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Carne apreendida em um açougue de bairro nobre em Curitiba na Operação Mão de Vaca semana passada. | Polícia Civil do Paraná/
Carne apreendida em um açougue de bairro nobre em Curitiba na Operação Mão de Vaca semana passada.| Foto: Polícia Civil do Paraná/

A Polícia Civil está no encalço de uma quadrilha que não só está causando prejuízo a frigoríficos, mas pondo em risco a saúde da população de Curitiba e região ao vender em açougues e restaurantes carnes sem procedência, oriundas do desvio de cargas.Desde maio de 2017, a Delegacia de Furtos e Roubos de Cargas (DFRC) apreendeu 200 toneladas de carnes roubadas por este grupo na capital e cidades vizinhas. Parte já estava, inclusive, em restaurantes, churrascarias e açougues de bairros nobres da capital. Semana passada, por exemplo, a Operação Mão de Vaca da DFRC apreendeu carne sem procedência em restaurantes de duas vilas gastronômicas na cidade. A estimativa da polícia é de que o grupo já tenha desviado cerca de 400 toneladas de cargas.

O delegado Ademair Braga, responsável pelas investigações na DFRC, aponta que muitos curitibanos podem estar consumindo carne estragada sem saber. Como não é monitorada pela Vigilância Sanitária, o produto desviado pode se contaminar rapidamente em qualquer etapa do crime, do transporte ao armazenamento. “Já encontramos carne que iria para restaurantes estocada no chão de galpão sem refrigeração. Só coberta por lona”, narra Braga. “É impossível o consumidor avalias as condições sanitárias da carne”, ressalta o policial.

Vinte pessoas foram presas desde que os policiais passaram a monitorar o grupo. Segundo Braga, a quadrilha é extremamente ousada e conta com uma espécie de ‘academia de formação’ de seus integrantes. A maior parte dos assaltos acontece com o caminhão frigorífico em movimento na estrada: o grupo emparelha outro veículo ao lado e um dos ladrões pula no caminhão e tira a mangueira de ar do motor, travando as rodas, o que obriga o motorista a parar e aí ele é abordado.

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“Eles treinam bastante toda esta ação de pular de um caminhão para outro, sempre com muitos detalhes, já que na menor falha o assaltante pode cair e morrer”, explica o delegado. “Este grupo criminosos chega a ter um tipo de categoria de base para esta ação. Eles vão treinando os integrantes que, conforme ficam aptos, passam a executar a ação”, complementa Braga.

Açougue de Curitiba que vendia carne de carga desviada. Polícia Civil do Paraná

O ladrão que salta no caminhão em movimento não é o único a receber treinamento. Os motoristas também têm que ter uma destreza especial para controlar o caminhão no emparelhamento, estar atento para que não cometa um desvio abrupto e derrube o companheiro que vai pular no caminhão frigorífico, além de empreender fuga com um veículo grande. Tudo em alta velocidade. “Houve casos em que houve perseguição policial de quilômetros e eles não pararam. Foram muito ousados e só pararam após troca de tiros com a polícia”, enfatiza o delegado Braga.

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A logística de quem rouba carne também requer atenção especial em comparação a outros tipos de cargas desviadas. Como é perecível, o grupo tem que dar um destino para a carga rapidamente. A DFRC descobriu, entretanto, que o grupo tem investido em estrutura para que a carne não apodreça. “Descobrimos um barracão em Curitiba em que os criminosos adaptaram três contêineres com equipamentos de refrigeração dos caminhões para manter a carne”, diz Braga. A DFRC descobriu ainda outro barracão na cidade de Itajaí (SC) que também era usado para manter a carne, mas que foi inutilizado antes de os policiais o desmantelarem.

Destino

O delegado explica que quem vende esse produto desviado dificilmente deixa transparecer a irregularidade aos clientes, seja em açougues ou restaurantes. Primeiro, pelo próprio tipo do estabelecimento. Braga afirma que muitas apreensões têm sido feitas em restaurantes e açougues que atendem um público de elite. Segundo, pelo próprio preço: ao contrário do que se possa imaginar, a carne roubada não é vendida por um preço abaixo do normal. Pelo contrário. Algumas vezes é até mais cara justamente para não despertar suspeitas.

“Alguns restaurantes e açougues que receptam esta carga roubada não estão preocupados em lucrar com a carne desviada. O objetivo é apenas ter um comércio legalizado para lavar dinheiro de outras ações criminosas. Eles não precisam de lucro. Só precisam esquentar o dinheiro”, argumenta o delegado.

Churrascaria 2017

Em outubro de 2017, a DFRC apreendeu cerca de 1,2 tonelada de carga desviada em uma churrascaria no bairro Jardim das Américas, em Curitiba. Entre os cortes, encontrados em estado completamente inapropriado no furgão de uma van, estavam alcatra, costela, fraldinha entre outros cortes. A apreensão, dentro da Operação Bom Apetite, ocorreu enquanto o restaurante servia o almoço aos clientes. Em nota, a churrascaria negou que tivesse comprado carne roubada, que não tinha nenhum produto irregular em seu estoque e que a ação ocorreu enquanto a carne era descarregada da van. “A carga estava sendo descarregada e se constatada qualquer irregularidade ou na qualidade da carne ela seria devolvida com toda certeza”, alegou o advogado do restaurante em nota.

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