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O Banco Central (BC) está numa encruzilhada. Insiste que vai cortar a inflação praticamente pela metade entre este ano e o final do próximo. Hoje, ela beira os 10% ao ano. Mas o BC afirma que termina 2016 em 4,5%, o centro da mete que ele mesmo se propôs a cumprir. Ocorre que não há um economista que considere a previsão viável. Nem analistas de mercado, nem economistas que um dia estiveram dentro da própria instituição dizem que isso seja possível.

Nesta semana, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC), se reúne para decidir justamente como vai perseguir essa meta. Precisa avaliar se eleva a Selic, a taxa básica de juros, hoje em 14,75%. O cenário é delicado. De um lado, a recessão, acompanhada de desemprego e queda da renda, se agrava. As pessoas compram menos e isso naturalmente vai reduzir a inflação. Mas, de outro, o dólar subiu demais e permanece instável, o que pressiona os preços.

O Estado ouviu três ex-presidentes e quatro ex-diretores do Banco Central. Também consultou projeções atualizadas de mais de 20 instituições financeiras. Numa atípica unanimidade, todos veem que a melhor estratégia para o BC é esperar.

“O BC não tem uma vida fácil”, diz o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C.Pastore & Associados. “A taxa de juros que está aí impede que a inflação faça uma escalada sem limites: tanto que estamos vendo uma inflação perto de 10%, mas é provável que vá a 6% no ano que vem”, diz. “Mas não vai a 4,5%, como diz o BC. Esse discurso é inconsistente.” O próprio BC já teria se dado conta e, internamente, estaria estudando como mudar o discurso e o prazo para cumprir a meta.

Na avaliação de Pastore e dos demais economistas, o BC não tem muito a fazer neste momento porque sofre os efeitos de uma espécie de círculo vicioso, alimentado muito mais pela política do que pela economia.

Fiscal. Para deter a inflação, o principal trunfo do banco é elevar os juros. Mas a alta estaria no limite. Ele precisa agora da ajuda do ajuste fiscal - que o governo gaste menos, reduza o volume de dinheiro que injeta na economia. Porém, o ajuste depende da aprovação de uma série de medidas no Congresso. Como governo e Congresso não se entendem, o ajuste empacou.

Para agravar, a crise política gerou uma incerteza tão grande sobre os rumos do Brasil que afetou o apetite dos investidores. Muitos tiram dinheiro do País, o que eleva o dólar. O dólar mais alto alimenta a inflação - e volta-se à origem do problema: o BC precisa do ajuste, que empacou na crise política, que leva à incerteza, que mexe com o câmbio, que eleva a inflação. “Com a dificuldade de implementar um ajuste fiscal profundo, o processo de ancorar as expectativas vai ser muito mais demorado”, diz Carlos Langoni, ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV.

O mais complicado neste processo é que o BC precisa ser cauteloso sem parecer leniente com a inflação, o que agravaria a situação da economia. “As inflações começam pequenas e depois vão aumentando”, diz Gustavo Loyola, também ex-presidente da instituição e sócio da Tendências Consultoria. “Se eu estivesse no BC seria bastante conservador. Não estou defendendo que o BC saia por aí como um míssil sem direção, elevando os juros. Mas ele não deve se comportar como se a briga com a inflação estivesse perdida. O Banco Central precisa ser o último a jogar a toalha.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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