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Veja tabela comparativa da balança comercial do Paraná entre 2009 e 2010 |
Veja tabela comparativa da balança comercial do Paraná entre 2009 e 2010| Foto:

Manufaturados perdem espaço

O saldo da balança comercial é um dos dados que sinalizam a capacidade do país de honrar seus compromissos lá fora sem recorrer a empréstimos. Em âmbito regional, os números do comércio exterior servem mais para indicar o caminho que a economia de determinado lugar pode estar tomando. E, no caso paranaense, eles parecem apontar para a época em que o estado dependia basicamente do campo.

Basta observar a evolução da fatia dos manufaturados – produtos industrializados de maior valor agregado – no total exportado. Nos últimos dez anos, eles responderam, em média, por 48% do faturamento do estado com as exportações, e no melhor momento da década, em 2006, chegaram a 57% do total. Sua participação atual, no entanto, não passa de 42%.

"Exportamos cada vez mais produtos básicos e menos manufaturados", resume o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). "E, se observarmos a balança comercial de cada grupo de produto, veremos que aqueles originados no campo, soja, carnes e madeira, têm superávit nas operações com o exterior. Os manufaturados, pelo contrário, estão apresentando déficits." Essa combinação faz com que os saldos comerciais recuem na entressafra de grãos.

Marcha à ré

Se produtos como soja e carnes garantem algum superávit para o estado, a balança comercial do setor automotivo do Paraná – o terceiro maior do país, um dos ícones da etapa mais recente de industrialização do estado – segue sentido oposto.

Após oito anos de saldos positivos, o grupo que reúne veículos, tratores e suas peças voltou ao vermelho em 2009, e elevou seu déficit em 2010. De janeiro a setembro, as importações do setor superaram as exportações em US$ 379 milhões. (FJ)

  • O déficit da balança paranaense é o maior desde 1999, confira no gráfico

A balança comercial do Paraná fechou setembro com saldo negativo de US$ 35 milhões. Esse déficit – o primeiro em seis meses – foi causado, de um lado, pela redução de 7% nas vendas ao exterior, pressionadas pela queda nos embarques de soja em grão, principal produto da pauta paranaense. Na outra ponta, as importações mantiveram sua trajetória ascendente, ao crescer pelo sétimo mês consecutivo.

O déficit de setembro pode ser pontual, mas o movimento por trás dele não é. A diferença entre as exportações e as importações do estado vem se estreitando desde 2005, numa trajetória interrompida apenas no atípico ano de 2009, quando o comércio exterior sofreu os piores efeitos da crise global.

Nos nove primeiros meses de 2010, o Paraná exportou US$ 10,651 bilhões e importou US$ 9,887 bilhões, acumulando superávit de US$ 764 milhões em suas transações com o exterior. O valor equivale a pouco mais de um terço do registrado em igual intervalo do ano passado. É também o menor resultado para o período janeiro-setembro desde 2001, segundo o banco de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O fenômeno não é exclusividade do Paraná – no cômputo de todo o Brasil, os saldos também vêm encolhendo. O que, por um lado, é natural. Se o país cresce acima de 7% ao ano e seus principais clientes lá fora patinam para sair do atoleiro criado pela crise global, o mercado doméstico obviamente vai absorver mercadorias importadas em velocidade superior àquela em que as empresas brasileiras conseguem vender seus produtos ao exterior. A desvalorização do dólar, que reduz a competitividade das exportações brasileiras ao mesmo tempo em que barateia a compra de importados, só agrava a situação (leia matéria sobre câmbio nesta página).

Tendência

Embora exista uma tendência nacional de redução do superávit comercial, as pautas comerciais dos estados têm características distintas umas das outras. E as diferenças em seus resultados têm ficado mais evidentes desde 2008. Minas Gerais, grande exportador de minério de ferro – matéria-prima negociada a preços padronizados no mundo inteiro – exporta mais hoje do que no período pré- crise, e vem elevando seus superávits. Por outro lado, São Paulo, o estado mais industrializado do país, que era superavitário até 2007, só fechou no azul uma vez nos últimos 32 meses.

O Paraná é, ou costumava ser, uma espécie de meio-termo. Sua indústria exportadora ganhou força a partir de meados dos anos 1990, desafiando a hegemonia dos produtos básicos e semimanufaturados do agronegócio. Mas, nos últimos tempos, seu lado industrial voltou a perder terreno, novamente cedendo espaço às matérias-primas agrícolas.

Real forte facilita o controle da inflação

O câmbio é apontado como causa principal da queda dos saldos comerciais do Paraná e do Brasil. A cotação média do dólar, que ficou em R$ 2,08 de janeiro a setembro do ano passado, caiu para R$ 1,78 em igual período deste ano, um tombo de 15%. Quanto mais baixo o valor da moeda norte-americana em relação ao real, mais barato fica comprar produtos estrangeiros, e mais difícil vender mercadorias brasileiras lá fora – elas ficam mais caras que os produzidos em países de moedas menos valorizadas.

O movimento do câmbio também reduz a rentabilidade do exportador, que ganha cada vez menos reais no momento em que vai trocar os dólares obtidos com as vendas ao exterior. Em dólares, as vendas paranaenses cresceram 21% nos nove primeiros meses deste ano, em comparação ao mesmo período de 2009, passando de US$ 8,8 bilhões para US$ 10,7 bilhões. Na conversão para reais, o avanço foi de apenas 4%: segundo estimativa feita pela Gazeta do Povo a partir da cotação média mensal do dólar, a receita do exportador cresceu de R$ 18,1 bilhões de janeiro a setembro do ano passado para R$ 18,9 bilhões no mesmo intervalo de 2010.

Pontos positivos

Esse mesmo cenário facilita a vida dos importadores, e também traz alguns pontos positivos para a economia nacional. O primeiro deles é o controle da inflação, limitada tanto pela entrada de importados mais baratos quanto pelo receio dos fabricantes brasileiros de elevarem seus preços.

O segundo ponto favorece a própria indústria brasileira. Afinal, com o dólar barato, ela consegue modernizar ou ampliar seu parque fabril com máquinas mais eficientes – que, por fim, podem elevar sua produtividade e competitividade, inclusive no exterior. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a importação de bens de capital subiu de US$ 1,58 bilhão para US$ 2,58 bilhões de 2009 para 2010. No período, a fatia desses produtos no total importado passou de 23,7% para 26,1%. (FJ)

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