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Cleonice Souza Santos, líder do Iguape, favela de Curitiba, trabalha separando materiais que carrinheiros coletam.
Cleonice Souza Santos, líder do Iguape, trabalha separando materiais.| Foto: Rosana Felix/Gazeta do Povo

A paralisação ou redução de diversas atividades econômicas e sociais desde o início da pandemia do coronavírus ainda causa forte impacto entre coletadores de materiais recicláveis em Curitiba. Os carrinheiros precisam percorrer longos caminhos para tentar recolher a mesma quantidade de material e muitas vezes nem conseguem. As comunidades têm sobrevivido com auxílio pago pelo governo e doação de cestas básicas.

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No Iguape I, no Boqueirão, a associação de recicladores está demorando para bater a meta que viabiliza a venda em grandes quantidades. “Antes, tinha bastante material, a gente vendia a cada 15 dias. Agora, a gente vende a cada mês. E o carrinheiro fica mais tempo longe, tentando recolher”, contou Cleonice Souza Santos, 49 anos, liderança da comunidade.

O presidente da Associação de moradores da Vila Torres, Valdemilson Osório de Campos, conta que a situação começou a mudar após a reabertura de shoppings e lojas. “Não é igual a antes, mas deu uma melhorada. O problema é que hoje o carrinheiro tem que andar duas vezes o que andava para encher o carrinho”, disse.

No Parolin, a cooperativa Associar informou que a coleta está irregular, com dias com mais material do que outros. Houve outro contratempo, porém: o barracão de reciclagem foi fechado após uma associada testar positivo para o coronavírus. As atividades retornarão após testagem de todos que atuam no local.

Doações ajudam sobrevivência de comunidades

Para amenizar a perda de renda e ajudar na prevenção da Covid-19, entidades e poder público distribuem alimentos, material de limpeza e máscaras. A Central Única das Favelas (CUFA), apoiada por grandes empresas de atuação regional e nacional, faz a distribuição regular de cestas básicas, álcool e máscaras para cerca de 200 comunidades da capital paranaense, região metropolitana e Campos Gerais. “Faz 43 anos que moro aqui. Esse é o momento mais difícil que já vivi. A gente não está passando tanta dificuldade porque a CUFA vem aqui e nos ajuda”, conta Cleonice, do Iguape I.

Central Única das Favelas (CUFA) faz doações arrecadadas com grandes empresas.
Central Única das Favelas (CUFA) faz doações arrecadadas com grandes empresas.

Na Vila Torres, instituições do entorno também contribuem para a distribuição das cestas. A cooperativa Associar, que faz parte do Programa EcoCidadão, da prefeitura de Curitiba, tem recebido cestas da Fundação de Ação Social (FAS). Segundo a prefeitura, cerca de 800 pessoas, de 41 associações estão recebendo mensalmente alimentos doados por empresas e cidadãos de Curitiba.

Impacto financeiro e social se prolongará na pós-pandemia

Para o presidente da CUFA Paraná, Jose Antonio Campos Jardim, a entrega das cestas, álcool e máscaras supre a necessidade do momento, mas será preciso uma ação mais ampla. “Na questão financeira, o impacto na renda foi imediato e continuará pós-pandemia. Para restabelecer a economia familiar, vai demorar. A favela precisa se reinventar, mas para isso precisa da compreensão de todos os elementos da sociedade”, argumentou.

Como forma de contribuir, Jardim dá um exemplo: cortar o cabelo em um barbeiro da favela ajuda um negócio local a se manter. Ou fazer compras no mercado da comunidade. “É preciso fazer uma reeducação, para que as pessoas consumam em suas favelas, para que aquele senhor do mercado que emprega uma pessoa mantenha o emprego dessa pessoa. Precisamos de uma movimentação coletiva para dentro das favelas”, observou.

Segundo Jardim, a pandemia virou mais uma crise dentre tantas das comunidades carentes, mas acabou evidenciando desafios a serem vencidos em várias frentes. “A favela não tem esse privilégio de estar em home office. Grande parte dessas pessoas trabalha, ou trabalhava, na diária. E continuou tendo que sair de casa. Aliás, como se isola da família uma pessoa com vírus, numa casa de 30 metros quadrados? Como uma mãe vai ter acesso a internet, se muitas vezes não tem nem aparelho adequado para ajudar na escolarização do seu filho?”, questiona.

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