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Após críticas por doação de alimentos a pessoas carentes, restaurante decide manter ação
| Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná

A doação de refeições a moradores de rua, pessoas idosas e trabalhadores que não têm condições de pagar pelo alimento feita pelos proprietários do Anita Restaurante e Petiscaria, na Avenida Anita Garibaldi, no Barrerinha, em Curitiba, gerou reclamações de vizinhos por causa da aglomeração de pessoas no local. Entre as críticas, os donos ouviram que iriam criar uma "espécie de cracolândia" na via. Eles, porém, garantem que isso nunca ocorreu, que seguirão com a ação social e criaram uma regra durante a entrega dos alimentos para tentar minimizar o incômodo dos outros comerciantes.

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Todos os dias, o restaurante entrega de 30 a 40 refeições de graça, a maioria para pessoas que não teriam sequer condição de comer em outro lugar. Eles servem os alimentos que sobram do buffet. “Nós começamos por uma necessidade que minha sócia e eu temos em ajudar as pessoas. Sempre tivemos vontade e concluímos que não podíamos mais seguir se não fizéssemos alguma coisa. Então surgiu a ideia de servirmos a comida que sobra do buffet para quem precisa”, afirmou Sérgio Luis Todeschi, de 36 anos, um dos proprietários do Anita.

A distribuição começa sempre após as 14h, quando o último cliente do estabelecimento deixa o local. “Destas pessoas, sabemos que pelo menos cinco são realmente moradores de rua, mas tem muita gente idosa, muitas pessoas que são só carentes, que não têm condições, que todos os dias buscam vir até o restaurante para garantir pelo menos uma refeição”, explicou Todeschi.

Durante todo esse tempo, a ação social feita pelo Anita era feita sem que ninguém soubesse. “Mas a presença dessas pessoas, por mais rápida que seja e que eles não incomodem ninguém, nem mesmo os clientes [do restaurante], que nunca reclamaram, passou a ser vista de forma negativa por algumas pessoas da vizinhança, que nos denunciaram porque estaríamos criando uma ‘cracolândia’ na região e isso não é verdade”.

Temendo ter que parar com a ação, os sócios publicaram uma nota nas redes sociais do restaurante explicando a situação e garantindo que não iriam parar. “Não podemos garantir que todos nossos ‘filhos’ sejam de boa índole, porém, pelo o que conhecemos, eles estão querendo apenas um prato de comida e não formar uma cracolândia. Com tudo, pedimos desculpas se, por causa dessa nossa ação, geramos algum transtorno em seus pontos comercias, já avisamos a todos que quem tiver alcoolizado não ganhará mais comida, entretanto vamos continuar firmes e fortes ajudando os mais necessitados da nossa região”, disseram os proprietários do Anita em sua página do Facebook.

Repercussão positiva

A repercussão da nota postada nas redes sociais fez com que muita gente o apoiasse e o assunto ganhou repercussão. “Teve realmente um retorno que não imaginávamos, atingindo mais de 600 mil pessoas só no Facebook. Era algo que nunca buscamos divulgar, porque realmente não queríamos, mas, ao mesmo tempo, contar o que fazemos serviu para vermos o quanto estamos certos em seguir em frente”, comentou o empresário, reforçando que a ideia do restaurante é continuar.

“Até apoio da Fundação de Ação Social (FAS) nós tivemos, que está cadastrando as pessoas que recebem a doação, então não vamos parar. Se tiver que adequar de alguma maneira, faremos isso, mas vamos seguir”, destacou.

Para as pessoas que buscam a comida, o restaurante Anita é uma garantia de que pelo menos uma refeição vão comer no dia. “Moro em Almirante Tamandaré e tenho quatro filhos. Se eu tivesse que comprar comida enquanto estou trabalhando, faltaria dinheiro para dar alimento aos meus filhos, então eu só agradeço, porque se existisse mais pessoas iguais a eles o Brasil não estaria como está hoje. O que eles fazem não ofende ninguém, porque é uma boa ação”, disse uma das pessoas beneficiadas pela ação.

Acompanhada do marido, uma idosa, de 66 anos, foi pela primeira vez buscar comida quando a reportagem da Tribuna esteve no restaurante. Com um sorriso no rosto, a mulher disse que a situação em casa está difícil e, por isso, resolveu pedir ajuda. “Isso faz a diferença para o pessoal. Ganhamos pouco e não temos condições de pagar as contas. Como moramos perto, resolvemos vir buscar a marmita”, comentou a idosa, que mora com mais quatro pessoas.

Muito além da comida

Entre os funcionários do restaurante, dois deles se destacam, entre eles Elcio Krita Gomuiski, de 34 anos, que era um dos que recebia o almoço. “Passei um ano pegando comida e digo que eles me ajudaram não só a sair de onde estava, como também me deram uma nova visão de vida”. Conhecido como ‘Polaco’, ele tinha problemas com o álcool e recebeu o incentivo para fazer um tratamento. “Quando saí do tratamento, que durou nove meses, eles me chamaram para trabalhar com eles e hoje cuido do estacionamento e recebo os produtos para o estoque. Minha vida foi "do vinho para a água" e não é brincadeira. Me deram uma oportunidade que nem eu imaginei que um dia teria”, afirmou. Gomuiski, que já trabalha no restaurante há seis meses.

Além dele, Adriano Mikosz, de 43 anos, é um funcionário que tem duas missões importantes: a de servir as refeições às pessoas carentes e, todos os anos, há 26 anos, interpreta Jesus Cristo. “Fazemos a representação da Paixão de Cristo na Barreirinha e até me emociono em pensar o quanto o que é feito aqui no restaurante tem a ver com o que Jesus fazia em sua vida”.

Mikosz, que todos os anos deixa o cabelo e a barba crescerem, disse que ver as pessoas receberem os pratos de comida é o que lhe motiva a apoiar que seus chefes continuem com a ação. “Acho que as pessoas que reclamam deveriam, pelo menos, olhar para si mesmas. O respeito é a base de tudo. O que nós temos por essas pessoas que buscam comida todos os dias é isso”.

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