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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ter um papel chave na estratégia de internacionalização da Vale do Rio Doce (CVRD) e no ousado projeto de compra da canadense Inco. Na sexta-feira, a Vale anunciou oferta de US$ 17,7 bilhões, em dinheiro, pela gigante canadense, líder mundial na produção de níquel. Se concretizada, a operação colocará a companhia brasileira no segundo lugar no ranking das maiores mineradoras do planeta.

O problema é que o mercado, especialmente no exterior, não aprovou a iniciativa da gigante brasileira, pelo menos em um primeiro momento. As ações da Vale caíram na sexta-feira, enquanto os analistas faziam as contas do impacto do endividamento que a mineradora brasileira deverá assumir se o negócio for fechado. Já o banco estatal foi na direção contrária a esta reação negativa, e deu mostras de que está de braços dados com a Vale na estratégia de globalização da companhia.

A empresa brasileira atingiu recentemente o invejável nível de "investment grade" concedido por várias agências internacionais, o que significa que a companhia é vista como porto seguro de investimentos. No entanto, duas das mais importantes agências de classificação de risco - que em última análise avaliam a capacidade das empresas de pagar suas dívidas - colocaram em revisão a atual classificação da Vale após o anúncio da oferta pela Inco.

A Fitch informou que, se a oferta da Vale tiver sucesso, a dívida da companhia subirá da casa de US$ 6 bilhões para algo em torno de US$ 25 bilhões. Já a Moody's colocou em revisão, para possível rebaixamento, a nota de emissor em moeda local e o "rating" em escala nacional da companhia. O exame da agência vai se basear na estrutura de capital da Vale após a compra e na sua capacidade de rolar as dívidas, enquanto a companhia já mantém ousados planos de expansão também no mercado interno em áreas como a siderurgia.

É justamente em relação às dúvidas dos investidores quanto ao endividamento da Vale que o papel do BNDES pode ser mais importante, já que o banco estatal se mostrou de portas abertas para ajudar a mineradora privada na sua estratégia.

Ao mesmo tempo que as agências globais de risco anunciaram que vêem o negócio com certa desconfiança, o presidente do BNDES, Demian Fiocca , afirmou que vê a estratégia com "bons olhos", não descartando um empréstimo à Vale em um segundo momento, já que a companhia já teria negociado recursos com investidores internacionais para a compra da canadense.

O banco estatal - que ainda hoje detém uma pequena participação no bloco de controle da mineradora através da BNDESPar - sinalizou que, mais à frente, teria condições de conceder à Vale bons empréstimos de refinanciamento da operação de compra da Inco, o que, em tese, poderia reduzir a avaliação negativa dos investidores internacionais em relação aos riscos de endividamento excessivo da mineradora brasileira.

O BNDES já tem sido um bom parceiro na estratégia de expansão dos negócios da empresa na área de mineração e, mais recentemente, em siderurgia, com aval de financiamentos bilionários para projetos de construção de novas usinas siderúrgicas da Vale no Maranhão e em Itaguaí (RJ), em parceria com grupos internacionais como o gigante alemão Thyssen Krupp.

A Vale também elegeu a expansão da Usiminas (onde detém 23% do capital) como prioridade e espera que a empresa seja líder do projeto de uma nova fábrica de placas no país.

Em grande medida, são os empréstimos oficiais liberados pelo BNDES para estes grandes projetos internos (geralmente com taxas e prazos de pagamento bastante generosos) que permitem à Vale - uma empresa privada desde 1997 - sonhar com passos larguíssimos lá fora.

Se a estratégia da mineradora e do banco estatal serão boas para o país, para os acionistas (incluindo os milhares de trabalhadores brasileiros que têm investimentos em fundos FGTS-Vale) ou para os credores da Vale, só o tempo dirá.

A Vale lucrou R$ 3,9 bilhões entre abril e junho, um recorde trimestral 12,2% maior que os R$ 3,5 bilhões apurados no segundo trimestre de 2005. No acumulado do primeiro semestre, a empresa lucrou R$ 6,1 bilhões, resultado 19,5% superior aos ganhos de R$ 5,1 bilhões do mesmo período de 2005. As exportações líquidas foram de US$ 4,4 bilhões, resultado 50,3% superior ao verificado no mesmo semestre de 2005. A companhia contribuiu com nada menos que 22,4% do superávit da balança comercial brasileira no primeiro semestre, de US$ 19,6 bilhões.

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