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Fabricante de calotas, a Zanini, do diretor Márcio Valente, cresceu no primeiro semestre de 2014: exceção em meio à crise | André Rodrigues / Gazeta do Povo
Fabricante de calotas, a Zanini, do diretor Márcio Valente, cresceu no primeiro semestre de 2014: exceção em meio à crise| Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

Com demanda menor, prevenção fica em 2.º plano

Fornecedora de sistemas de freio para veículos pesados, a Eckisil Freios, de Curitiba, faturou 16% menos no primeiro semestre. Caíram as vendas tanto para a indústria de implementos rodoviários (reboques e outros) quanto para o mercado de reposição.

"Se o caminhão não é vendido, o implemento não é comprado e nem o freio para esse implemento", diz Jader Lima Neves (foto), gerente comercial.

Segundo ele, o mercado de reposição reflete as dificuldades das transportadoras. "Quando a situação aperta, as empresas deixam de fazer a manutenção preventiva e passam a fazer só a corretiva."

Repercussão

Pacote federal de estímulo ao crédito não empolga empresários

As medidas que o Banco Central anunciou na semana passada para facilitar o crédito à compra de automóveis não empolgam executivos da indústria de autopeças. Para Sidney Del Gaudio, presidente da AAM na América do Sul, o incentivo aos empréstimos não deve surtir o efeito esperado. "Não adianta liberar mais R$ 25 bilhões para os bancos emprestarem se o consumidor já está endividado. Os poucos que querem comprar um carro novo vão encontrar bancos bastante severos, preocupados com a inadimplência", avalia. "É preciso baixar a inflação a níveis civilizados e ter uma política econômica de longo prazo. Esse negócio de tirar IPI, prorrogar desconto de IPI, ninguém acredita mais."

Para Leonardo Barbosa de Araújo, supervisor comercial da NTN-SNR, os estímulos ao consumo adotados nos últimos anos podem ser responsáveis pela estagnação atual. "Será que a retração é só um problema de crédito? Ou será que os incentivos não provocaram uma antecipação de compras e agora estamos vivenciando o momento de baixa?", questiona.

A produção brasileira de automóveis caiu 17% nos oito primeiros meses do ano. A de caminhões e ônibus, 19%. E a de tratores e colheitadeiras, 15%. Do lado de lá da fronteira, as montadoras argentinas também vão mal. Não por acaso, a indústria brasileira de autopeças, fornecedora de todas as anteriores, atravessa o pior momento desde 2009. A crise já custou milhares de empregos, inclusive no Paraná.

INFOGRÁFICO: Veja a atual situação do setor de autopeças

A última sondagem do Sindipeças, que ouviu 87 empresas em cinco estados, indica que o faturamento do setor encolheu 12% no primeiro semestre. A retração no Paraná teria sido mais suave, de 2%, mas o número pode ser enganoso, porque o levantamento consultou apenas cinco fabricantes paranaenses, de um total de 31 associados.

Para o diretor do Sindipeças no Paraná, Benedicto Kubrusly Júnior, a produção estadual baixou mais de 10%. "O resultado varia de empresa para empresa. Quem produz peças para certo carro pode estar se saindo melhor que o fornecedor de outro modelo. Mas, na média geral, o setor acompanha de perto o desempenho das montadoras", diz.

O polo paranaense de autopeças é o terceiro maior do país, com faturamento de quase R$ 6,6 bilhões e 12,1 mil empregados ao fim do ano passado – números que provavelmente estarão menores quando 2014 terminar. Segundo o Ministério do Trabalho, os fabricantes do estado demitiram 1.352 pessoas de janeiro a julho, o maior corte em cinco anos. No país todo, foram mais de 16 mil demissões.

Na multinacional espanhola FPK, instalada em São José dos Pinhais (Grande Curitiba), o quadro de pessoal baixou de 120 para 72 funcionários neste ano. A empresa, que produz assoalhos e outros acessórios de composto plástico para carros, sofre com a queda das vendas da Volkswagen, que compra 85% de sua produção. Nos últimos anos, a FPK investiu R$ 12 milhões em equipamentos, mas boa parte deles está ociosa. "De agosto a dezembro, a taxa média de utilização das máquinas será de 27%", conta o diretor administrativo e financeiro, Mauricio Saldanha.

As receitas da norte-americana AAM, que fabrica eixos cardan e diferenciais para picapes e caminhões, encolheram 22% neste ano. E a fábrica de Araucária, na Grande Curitiba, cortou funcionários quase na mesma proporção. "Projetávamos um ano difícil, por causa do carnaval em março, da Copa e da inflação. Mas a expectativa era de estabilidade no faturamento e não de uma queda assim", diz Sidney Del Gaudio, presidente da AAM na América do Sul.

Market Share

Crescimento mesmo só para quem ganhou nova fatia de mercado

Se o faturamento de um fabricante de autopeças continua crescendo neste ano, provavelmente é porque ele ganhou fatia de mercado (market share), ou seja, passou a ocupar o espaço que antes era de um concorrente. É o caso de duas empresas na região de Curitiba, a nipo-francesa NTN-SNR, de Fazenda Rio Grande, e a espanhola Zanini, de São José dos Pinhais.

A NTN-SNR, que fornece rolamentos de roda para Ford, Renault, Toyota, Honda, Peugeot-Citroën e Fiat, espera terminar o ano com uma alta de 10% no faturamento, graças à conquista de novos projetos de algumas montadoras. Mas a empresa não está plenamente satisfeita. "A expectativa inicial era de um crescimento de 25%, que, com a retração do mercado, não vai se confirmar. Vislumbramos dificuldades para absorver os investimentos que fizemos. O retorno vai demorar mais", diz Leonardo Barbosa de Araújo, supervisor comercial da empresa. Segundo ele, a participação no mercado brasileiro deve subir de 18%, ao fim de 2013, para 25% até o início de 2015.

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