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Na Usipar, o resíduo da construção civil é moído para gerar quatro novos subprodutos | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Na Usipar, o resíduo da construção civil é moído para gerar quatro novos subprodutos| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Método

O que era resíduo e estava em caçambas vira produto de novo

Assim que as caçambas de entulho chegam da Usipar, começa um processo de separação do material. A primeira triagem separa o que é válido para a empresa e o que deve ser encaminhado para outros recicladores. "Papelão, papel, vidro, alumínio, roupas, material molhado, tinta, manta asfáltica, gesso, entre outros materiais são considerados rejeitos e aqui, na usina, eles são embalados e encaminhados para recicladoras específicas", explica Alexandre Blaszezyk, um dos proprietários da recicladora.

Depois da triagem, o material de interesse da Usipar é moído e, desse processo, são retirados quatro subprodutos: brita, pedregulho, areia e rachão, vendidos para a construção civil na própria usina. "O material proveniente da reciclagem é de boa qualidade, mas não pode ser usado nas estruturas, colunas ou vigas. No entanto, a aplicação desses materiais, que são mais baratos e ecológicos, é totalmente viável na construção de bases para pisos ou calçamentos", defende Blaszezyk.

"O material proveniente da reciclagem é de boa qualidade, mas não pode ser usado nas estruturas, colunas ou vigas. No entanto, a aplicação desses materiais, que são mais baratos e ecológicos, é totalmente viável na construção de bases para pisos ou calçamentos."

Alexandre Blaszezyk, empresário da Usipar.

A construção civil é um dos setores que mais cresceu nos últimos anos, amparado por um consumo de recursos naturais que oscila entre 20% e 50%, de acordo com a Câmara Brasileira de Construção Sustentável (CBCS). Mas, se a estatística confere ao setor o status de vilão do meio ambiente, um grupo de empresários paranaenses descobriu que é possível destinar corretamente os resíduos das obras, arrefecer os ânimos com relação à sustentabilidade e ainda lucrar com isso.

A 18 quilômetros do centro de Curitiba, em Almirante Tamandaré, uma área de 54 mil metros quadrados recebe, todos os dias, cerca de 100 caminhões que transportam resíduos da construção civil para a Usina de Recicláveis Sólidos Paraná (Usipar). O que a usina recebe corresponde a cerca de 20% do material gerado diariamente em Curitiba.

As mais de 300 toneladas diárias têm um destino certo, a reutilização: restos de telhas, tijolos, cimento e cal podem se transformar em areia, brita, pedregulho e rachão (grandes pedras, oriundas de blocos de concreto, normalmente usadas para obras que envolvam drenagem, muros e contenções).

Retorno

Esses materiais que são subprodutos do que antes era entulho voltam para o canteiro de obras custando de 20% a 25% menos. "Nossa preocupação é com o meio ambiente e com o que chamamos de logística reversa, que trata do fluxo físico dos produtos", explica um dos empresários envolvidos no negócio, Adonai Aires de Arruda.

De acordo com informações da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), esse setor ainda é incipiente no Brasil, mas o sucesso de uma empresa de reciclagem do resíduo da construção depende de um entrosamento com as políticas ambientais da região.

Recebimento

Pagar para destinar corretamente as sobras parece uma boa opção para quem lida com a construção. A Usipar ganha não só na venda dos subprodutos, mas também para aceitar o resíduo.

Quem quer deixar resíduos na usina, paga entre R$ 25 e R$ 60 referentes ao transporte, além de um valor que varia de acordo com a qualidade do material. A empresa recebe a validação de um destino consciente para o resíduo e ajudar diminuir a preocupação com cobranças por parte de órgãos ambientais. "Geralmente, quem vem até aqui trazendo o resíduo já negocia a compra de outros produtos, economizando em uma etapa do transporte", afirma Arruda. Essa destinação correta vem sendo cobrada também pela Prefeitura de Curitiba há algum tempo, como parte do processo de alvará para construção e Habite-se, ao término da obra.

Valores

A Usipar está em operação há quase um ano. Desde abril do ano passado, já foram investidos mais de R$ 7 milhões por quatro empresários locais. Adonai Arruda aponta a intenção do grupo, que é apostar mais R$ 1,5 milhão na empresa para deixar "a casa pronta", define.

O grupo ainda não revela valores e nem estimativas de lucros, mas pela experiência dos últimos 12 meses, a perspectiva é positiva e o investimento poderá ser recuperado em até três anos. "Nós podemos ampliar a capacidade do maquinário para receber até 180 caminhões por dia, o que é quase o dobro da quantia que recebemos hoje", avalia. Além disso, o grupo já estuda abrir filiais em outros pontos da cidade porque o negócio alia duas áreas interessantes: preservação do meio ambiente e custo baixo.

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