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Reginald Alfred, 29 anos: psicólogo e comunicador no Haiti, ele trabalha como atendente de produção no restau­­rante Karina | Bruno Covello/Gazeta do Povo
Reginald Alfred, 29 anos: psicólogo e comunicador no Haiti, ele trabalha como atendente de produção no restau­­rante Karina| Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo

Dificuldade

Português é barreira para revalidar diploma

Uma pesquisa informal feita pela Agência do Trabalhador com 74 haitianos aponta que 37% deles completaram o ensino médio no Haiti. Como o grau não tem validade no Brasil, eles precisam revalidar o diploma no Colégio Estadual ou no Instituto de Educação do Paraná, mas esbarram na língua portuguesa.

Neste ano, apenas 30 haitianos conseguiram convalidar o grau no Instituto. Segundo o diretor geral do colégio, José Frederico Mello, há outros pedidos. "Muitos querem validar, mas não conseguem porque não conseguem aprender o português", conta.

No Colégio Estadual, apenas três conseguiram convalidar o diploma. "Há muitos pedidos, mas o principal empecilho aqui também é o português", relata o secretário geral, Paulo Cesar Batista. Para ele, falta apoio aos haitianos aqui em Curitiba.

"O ideal seria que eles tivessem uma classe de língua portuguesa com metodologia de ensino para estrangeiros. Não adianta nada você começar um projeto e colocar um voluntário qualquer para ensinar o idioma a eles", conta.

Salário dez vezes maior

A média de salário haitianos em Curitiba é de R$ 1 mil, segundo Maria Tereza Rosa, psicóloga da Agência do Trabalhador de Curitiba. O valor é quase dez vezes maior do que o mínimo do Haiti, equivalente a pouco mais de R$ 100.

  • Sony Sylvéus, 28 anos: contador no Haiti:

Difícil andar pelo centro de Curitiba e não ver um haitiano. Hoje, segundo estimativas da Pastoral do Migrante, há mais de 2 mil circulando pela cidade e pela região metropolitana, dos quais 60% homens com idade entre 20 e 40 anos. Educados e solícitos, eles deixam a capital mais simpática e movimentam o mercado de trabalho, carente de mão de obra no setor construção civil, e a própria economia.

Jean Peoul, 24 anos, é um deles. Conseguiu trabalho como ajudante de obras logo que chegou a Curitiba, há um ano e dois meses. Pouco tempo depois, teve uma promoção e virou pedreiro. "Percebi que quando a pessoa estuda aqui no Brasil, ela cresce profissionalmente", diz.

Peoul fez um curso oferecido pelo Senai-PR. Com a promoção, viu o salário aumentar para R$ 1,8 mil. "Já consegui comprar geladeira, colchão e um celular de R$ 200, tudo à vista, pois não quero ficar pagando juros", conta Peoul, que vive em uma casa alugada em Pinhais. A cada dois meses, ele envia R$ 400 para sua mãe e sua irmã, que ainda moram no Haiti.

Câmbio movimentado

A remessa de dinheiro para o país tem movimentado as casas de câmbio na cidade. Na Fair Câmbio, localizada no Shopping Itália, o envio mensal é de R$ 300 mil, segundo a atendente Mara Silva. Quanto maior o valor, maior a taxa. A cada R$ 100, a agência cobra R$ 10 mais R$ 0,93 de IOF. No fim do mês, o lucro bruto mínimo da corretora é de mais de R$ 30 mil. "Alguns vêm aqui todo dia para mandar dinheiro", conta Mara. Na corretora, o Haiti representa 80% de tudo o que é enviado ao exterior, seguido do Líbano e do Equador.

Na Flex Câmbio, no mesmo shopping, são enviados R$ 500 mil por mês ao Haiti. "Do dia 5 ao dia 15 do mês, vêm até aqui 100 haitianos por dia, em média. Do começo do ano pra cá, o atendimento aumentou em 150%", relata a atendente Maria Helena Cochinski.

Para Peoul, o Brasil é um local de oportunidades, onde não falta emprego, e daqui ele não sai. O país, no entanto, tem um problema: a comida. "Arroz com feijão é bom, mas enjoa comer todos os dias. Além do mais, é muito caro. Eu gasto mais de R$ 300 (valor do seu vale alimentação) por mês para me alimentar", diz.

Da construção civil ao fast food

A Agência do Trabalhador de Curitiba atende de 10 a 15 haitianos por dia. Eles são contratados principalmente para a construção civil, como é o caso de Jean Peoul, e por redes de supermercado e de fast food.

O Kharina, por exemplo, já tem 27 haitianos em seu quadro de funcionários. Reginald Alfred, 29 anos, está na rede desde março. Ele é atendente de produção, ganha R$ 1,4 mil e já conseguiu comprar eletroeletrônicos e eletrodomésticos. "Adquiri tudo o que preciso para viver. Tenho até computador e internet", conta.

Ele mora em uma casa alugada e paga R$ 350 por mês, mas não pretende ficar por aqui por muito tempo. "Quero viajar e conhecer o mundo", conta Alfred, que já viveu no Peru, Panamá e até no Peru. Aqui ele é um atendente, mas no Haiti era psicólogo e comunicador.

Sony Sylvéus, 28, está no Kharina faz um ano. Contador no Haiti, ele foi contratado como atendente de salão na rede. Com o salário de R$ 1,8 mil, conseguiu adquirir vários bens. Mas o que ele quer mesmo é crescer profissionalmente. "Quero uma carreira ascendente. O Brasil precisa dar mais oportunidades para o meu povo, como um dia deu para os japoneses, alemães, italianos e outros que moram aqui."

Sylvéus, como outros haitianos de Curitiba, colocam a educação como prioridade. "Às vezes ouço os brasileiros dizerem ‘vou juntar dinheiro para comprar um carro’ e falo: ‘Mas, poxa, por que você não investe em estudo?’’’

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