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Cristina Kirchner espera que o Brasil tome a iniciativa de limitar exportações das indústrias têxtil e de eletrodomésticos, entre outras. | Otávio de Souza/AFP
Cristina Kirchner espera que o Brasil tome a iniciativa de limitar exportações das indústrias têxtil e de eletrodomésticos, entre outras.| Foto: Otávio de Souza/AFP

Medidas de salvaguardas contra o Brasil já estão na mira da Argentina. O governo de Cristina Kirchner está decidido a proteger seu mercado de uma possível "avalanche" de produtos brasileiros com a desvalorização do real, confirmam fontes ligadas à Casa Rosada. Para isso, o país poderia colocar em uso, pela primeira vez, o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) que prevê cotas de importação. A presidente deixou sua decisão bem clara durante discurso na quinta-feira, por ocasião de um anúncio de investimentos no setor de gás. "Queremos um comércio administrado, que vai usar todos os instrumentos necessários que temos no Mercosul para manter o superávit comercial", disse Cristina.

Algumas horas mais tarde, a presidente convocou os secretários de Relações Internacionais da Chancelaria, embaixador Alfredo Chiaradía, e o secretário de Indústria, Fernando Franguío, na residência oficial de Olivos, para uma reunião. Antes, ambos os funcionários já haviam se reunido com o chefe de Gabinete da Presidência, Sergio Massa.

Uma alta fonte do governo argentino explicou que o assunto "está sendo tratado com ponderação porque o setor empresarial sempre chora, pede mais e age como se tudo fosse terrível". Segundo a fonte, "o governo argentino vai operar em defesa de seus interesses nacionais e de suas indústrias, tratando de que as medidas que seja obrigado a adotar tenham o menor efeito daninho em relação aos sócios".

A iniciativa argentina se deve basicamente à diferença cambial entre os dois países. Enquanto no Brasil, a alta do dólar à vista (negociado em balcão) frente ao real acumula mais de 30% em 2008, na Argentina, a moeda norte-americana subiu apenas cerca de 3% frente ao peso no mesmo período. Assim, a grande preocupação da Argentina é que o real desvalorizado num mundo em recessão implica em produtos brasileiros mais baratos e em maior volume.

Nos últimos dias o assunto tem ganhado o destaque principal na agenda oficial e empresarial do país. O presidente da União Industrial Argentina (UIA), Juan Carlos Lascurain, levantou a voz para fazer as advertências sobre a perda de competitividade da indústria argentina e das reivindicações dos industriais: uma desvalorização do peso que acompanhe a do real e medidas protecionistas contra Brasil, China e Índia.

O governo argentino vai tentar convencer o brasileiro de que o MAC, nesse momento, é fundamental para evitar que a Argentina sofra estragos mais profundos em sua economia e que o déficit comercial com o Brasil tenha um salto brutal dos atuais US$ 4 bilhões para uma cifra insustentável. Porém, antes de usar a MAC, que seria a colocação de cotas para aqueles produtos que estiverem provocando dano à indústria local, a Argentina vai pedir ao Brasil que tenha a iniciativa de limitar suas próprias vendas de produtos sensíveis, como têxteis, calçados, eletrodomésticos, metalmecânica, brinquedos e outros.

Os argentinos pediram, para a próxima semana, uma reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC), do qual participam os ministros de Economia e chanceleres dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Chile e Bolívia) para coordenar ações conjuntas com o objetivo de enfrentar a crise financeira internacional. Neste encontro, o assunto seria aprofundado. Porém, segundo uma alta fonte da chancelaria argentina, o Brasil, como presidente pro tempore do bloco regional, marcou a reunião, "a princípio", para o dia 27.

"Nesses tempos, com a deterioração ocorrendo a uma velocidade tremenda, 27 de outubro é tempo demais, é muito tarde", reclamou a fonte. Nos últimos três dias, continuou a fonte, "vimos um aprofundamento da crise financeira de uma dimensão impensada que está definitivamente provocando um impacto na economia real". A fonte afirmou que o governo de Cristina não pretende tomar nenhuma medida unilateral e, por isso, esse processo "vai requerer consultas e um diálogo muito fluido, tratando de que tudo seja harmônico".

A Ásia, especialmente a China e a Índia, também estão na mira do governo, que pretende colocar todas as travas possíveis aos seus produtos. A questão é que qualquer barreira ao comércio não pode ser discriminatória, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso significa que as barreiras contra a Ásia valeriam também para o Brasil e os demais países. Por isso, as medidas de proteção que a Argentina eventualmente vier a adotar para se resguardar de uma "invasão chinesa", como dizem os empresários, terão que ser informadas e, dependendo do caso, discutidas com o Brasil, já que é seu principal sócio comercial.

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