• Carregando...
Marcus Titon, bisneto do fundador da livraria e papelaria João Haupt: 105 anos de mercado | Marco André Lima/Gazeta do Povo
Marcus Titon, bisneto do fundador da livraria e papelaria João Haupt: 105 anos de mercado| Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo

Primeiros anúncios

Lança-perfume e seguradoras

Prevista para circular com apenas quatro páginas, a primeira edição da Gazeta do Povo foi ampliada para seis páginas "por sermos a isso forçados pela abundância de matéria a que tínhamos de dar publicidade", como justifica uma nota do próprio jornal na página 4. Além do conteúdo editorial, foram 57 anúncios. A economia da época ainda era focada nos ciclos da madeira e da erva mate.

Nos segmentos de comércio e serviços se destacam as companhias seguradoras, com cobertura "terrestre e marítima" – o que denota o perfil exportador da economia paranaense.

Entre elas a Alliance, do bancário Charles Rothschild, e a Companhia de Seguros Liverpool and London and Glob Co, que não entregou o anúncio a tempo e ficou com o espaço "reservado" eternizado na história do jornal.

No quesito curiosidade, sobressai o anúncio da Casa de Novidades. Com a proximidade do carnaval, a empresa não perdeu a chance de divulgar o lança-perfume Vlan e Rodo.

Os sócios-fundadores da Gazeta do Povo, Benjamin Lins e Plácido Silva, respectivamente diretor e secretário do jornal, também apostaram na força publicitária do jornal para divulgar seus serviços advocatícios. Eles são um dos poucos anunciantes que colocaram um número de telefone no anúncio: 135. Assim mesmo, com apenas três digitos. Bem fácil de decorar.

  • O anúncio da papelaria João Haupt, de 1919: empresa continua no mesmo endereço
  • Água era vendida só na
  • Mate Real sobreviveu à crise de 1950 graças à lembrança da marca entre a população

Mais que um recorte de jornal, um fragmento da história. Os anúncios publicados na edição especial de lançamento da Gazeta do Povo dão uma boa mostra das transformações econômicas da sociedade paranaense nos últimos 93 anos. Dos 57 anúncios presentes no jornal que circulou em 3 de fevereiro de 1919, apenas três são de empresas que permanecem em atividade até hoje.

A livraria e papelaria João Haupt e as indústrias de bebidas Mate Real e Águas Ouro Fino têm alguns pontos em comum que ajudam a explicar a longevidade das marcas: elas permanecem sob o comando da família dos fundadores; as três são paranaenses e não abandonaram suas raízes; e todas precisaram se reinventar ao longo do tempo.

A mais longeva das marcas anunciantes é a Mate Real, fundada em 1834, considerada a indústria mais antiga em atividade no Brasil, hoje operando com o nome de Moinhos Unidos Brasil Mate S/A – resultado da união entre Mate Idelfonso, BR de Azevedo e David Carneiro e Cia Ltda. Na época da fusão, nos anos 1950, várias empresas do ramo faliram. "Foi uma época difícil, em que as empresas precisaram se voltar para o mercado interno. A Moinhos Unidos passou por uma grande reestruturação e conseguiu sobreviver graças à lembrança que existia na cabeça das pessoas, resultado da exposição permanente na mídia, como comprova esse anúncio antigo na Gazeta do Povo", lembra Fernando Fontana, funcionário há época da fusão e que depois se tornou diretor da empresa, que ainda é controlada pela família Fontana.

Para se reinventar, a empresa foi deixando de lado o chimarrão e, em 1960, introduziu no mercado brasileiro o chá mate em saquinho. "As empresas só são tradicionais quando tradição significa a capacidade de se renovar", pontua Fontana.

Quarta geração

Hoje na quarta geração, a empresa João Haupt Papelaria e Materiais para Escritório permanece no mesmo endereço da época do anúncio publicado em 1919. Fundada 12 anos antes pelo imigrante tcheco João Haupt e seu cunhado Francisco Juksch, a empresa é hoje administrada pelo bisneto de Haupt, Marcus Vinícius "Haupt" Titon. O sobrenome se perdeu entre as gerações, mas o compromisso com o legado da empresa permanece firme. "É emocionante a oportunidade de dar continuidade a uma história de tradição. Pensar em quantas mudanças de moedas, crises econômicas e transformações políticas atravessamos ao longo de todos esses anos", diz Haupt. A loja permanece no mesmo endereço, a antiga casa do fundador, mas hoje a maior parte da receita vem da venda de materiais de escritório pela internet.

Além do H2O

A fórmula da água continua a mesma, mas a forma de vendê-la mudou muito com o passar dos anos. Os primeiros registros da comercialização das águas Ouro Fino são de 1898, época em que a água da marca era vendida em "pharmácias", contra "males do estomago, fígado e outras moléstias". A empresa tal como é hoje só foi fundada em 1946 por Augusto Pereyron Mocellin, avô da atual geração dona da empresa. O diretor-geral da Águas Ouro Fino, Hélio Correa, conta que atualmente a empresa passa por um processo de transição, com a profissionalização da gestão. Os cinco netos do fundador hoje compõem o conselho da empresa. "A transição traz mais objetividade para uma empresa centenária, que certamente atua em um mercado muito mais difícil que aquele que anunciou na primeira edição da Gazeta do Povo", compara Correa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]