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| Foto: Antônio More / Gazeta do Povo

Banco do Brasil e Caixa Econômica passaram os últimos oito anos avançando sobre o terreno dos bancos privados no mercado de crédito, movimento que foi acompanhado por uma forte expansão no quadro de funcionários. Agora, sob novo comando e em meio à pior recessão da história, os bancos estatais decidiram recolher parte de suas tropas. Nos últimos dias, eles anunciaram planos de fechar cerca de 500 agências e cortar quase 30 mil empregados.

O objetivo é reduzir despesas e recuperar a rentabilidade perdida. Se não lucrarem mais, os dois bancos terão dificuldades para cumprir as exigências de capital que entram em vigor até o fim da década. A alternativa seria um socorro do Tesouro, visto como pouco provável num momento em que o governo tenta convencer a sociedade a aceitar sacrifícios para tirar as contas públicas do vermelho.

“Tanto bancos públicos quanto privados têm o desafio de ter um capital mais robusto e mais puro no futuro, ou seja, que não esteja ligado à emissão de dívida”, diz Luis Miguel Santacreu, analista da agência de classificação de riscos Austin Rating. “Banco do Brasil e Caixa, que têm atuação nacional e estruturas que ficaram muito grandes nos últimos anos, vão precisar aumentar a rentabilidade. E uma das formas de gerar mais resultado é a redução de custos.”

A rentabilidade dos bancos públicos é muito inferior à das principais instituições privadas. O retorno sobre o patrimônio líquido do BB é de 9,9% e o da Caixa, 6,5%. Os índices do Itaú e do Bradesco estão em 19,9% e 17,6%, respectivamente.

CORTES

O BB, que emprega 113 mil pessoas e tem mais de 5,4 mil agências, vai incentivar a aposentadoria de até 18 mil funcionários, fechar 402 filiais e transformar outras 379 em postos de atendimento. Com 110 mil empregados e 3,4 mil agências, a Caixa anunciou um plano de aposentadoria incentivada para tirar 11 mil funcionários da folha de pagamento, e estuda fechar 100 agências.

Se elevar os ganhos com uma estrutura inchada já era difícil, ficou ainda mais com a retração da economia. O volume de empréstimos despencou: a carteira de crédito de todo o sistema financeiro, que equivalia a 54% do PIB em setembro de 2015, caiu para 50,8% um ano depois.

“Os bancos precisam ganhar escala e ficar mais eficientes, principalmente agora que a rentabilidade caiu. Caiu porque há menos oferta de crédito, mais inadimplência, mais provisões contra calotes”, explica o consultor Roberto Luis Troster.

Luiz Satoru, professor do curso de Administração da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), observa que os bancos privados são mais ágeis e já vinham reagindo ao novo cenário. “Os bancos públicos terão que fazer uma cirurgia bariátrica para perder peso”, compara.

Apenas entre junho de 2015 e junho de 2016, o Itaú fechou 229 agências e o Bradesco, 142, sem contar a rede herdada do HSBC, que ficou estável nesse período. O próprio Banco do Brasil, sem muito alarde, eliminou 100 filiais nos mesmos 12 meses.

Especialistas destacam que a queda no número de locais de atendimento também está ligada à mudança de hábito dos correntistas. Um número crescente de clientes realiza quase todas as transações via internet e há tempos não põe os pés numa agência bancária.

Fatia dos bancos estatais no crédito saltou de 34% para 57% desde 2008

A participação de todos os bancos estatais no volume de empréstimos saltou de 34% em setembro de 2008 – às vésperas do estouro da bolha do crédito imobiliário nos EUA – para 56,7% em julho deste ano. Em seguida recuou um pouco, chegando a 56,5% em setembro. Nesses mesmos oito anos, o total de funcionários de BB e Caixa saltou de 166 mil para 223 mil.

Primeiro, os bancos públicos aproveitaram que os concorrentes privados bateram em retirada do mercado durante a crise financeira global de 2008/2009. Depois, entre 2012 e 2014, comandados por Dilma Rousseff, promoveram uma “guerra de juros” para baixar o custo do dinheiro.

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