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Veja a grande desvalorização sofrida pelo Real com a crise |
Veja a grande desvalorização sofrida pelo Real com a crise| Foto:

O movimento na taxa de câmbio está entre as variáveis mais difíceis de se prever. Nas duas últimas semanas, porém, ficou fácil determinar a direção do real. Para baixo, continuamente. Um cenário que combina medo de recessão mundial, queda nas bolsas de valores, busca pela segurança, fuga de capitais e dúvidas sobre a balança comercial pesaram para que a moeda brasileira caísse 8% na semana passada – na última sexta-feira a cotação foi a R$ 2,45, a maior desde julho de 2005.

O real é hoje uma das moedas emergentes que mais caíram diante do dólar. De 15 de setembro, quando a crise se acentuou com a quebra do banco Lehman Brothers, até a última sexta-feira, a moeda americana se valorizou 37% diante do dinheiro brasileiro. Ficamos perto da poderosa lira turca, que perdeu 38% de seu valor diante do dólar. Por conta disso, aliás, a Turquia já passa o chapéu no Fundo Monetário Internacional.

O Brasil está em melhor forma, tem reservas que beiram os US$ 200 bilhões e um checão de US$ 30 bilhões assinado pelo Fed, o banco central dos EUA, que pode ser trocado por reais a qualquer momento. Mas é sintomático que a moeda brasileira tenha entrado em uma espiral para baixo que já fez o mercado financeiro rever suas previsões. Há menos de um mês a média das estimativas de agentes financeiros apuradas pelo Banco Central apontava para um dólar a R$ 1,95 no fim do ano. Há duas semanas, passou para R$ 2,05. Na semana passada, foi para R$ 2,10. O dólar ficará mais caro, por mais tempo.

"Neste momento, uma cotação perto de R$ 2,50 ainda parece um movimento de curto prazo", diz o economista Christian Luiz da Silva, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Há a perspectiva de que, após a passagem do mau humor do mercado, o dólar volte para pouco mais de R$ 2.

O risco de que esse retorno demore e não seja para tão baixo, no entanto, está aumentando. O comércio exterior está enfraquecido e o superávit comercial deve cair dos US$ 24 bilhões estimados para 2008 para algo entre US$ 10 bilhões e US$ 5 bilhões. A entrada menor de dólares na conta comercial será mais sentida caso a saída de dinheiro pela conta financeira do país continuar. Nos últimos dois meses, cerca de US$ 13 bilhões saíram do país por essa via.

Para o economista Luiz Afonso Cerqueira, conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), já está claro que o dólar mudou de patamar, para algo em torno de R$ 2,10 e R$ 2,30. "Os investidores estrangeiros continuam saindo do país para cobrir posições e diminuir o risco", comenta. "Fora que as operações de derivativos feitas por empresas brasileiras ainda não estão quitadas. Elas têm de comprar moeda americana para zerar as posições."

Enquanto o dólar se valoriza e a perspectiva de retorno a uma cotação na casa dos R$ 2 fica mais distante, cresce a pressão sobre a inflação. Como diversos preços na economia brasileira são influenciados pelos valores internacionais, a inflação tende a subir juntamente com o dólar. A tendência é que o BC segure os juros altos por mais alguns meses, o que tem o potencial de retardar a reação da política monetária a uma crise que tem tudo para reduzir bastante o crescimento da economia brasileira. "Já estamos com um cenário em que vai ser mais difícil exportar e em que o investimento pode cair. Seria ruim ver o dólar acima de R$ 2,40 por muito tempo", analisa o economista Cesar Rissete, professor da Universidade Positivo.

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