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Pesquisador  Marcos Juliano Ofenbock comprovou que o pirata Zulmiro  existiu e morou em Curitiba | Felipe Rosa/TRIBUNA DO PARANA
Pesquisador Marcos Juliano Ofenbock comprovou que o pirata Zulmiro existiu e morou em Curitiba| Foto: Felipe Rosa/TRIBUNA DO PARANA

Já ouviu falar sobre uma lenda de um pirata que teria vivido em Curitiba? Mas, de acordo Marcos Juliano Ofenbock, 41 anos, economista por formação e arqueólogo por uma espécie de destino, não se trata de uma lenda. O pesquisador conseguiu documentos que comprovam que o pirata Zulmiro, de origem inglesa, não somente existiu, mas como morou no bairro Pilarzinho, na capital paranaense. A história é conhecida na cidade, mas em novembro de 2018, Marcos Juliano fez com que ela deixasse de ser apenas um conto e passasse a ser reconhecida por Adam Paul Patterson, cônsul honorário do Reino Unido em Curitiba.

O ano é 1880. O inglês Edward Stammers, recém-chegado ao Brasil, conhece um velho, de 80 anos, morando em um pequeno casebre no bairro Pilarzinho, em Curitiba. De origem inglesa, uma breve amizade surge entre os dois e o senhor, conhecido como Pirata Zulmiro, resolve contar a história da sua vida para o jovem inglês.

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“Como eles falavam o mesmo idioma, Zulmiro logo se identifica e conta que, junto com outros dois piratas, ele escondeu um grande tesouro na Ilha da Trindade, no Espírito Santo. Com muita educação e perfeito vocabulário, Edward logo suspeita que ele era estudado e descobre que o pirata nasceu em Cork, na Irlanda – na época fazia parte da Inglaterra – e que tinha estudado em um escola para príncipes. Depois de se formar, ele entra para a Marinha Britânica. Mas, por conta de uma briga, em que matou um capitão, ele resolveu fugir e se tornar um pirata”, explica Marcos Juliano.

Depois de ouvir toda a história fantasiosa do pirata, Edward faz um pacto e promete que só irá contá-la quando Zulmiro morrer. Após alguns anos, Edward se muda para o Rio de Janeiro com a esposa e cinco filhos e, desde a mudança, passou a acreditar que tudo não passou de uma grande mentira e que na verdade o ‘velho era doido’. Mas essa ideia mudaria em breve. Um belo dia acorda, pega o jornal para ler e encontra uma reportagem sobre um pirata, conhecido como Zarolho, publicada na edição. Assim que lê, percebe que esse era o pirata que fazia parte de um trio juntamente com Zulmiro e José Sancho.

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Chocado com a descoberta, manda um telegrama para Curitiba e descobre que Zulmiro tinha falecido há sete anos. Com o pirata morto, Edward finalmente poderia revelar a história e, claro, o roteiro do tesouro. Decidido e muito empolgado, ele manda diversas cartas ao jornal e tem a sorte de todas serem publicadas. No entanto, a alegria durou pouco. Edward escondia o roteiro dentro de um baú e com a publicação das cartas, bandidos ficaram interessados no grande mapa e acabaram invadindo a casa do inglês. Na época, poucos entenderam a morte do jovem inglês, já que levou dois tiros no peito sem motivo aparente. Com as cartas publicadas, expedições brasileiras foram em busca do tesouro. 

Todos queriam o tesouro do pirata russo Zarolho, do inglês Zulmiro e do espanhol José Sancho. O pirata Zarolho teria entregado o mapa aos britânicos antes de morrer, em 1850. O tesouro era fruto de um roubo, que aconteceu em 1821, onde o trio teria roubado o grande tesouro da Catedral de Lima, no Peru. Apesar das buscas, pelo que se sabe até o momento, o tesouro ainda permanece escondido no Espírito Santo.

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Vida secreta

Anos se passaram e o arqueólogo Marcos Juliano, fascinado pela história de Zulmiro, que ainda era conhecida como lenda, conseguiu comprovar a existência dele por meio de documentos ingleses depois de 15 anos de pesquisa. A descoberta surgiu por meio de uma pesquisa no livro de registros do Cemitério Municipal São Francisco de Paula. Na lista de sepultamentos de 24 de julho de 1889, João Franciso Inglês, nome que Zulmiro adotou quando chegou à capital, aparece registrado. Além desse documento, Marcos Juliano também localizou documentos sobre o pirata da época em que ele vivia na Inglaterra.

Em 1798, a cidade de Cork, na Irlanda, ainda fazia parte da Inglaterra e foi neste lugar que Francis Hodder, que mais tarde se tornaria o pirata Zulmiro, nasceu. De família rica e com privilégios, estudou na Etton College, uma escola interna para garotos, fundada em 1440 por Henrique VI da Inglaterra. Atualmente, a instituição educa mais de 1.300 alunos, com idades entre 13 e 18 anos. Quando entrou na escola, Francis Hodder, como se identificava, tinha apenas 13 anos e foi li que se formou. Anos se passaram e ele entrou para a Marinha Britânica, mas acabou matando um oficial e fugiu para não ser morto.

“Por conta dessa morte, ele iria para a corte marcial e seria enforcado, porque matou outro oficial. Por isso, ele desertou, abandonou e resolveu ir até o porto da Flórida e embarcou como imediato em um navio negreiro. Naquela época, o tráfico de escravos e a pirataria estavam ligados e eles resolveram fazer um motim, onde hastearam uma bandeira preta. Na ocasião, o pirata trocou de nome e passou a se chamar Zulmiro. Ele resolve abandonar o passado e faz um acordo com outros dois piratas, José Sancho e um russo, com uma cicatriz na cara, chamado de Zarolho. Eles roubam esse grande tesouro no Peru e resolvem esconder a fortuna na Ilha da Trindade”, detalhou.

Logo depois de esconderem o tesouro, cada um seguiu seu rumo e, em 1838, Zulmiro acaba capturado por um navio de guerra inglês, H.M.S Childers, que tinha como capitão Henry Kappel. Acontece que o capitão e Zulmiro se conheceram durante o tempo em que o pirata estava na Marinha. “Como eles eram amigos naquela época, ele disse ‘vou simular sua fuga’, mas ‘você tem que me prometer que nunca mais irá aparecer e que vai deixar de ser um pirata’. Ele liberou Zulmiro e lhe deu 50 libras, que valia muito dinheiro naquela época, para ele não morrer de fome, e mais alguns livros para que ele tivesse o que fazer. Ele foi solto no Litoral do Paraná e nove dias depois ele chegou ao Pilarzinho, onde comprou uma escrava e passou a viver em Curitiba”, contou Marcos Juliano.

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