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A síndica Ângela Camargo (verde)abriu as portas do prédio em que mora para acolher vizinhos | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
A síndica Ângela Camargo (verde)abriu as portas do prédio em que mora para acolher vizinhos| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Era pouco depois das 5 horas desta quarta-feira (8) quando cerca de 80 moradores de um prédio no Bigorrilho, em Curitiba, tiveram de deixar seus apartamentos por causa de um incêndio no 15° andar do edifício. De pijamas e chinelos, muitos até descalços, eles correram para a rua para evitar o pior. Do lado de fora, acabaram encontrando uma rede de solidariedade que se alastrou tão rápido quanto as chamas – que, além do pânico, provocaram a morte de uma pessoa e deixaram outra ferida.

Moradora do prédio atingido pelo fogo, Alma Passos de Mello, de 62 anos, foi uma das primeiras a encontrar apoio. Ela conta que acordou com o barulho do fogo e, ao olhar pela janela, deparou-se imediatamente com gritos de um vizinho de um prédio próximo pedindo para que descessem. Agarrou o marido e o cachorro e desceu 13 lances de escada até alcançar a rua, onde ficou por pouco tempo. É que naquele momento os moradores do edifício Camapuã, logo em frente, já começavam um trabalho de acolhida. Pularam cedo da cama também, deixando o instinto falar mais alto que o sono.

Segundo Alma, embora morem muito próximos uns dos outros, eles ainda não se conheciam. Os laços começaram a se formar entre blusas, meias e sapatos emprestados. Houve até quem trouxesse comida para os animais.

Alma Passos de Mello, de 62 anos, foi abrigada com o marido e o cachorro no prédio em frenteAniele Nascimento/Gazeta do Povo

“A gente se coloca no lugar dessas pessoas porque é uma situação muito desesperadora. É o mínimo que a gente pode fazer”, reflete a síndica do edifício Camapuã, Ângela Camargo. Ela conta que foi a primeira pessoa do prédio a descer e a convidar os vizinhos que estavam na rua para entrar, principalmente porque fazia frio e havia muitos idosos por ali. Além disso, explosões consecutivas no apartamento onde o fogo começou lançavam estilhaços por toda a parte, aumentando as chances de mais feridos no episódio.

Diante disso, Angela sabia que precisava abrigar, de alguma maneira, os moradores do prédio em frente. Liberou o salão de festas e chamou todos. Alguns resistiram por causa do nervosismo, mas com o isolamento total feito pelo Corpo de Bombeiros, acabaram cedendo e entrando. Enquanto isso, mais moradores do Camapuã se mobilizavam. “Eles foram descendo, alguns fizeram café. Todos tentavam achar maneira de acalmar essas pessoas”, comenta a síndica.

Pouco tempo depois, a ajuda veio da padaria Requinte, que tem uma loja ao lado do prédio atingido pelo fogo. A proprietária do estabelecimento, Fátima Regina Cazella, conta que seguiu imediatamente para a loja tão logo soube da situação. Viu quando os moradores estavam sendo acolhidos e achou que também poderia fazer algo mais para dar suporte. “A gente levou uns sanduíches, mais café e água. Além de nossos clientes, são nossos vizinhos. Estamos há tantos anos juntos aqui que o mínimo que a gente pode fazer numa hora dessas é ser solidário com essas pessoas”.

A equipe da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi) entrou no edifício onde teve incêndio por volta das 9 horas. Eles é que vão verificar possíveis riscos consequentes do fogo e determinar a liberação do prédio. Até lá, os moradores continuam fora de suas casas. Mas não desamparados.

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