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Lula com Antonio Palocci e Henrique Meirelles: no primeiro mandato, independência do Banco Central foi um dos fatores para a recuperação da economia. | va/pp/EVARISTO SA
Lula com Antonio Palocci e Henrique Meirelles: no primeiro mandato, independência do Banco Central foi um dos fatores para a recuperação da economia.| Foto: va/pp/EVARISTO SA

Segundo consta, a condição imposta pelo ex-presidente Lula para assumir um ministério é ter carta branca para mexer na economia. É uma informação mal recebida pelos mercados – há o temor de que a intervenção luliana seja para usar o gasto público para fazer o PIB crescer à força.

O efeito Lula sobre a economia depende muito de qual perfil ele vai adotar. O Lula paz e amor do primeiro mandato ou a jararaca ferida? Por sua experiência na presidência, Lula sabe que a economia faz milagres sobre a imagem de um governante. O crescimento econômico, com queda do desemprego e alta do poder de consumo, é uma condição para a sobrevivência de um governo politicamente acuado.

O problema central da carta branca a Lula é que o tempo da economia é diferente do tempo da política. Com o processo de impeachment voltando a correr e a pressão das ruas, o governo Dilma/Lula teria entre um mês e 45 dias para convencer o Congresso de que o barco da economia parou de afundar. É pouco tempo.

O Lula paz e amor de 2003 assumiu um país com ajuste fiscal feito. O superávit de 2002 superou 3% do PIB e a economia ainda crescia. É verdade que a inflação estava alta – terminou 2002 em 12,5% – mas era resultado de uma desvalorização cambial e tinha prazo para acabar. O governo precisou combinar a manutenção do superávit com uma alta expressiva dos juros para fazer a inflação rapidamente cair, abrindo espaço para o crescimento que seria puxado pelo boom das commodities.

Hoje, o país tem um déficit primário acima de 1,5% do PIB (é o número que circula nas projeções de mercado para este ano). A inflação está alta, mas não é o maior dos problemas porque começa a ceder à forte recessão.

Os problemas de 2003 e 2016, portanto, parecem muito diferentes. Isso só na aparência. A desconfiança de 13 anos atrás é parecida com o sentimento agudo de falta de perspectiva que existe hoje no país. É o tipo de sentimento que paralisa decisões de investimento e consumo e exige ações parecidas com o que vimos em 2003: compromisso com a gestão fiscal (assumido na época por Antônio Palocci na Fazenda), um Banco Central com independência na prática (algo que Henrique Meirelles, bastante cotado para voltar ao BC, tinha) e um discurso moldado para recuperar a confiança. Tudo coisa que leva tempo para fazer efeito.

Se, na pressa de mostrar resultados, escolher uma saída mais jararaca que paz e amor, Lula corre o risco de escorregar de vez para o populismo econômico. É o passo adiante da política de Dilma, que optou por fazer do gasto público o motor de um crescimento que nunca veio. Mais crédito, programas de obras públicas e tabelamentos de preços fazem parte da cartilha que colocou o Brasil na pior recessão de sua história. Dobrar a aposta, com ideias como o uso das reservas internacionais e uma redução forçada dos juros, elevaria o risco de descontrole cambial e de deterioração ainda maior das contas públicas, com efeitos inflacionários bem conhecidos.

Muita gente defende esse caminho com o argumento de que a combinação de uma taxa de juros menor e o uso das reservas reduziriam o pagamento do serviço da dívida, fazendo com que ela se torne mais sustentável. Pode ser. Mas é um caminho perigoso, mesmo para uma cobra da política, porque não garante que a confiança vai voltar.

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