A chanceler alemã, Angela Merkel, pressionou o governo brasileiro nesta quinta-feira (20) para abrir seus mercados para companhias estrangeiras, e disse que vê uma oportunidade para alcançar um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Merkel está em uma visita de dois dias ao Brasil com uma grande delegação de autoridades e representantes de empresas alemãs, que injetaram mais de 19 bilhões de euros na economia brasileira.
“Podemos ampliar nosso comércio. Precisamos de condições confiáveis de investimento”, disse ela em Brasília, fazendo pressão para conseguir acesso melhor para produtos farmacêuticos e tecnologias médicas da Alemanha, por exemplo, ao mercado brasileiro.
Alemães querem mais segurança jurídica
Espalhada pela Esplanada dos Ministérios em reuniões com diferentes ministros, a equipe do governo de Angela Merkel, chanceler da Alemanha, analisa o ambiente econômico brasileiro e considera possíveis investimentos. Após reunião com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o vice-ministro de Finanças da Alemanha, Jens Spahn, afirmou que o país europeu quer mais empresas alemãs investindo no Brasil, mas que, por enquanto, a equipe econômica precisa, antes, ter mais reuniões e informações sobre segurança jurídica, regulação de contratos e legislação tributária.
“Queremos dar apoio ao governo brasileiro, mas a gente precisa de outras reuniões. Nós precisamos talvez de mais informações sobre as regulações dos contratos e segurança do que acontece aqui. Queremos que mais empresas alemãs invistam no Brasil, mas, para isso, é preciso um arcabouço mais interessante para investir”, disse Spahn.
O vice-ministro afirmou que a situação econômica brasileira precisa melhorar, mas se disse impressionado com o Projeto de Investimento em Logística (PIL) anunciado pelo governo.
“A economia brasileira obviamente está em uma situação em que precisa melhorar, claro que precisa de mais investimentos e eu fiquei muito impressionado com o projeto do governo de investimentos em todo o país de novas estradas, é algo realmente impressionante pelo tamanho.”
Autoridades do governo alemão querem usar a viagem para fazer o lobby para que empresas da Alemanha estejam envolvidas no programa de investimentos de 57 bilhões de dólares em ferrovias, portos e aeroportos anunciado pela presidente Dilma Rousseff.
As companhias interessadas no programa incluem a Siemens, a Fraport e a Deutsche Bahn . Elas enfrentam concorrência de empresas chinesas.
O Brasil atravessa um período de impasse no Legislativo, uma falta de alternativas viáveis aos partidos políticos estabelecidos e uma guinada econômica que levou o real ao patamar mais baixo em 12 anos.
Em recessão
A economia está sentindo os efeitos da desaceleração mais forte em três décadas. O vasto escândalo de corrupção revelado pela operação Lava Jato envolveu chefes políticos e corporativos, e o Tribunal de Contas da União (TCU) deve analisar as contas do governo Dilma de 2014 e, em caso de parecer pela rejeição, pode dar força aos partidários de um impeachment.
No entanto, Merkel frisou a “relação muito especial” da Alemanha com o Brasil, onde mais de 1.300 companhias alemãs atuam. Ela também vê uma nova oportunidade de fechar um acordo de comércio com o Mercosul.
As conversas sobre um acordo se arrastam desde 1999. As negociações já fracassaram no passado devido a subsídios a agricultura da União Europeia e à abertura das indústrias do Mercosul à concorrência europeia.
“Saí com a impressão que a presidente está muito interessada”, disse Merkel sobre a negociação sobre comércio após reunir-se com Dilma.
O Paraguai e o Uruguai também estão interessados em um acordo rápido com a UE, mas a Venezuela se mostra relutante.
Cooperação ambiental
A presidente Dilma citou a “concordância” dos dois países em cooperação ambiental e o compromisso brasileiro de redução de 36% nas emissões até 2020. Segundo ela, é uma meta que “estamos cumprindo adequadamente”. Dilma repetiu as metas anunciadas para 2030 que serão ratificadas na reunião sobre o clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro, como restauração e recuperação de 12 milhões de hectares, o desmatamento zero e a neutralização de carbono associada ao fim da supressão (desmatamento) da Amazônia.
A presidente brasileira pediu ainda o fim de barreiras sanitárias para produtos agropecuários brasileiros e ainda defendeu a posição conjunta brasileira e alemã pela reforma do Conselho de Segurança da ONU. “Além dessa pauta bilateral, Brasil e Alemanha dialogam permanentemente sobre grandes temas globais. Brasil e Alemanha concordam que reforma do Conselho de Segurança da ONU é tarefa inadiável. Defendemos tornar o conselho mais representativo do mundo multipolar em que vivemos.”
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