em hipótese alguma, é possível estacionar em cima de calçadas ou em áreas que atrapalhem o fluxo de pedestres”, explica.

Apesar de existir essa orientação por parte das empresas – inclusive com informações específicas repassadas no aplicativo, como a de que o equipamento só pode ser utilizado por maiores de 18 anos – alguns usuários não respeitam. É por isso que a prefeitura, ao regulamentar o serviço, vai estipular formalmente a proibição do estacionamento nas calçadas.

A superintendente de trânsito da capital afirmou que são estudadas, inclusive, punições às empresas em caso de equipamentos serem largados no passeio. “Não é multa de trânsito, seria uma questão administrativa. A empresa é notificada e pode ser autuada, mas isso administrativamente”. Segundo Batistela, essa responsabilidade será da Urbanização de Curitiba (Urbs), que vai gerenciar o serviço na capital, assim que ele estiver regulamentado.

Problema bom

Muitas questões ainda não estão definidas quanto ao serviço de aluguel de bicicletas e patinetes em Curitiba. No entanto, apesar de dúvidas e questionamentos, o professor de Arquitetura e Urbanismo da PUC-PR Marlos Hardt avalia que esse é um ótimo momento para a discussão de mobilidade urbana e planejamento da cidade.

“Eu vejo isso como muito positivo. A própria velocidade com que as coisas chegam pra gente hoje em dia. São Francisco (EUA), Londres (Inglaterra), Viena (Áustria) são cidades que estão, neste momento, discutindo suas legislações relacionadas a esse tipo de transporte porque ele acabou de chegar lá também. A gente está acostumado a ver tecnologias muito em função dos preços. E essas tecnologias de baixo custo (patinetes, bicicletas) chegam muito rapidamente, trazendo os mesmos benefícios – e malefícios – de não terem sido experimentados em outros locais. Então estamos tendo os mesmos desafios que lá.”

O professor complementa dizendo que essas soluções “mais baratas” são muito interessantes para cidade, especialmente quando outras tentativas de melhorar o sistema de transporte já fracassaram. “Há quanto tempo que a gente tá tentando viabilizar um metrô na cidade? Há quanto tempo a gente tá tentando viabilizar um outro transporte de massa que diminua a pressão em cima do BRT, por exemplo? E a gente não consegue porque são coisas muito caras. Então, enquanto na Europa a gente tem um Canal da Mancha passando embaixo do oceano, aqui a gente não consegue viabilizar espaço para um metrô pra uma cidade de 2 milhões de habitantes, uma das cidades mais ricas do Brasil. E aí a gente vê essa tecnologia chegando muito rápido no Brasil e isso é interessante.”

O coordenador do programa Ciclovida da UFPR também acena nesse sentido. Para ele, é um caminho sem volta. “A cidade vai ter que se adaptar. Eu acho que é uma tendência que veio pra ficar. A cidade vai ter que fazer as correções, adaptações de infraestrutura e legislação.”

Atualmente, Curitiba possui 208,5 km de Malha Cicloviária. A meta da prefeitura é atingir os 408 km de vias destinadas a ciclomobilidade até o ano de 2025. Ainda neste ano, o planejamento prevê que a estrutura seja ampliada em quase 14% com a implantação de mais 28,8 km de ligações cicloviárias integradas aos eixos de transporte da Avenida República Argentina e Rua Padre Anchieta a universidades e locais com grande fluxo de pessoas.

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