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O governo argentino reabriu nesta semana os registros de exportação de trigo, suspensos desde março. A novidade está nas restrições impostas pela nova resolução, publicada no Diário Oficial. O período entre o registro da operação e o embarque caiu de um ano para 90 dias. A medida foi adotada, como explicou o ministro da Economia, Miguel Peirano, após o aumento do imposto à exportação do cereal, que passou de 20% para 28%. A tarifa da farinha permanece em 10%.

Desde março, aproximadamente cinco milhões de toneladas do produto foram negociadas entre Brasil e Argentina. Como o registro permanecia suspenso, o produto não podia ser embarcado e, agora, fica sujeito ao novo imposto para deixar o país. Na época, o vizinho suspendeu os registros preocupado com a pouca disponibilidade de trigo no mercado interno. Estava permitida a exportação apenas da farinha de trigo.

Flávio Turra, gerente técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), entende que "a retomada das exportações pelo argentinos tem reflexo positivo para a indústria brasileira, principalmente aos moinhos do Norte e Nordeste, que consomem apenas o produto importado". Contudo, explica o analista, se mantida a atual política, de restringir a exportação do grão e estimular a da farinha, a Argentina pode trazer problemas aos produtores e moinhos do Brasil.

Mais de 90% do trigo importado pela indústria brasileira é argentino. Neste ano, as compras internacionais de trigo pelo Brasil devem atingir 7,5 milhões de toneladas, sendo 7 milhões da Argentina, que também deve negociar 500 mil toneladas de farinha, o equivalente a 10% das exportações totais. A safra nacional, praticamente concluída, deve fechar em 3,5 milhões de toneladas, das quais 1,8 milhão produzidas no Paraná. O país consome mais de 10 milhões de toneladas.

Com relação à sobretaxa aplicada pelo governo portenho, Turra acredita que a decisão não deve refletir no preço pago pelos moinhos nacionais, pelo menos num primeiro momento. "Eventualmente pode ter um impacto para nós, mas o reflexo imediato deve ser nas margens praticadas pelos exportadores e no preço pago ao produtor daquele país", diz Turra. Em tese, eles devem respeitar a paridade internacional, em torno de US$ 350 a tonelada.

Abitrigo

Em nota divulgada na semana passada, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) fez um alerta ao governo brasileiro para o que chamou de "duro golpe" do governo da Argentina em relação às exportações de trigo e farinha de trigo, que pode ser drasticamente sentido "de maneira negativa em toda cadeia produtiva do Brasil".

"Se a Argentina aumentou seu imposto de exportação do trigo, ela tem de aumentar o da farinha de trigo para os mesmos 28%. Caso isso não ocorra, será uma medida para destruir a indústria nacional brasileira, pois seremos obrigados a comprar farinha de trigo do país vizinho, fechando postos de trabalho e tornando o país dependente da farinha argentina para nosso pão, macarrão e bolachas", afirma Samuel Hosken, presidente da Abitrigo.

Segundo a entidade, o Brasil tem capacidade para moer 14 milhões de toneladas/ano de farinha de trigo, porém utiliza apenas cerca de 60% deste potencial.

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